Domingo, 22 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 8 de dezembro de 2018
A futura chefe do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, tem uma filha indígena, é pastora pentecostal, contra o aborto e trabalha como assessora no Congresso Nacional há mais de 20 anos, sempre na órbita da bancada evangélica.
Ela considera que homens e mulheres não são iguais, que é preciso inserir os transexuais no mercado de trabalho e que o casamento homoafetivo é um direito adquirido. Também se define como “defensora dos indígenas” e que gostará de ter a Funai (Fundação Nacional do Índio) sob a sua tutela – atualmente, o órgão pertence ao Ministério da Justiça.
“A cada momento da minha vida, encontrei um grupo de crianças mais vulnerável que o outro”, frisou Damares em entrevista à imprensa. “Nasci no Paraná mas me criei entre Sergipe e Bahia, fui professora desde muito cedo. Depois segui para São Paulo para fazer a faculdade de Direito e continuei trabalhando, focada nas mulheres e nos menores dependentes químicos.”
Ela disse, ainda, ter sofrido agressão sexual aos 6 anos: “Tão logo comecei a trabalhar, decidi defender crianças, proteger os vulneráveis”, relata. “Sou educadora e pastora. Em 1991, tornei-me advogada e passei a usar o direito para buscar a proteção de direitos. Essa foi a minha história até vir para o Congresso Nacional, onde vim fazer essa abordagem nos bastidores com os parlamentares. No Legislativo, encontrei as crianças indígenas, que são uma causa especial para mim, assim como as crianças ciganas e os povos tradicionais.”
No que se refere à sua principal bandeira para o ministério, Damares responde: “Com toda a minha militância, a gente percebe que, na sociedade, temos os invisíveis, que são os ciganos, a mulher ribeirinha, a mulher seringueira, cortadora de cana, que cata siri, que quebra coco, que colhe açaí. Essas mulheres de mãos calejadas não estão no protagonismo e as políticas públicas nem sempre chegam nelas. Temos mais de um milhão de ciganos no Brasil. Esse povo é lindo, é incrível, e está invisível, sofre preconceito e discriminação”.
Damares também considera essencial manter diálogo com travestis que estão na rua, que está se prostituindo. “Será que está lá por opção, ou porque não ingressam no mercado de trabalho?”, questiona. “Eu gostaria muito de conversar sobre isso. Tenho encontrado travestis dotados de uma inteligência extraordinária e com o corpo machucado. Está na hora de a gente se perguntar por que, para o travesti, só sobra a prostituição. Por que não trazê-los para as universidades?”.
A futura ministra é contra a legalização da prostituição. “Prostituição não dignifica ninguém”, argumenta. “Não tenho nenhum problema com a prostituta, mas quem consome mulher na prostituição é um ‘predador’ e eu quero muito pensar nessa prostituta como um ser humano que precisa de dignidade. Elas sofrem, apanham na rua. O meu sonho é um mundo em que ninguém precise vender o corpo, que a mulher tenha o corpo respeitado.”
Sobre a questão da identidade de gênero, Damares considera “uma teoria furada, sem nenhuma comprovação científica” e que homens e mulheres são diferentes: “Isso eu tenho certeza. Mulher é mulher, homem é homem. É muito ruim dizer que somos iguais, porque eu não consigo carregar um saco de cimento nas costas, e o homem que está do meu lado não consegue fazer todas as coisas que eu faço ao mesmo tempo”.
Filha indígena
“Minha filha é índia, do povo Kamayurá, e está comigo desde os 6 anos”, ressalta. “É uma linda moça, uma princesa que está se preparando para o curso superior. Tem 20 anos hoje. Se tivesse nascido do meu útero, não era tão parecida comigo. Sempre recebo a família biológica dela em Brasília, nós vivemos bem e ela mantém a identidade cultural dela, se pinta, dança, canta, come formiga.”
No que se refere a uma flexibilização nas regras das reservas indígenas, Damares argumenta: “O problema é que quando se fala em índio só se pensa em terra. Não é por aí. Mas sim, sou a favor do índio poder ter um manejo sustentável em suas terras, existem excelentes programas de criação de peixe, de camarão.”
“Para sua sobrevivência, sim. Outra questão é a mineração em áreas indígenas, está sendo discutido no Congresso Nacional. Mas não aceito demarcar uma área enorme e deixar o índio solto, sozinho, sem ajuda para sustento, sem fiscalização. Quem quer ficar no mato, fica, quem quer ficar na cidade, pode ficar. Mas se me perguntar de que lado eu estou, eu estarei sempre do lado do índio. Sempre”, finaliza.