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Por Redação O Sul | 19 de novembro de 2019
Preocupado com o avanço da Huawei, o governo dos Estados Unidos intensificou o lobby contra a entrada da companhia chinesa no mercado brasileiro de 5G. O leilão dessa nova tecnologia está previsto para o ano que vem. As informações são do jornal Folha de S.Paulo.
Representantes do presidente dos EUA, Donald Trump, têm aproveitado reuniões com autoridades brasileiras para levantar preocupações sobre a segurança dos equipamentos da Huawei, que estariam suscetíveis a ataques cibernéticos ou espionagem.
Ciente da ofensiva dos EUA, o novo presidente-executivo da Huawei no Brasil, Yao Wei, se reuniu com o presidente Jair Bolsonaro, no Palácio do Planalto, na segunda-feira (18).
Em outra frente, os americanos fizeram chegar a auxiliares de Bolsonaro o recado de que o aprofundamento da parceria na área de defesa depende de garantias de que as telecomunicações usadas pelo Brasil sejam confiáveis.
A chinesa é atualmente a maior fornecedora de equipamentos de rede de telefonia no mundo. Mais da metade das operadoras usa essa tecnologia.
Entre os dias 9 e 10 de outubro, o governo dos EUA enviou ao Brasil especialistas para apresentar a autoridades o CFIUS (sigla em inglês para Comitê de Investimento Estrangeiro). Esse órgão é presidido pelo Departamento de Tesouro e tem o poder de revisar investimentos estrangeiros que ameacem a segurança nacional. Também fazem parte desse comitê representantes dos Departamentos de Justiça, de Defesa e de Estado, entre outros.
De acordo com pessoas que acompanharam as reuniões, a ideia de replicar no Brasil essa estrutura foi apresentada à Casa Civil, ao GSI (Gabinete de Segurança Institucional) e aos Ministérios de Relações Exteriores e de Ciência e Tecnologia.
O GSI, comandado pelo general Augusto Heleno, é hoje o principal entusiasta da ideia no governo.
Embora não digam publicamente que a ação é destinada a impedir o avanço da Huawei no 5G, pessoas que acompanham o tema consideram que o alvo é a gigante de telecomunicações chinesa.
Um CFIUS brasileiro seria, por exemplo, uma saída legal para tentar bloquear a entrada da Huawei na instalação das redes de quinta geração.
Interlocutores ouvidos pela Folha também disseram que o governo dos EUA tem ressaltado que os projetos no país nas áreas de segurança e defesa precisam sempre levar em conta a confiabilidade das redes de telecomunicações.
Esse tema é especialmente sensível ao governo Bolsonaro, que recebeu em agosto a designação, por Trump, de aliado preferencial extra-Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte).
Em tese, essa condição dá ao Brasil acesso privilegiado à cooperação militar e à transferência de tecnologia com os americanos.
O integrante mais graduado do governo Trump a falar contra as chinesas no 5G foi o secretário de Comércio dos EUA, Wilbur Ross, que visitou Bolsonaro em agosto.
Procurada, a Embaixada dos EUA afirmou que a visita do grupo do CFIUS não foi motivada pelo debate sobre 5G no Brasil e que o assunto não foi discutido.
Em nota à Folha, o governo americano, porém, diz que a entrada dos chineses na área traz “implicações de segurança”.
“Permitir equipamentos de telecomunicações chineses em qualquer ponto de uma rede 5G cria um risco inaceitável para a segurança nacional, infraestrutura, privacidade e direitos humanos”, afirmou a missão diplomática.