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Por Redação O Sul | 25 de maio de 2019
Seja como anacronismo sentimental ou como eterna essência do romântico, Roberto Carlos interrompeu na quinta-feira (23) um longo hiato de 25 anos sem se apresentar na Espanha para defender uma forma de cantar o amor preso em sutilezas, mesmo em tempos de reggaeton.
Aos 77 anos, um pouco mais que estrelas espanholas contemporâneas como Julio Iglesias, Raphael e José Luis Rodríguez, a lenda da música brasileira conseguiu reunir cerca de 8 mil pessoas no WiZink Center de Madri, a capacidade máxima, para sua única apresentação no país.
A razão da visita, intitulada “Amor sin límite” (2019), é seu último álbum, que se destaca em sua extensa discografia por ser seu primeiro de trabalho com canções inéditas em castelhano em um quarto de século.
No entanto, o novo trabalho só foi representado no show por “Esa mujer”, que gravou com Alejandro Sanz, uma vez que o cantor preferiu focar a apresentação em clássicos como “Emociones”.
Com o tradicional terno azul e camisa e sapatos brancos, como se Madri fosse por uma noite a Miami dos anos 1980, Roberto Carlos transformou o WiZink Center no ponto de encontro de todos aqueles que há mais de 30 anos (ou 40) cantam orgulhosos o amor lírico.
Mesmo que sua cabeleira não ostente a frondosidade de outrora e que a fluência dos seus movimentos delate os achaques do tempo, o cantor provou que mantém seu vínculo com o público espanhol e, o que é mais difícil, a contundência dos graves da sua voz (embora não tanto os agudos).
“Que prazer vê-los aqui na Espanha, em Madri! Obrigado por este carinho e amor, por essas coisas lindas que recebi de vocês desde que nasci. Sei disso há muito tempo, mas é uma alegria enorme depois de tantos anos sem vir. Muitas coisas aconteceram na minha vida, mas agora estou aqui e acho que vou voltar muitas vezes mais”, prometeu.
Apenas artistas melódicos com uma bagagem de 140 milhões de cópias vendidas no mundo todo podem se rodear de uma banda como a do brasileiro: duas coristas e 11 músicos, a metade deles para o naipe de metais, que brilhou em temas como a etérea “Qué será de ti” e, logo depois, “Cama y mesa”.
Nessa bolha “temposentimental” soaram outros grandes hits como “Desahogo” e a imprescindível “Lady Laura”, mas só depois que, ao violão e em um formato mais íntimo, interpretou “Detalles”, com especial ênfase nos seus versos finais: “Vas a acordarte de mí”.
“Falta falar de sexo”, comentou, lembrando um dia no qual se questionou se tinha tratado todos os ângulos do amor. Assim abriu caminho para um segmento de sensualidade protagonizado pela célebre e mais gráfica “Cóncavo y convexo”.
Na segunda metade do show, se destacaram canções como “El progreso” e sua visão idealizada de uma humanidade civilizada como os animais, e a melancólica “Un gato en la oscuridad”, sucesso que o transformou em ídolo nos países de língua espanhola, mas não estourou no Brasil.
“Se não a fiz em português é porque não entendia muito bem de que tratava”, se desculpou em uma de suas muitas brincadeiras, logo antes de iniciar a parte final com “La distancia” e uma versão de “El dia que me quieras”, de Carlos Gardel, e o bis no qual voltou a assinar com caráter vitalício esse pacto de conciliação mundial chamado “Un millón de amigos”.