Terça-feira, 01 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 26 de julho de 2016
Já houve demissões, batidas de carro, términos de namoros, tropeços, tumultos, brigas e até uma morte acidental. O vício que mora dentro de um jogo para celular é apontado como o causador de tudo isso: o “Pokémon Go”, game em que os jogadores devem se deslocar fisicamente para capturar os monstrinhos, provoca euforia antes mesmo de ser lançado no Brasil. E divide a opinião de especialistas.
“As regiões cerebrais em que as drogas atuam são as mesmas em que o jogo atua. É a expressão máxima de uma nova droga, consome a energia, horários produtivos, contribui para um isolamento social e causa alienação”, preocupa-se o psiquiatra Rodrigo Fonseca Martins Leite, que diz que os efeitos dependem de cada um: “Como toda droga, tem aqueles que não se viciam, mas os efeitos podem ser muito nocivos para alguns”.
O médico diz que uma das explicações para o vício no game é sua atmosfera de desafio. “Você tem que capturar os pokémons e isso ativa a fase pré-histórica do homem, do seu instinto caçador”, explica Leite, que acrescenta que a outra razão está ligada à recompensa do prazer do jogo.
Quando o game deixa de ser uma diversão e se transforma em “jogo patológico” (isto é, vício em jogar), os sintomas são: abandonar outras atividades de interesse; inquietude ou irritabilidade quando para de jogar; mentir para familiares para esconder o envolvimento com o jogo; e isolamento social. Principalmente quando se trata de adolescentes, amigos e familiares devem ficar atentos.
“É muito comum que pessoas que já estão em estado compulsivo não percebam isso ou neguem a gravidade da situação”, relata a psicóloga Joyce Goulart Magalhães.
O tratamento para esse vício, dizem os especialistas, já é previsto pela literatura médica: terapia cognitivo comportamental e grupos de apoio, além de, em alguns casos, uso de medicamentos como antidepressivos.
Quando o jogo é benéfico.
Já a especialista em comportamento do usuário da web, Patrícia Andrade Ladeira, é otimista em relação ao game: ele pode combater o sedentarismo e até estimular relações sociais.
“O bom desse jogo é que ele desenvolve uma parte sensorial do cérebro. Embora esteja mergulhado em uma realidade aumentada, você vai para a rua, começa a interagir com outras pessoas que nem são seus amigos.”
Um hospital infantil de Michigan, nos Estados Unidos, apresentou às crianças o game e conseguiu dois grandes feitos: os pacientes saíram de seus leitos e interagiram entre si.
“O jogo pode ter esse potencial antidepressivo, a tecnologia ajuda a fazer amizades. Assim como teve um efeito positivo no hospital, também pode ser usado de forma positiva no dia a dia”, acredita Patrícia. “As pessoas ainda têm muito preconceito com a tecnologia, dizem ‘a criança não brinca mais de bola na rua’, mas é preciso entender que elas nasceram na tecnologia. A linguagem delas é essa.” (AG)