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100 mil dólares por mulher: escândalo de influencer revela estratégias no lucrativo tráfico sexual

Ex-lutador prometia até casamento para atrair mulheres e explorá-las sexualmente. (Foto: Reprodução/Instagram)

O ex-lutador e influencer britânico Andrew Tate, que em 21 de fevereiro teve sua prisão estendida na Romênia por mais 30 dias, sustentava um estilo de vida extravagante no pequeno país do Leste Europeu por meio de um obscuro esquema de tráfico humano e exploração sexual de mulheres, segundo procuradores locais.

De acordo com detalhes do processo de 61 páginas revelados pela agência Reuters, Tate comandava uma rede de escravas sexuais para atuar em vídeos pornôs na plataforma de conteúdo adulto OnlyFans. As autoridades afirmam que seis vítimas ficaram em uma das propriedades de Tate e de seu irmão Tristan — que também foi preso — , onde eram forçadas a gravar vídeos pornográficos.

De acordo com relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT) de 2014, cada mulher explorada sexualmente gera um lucro estimado de US$ 100 mil por ano (R$ 509 mil) — valor quase cinco vezes maior que o de uma vítima de tráfico não-sexual (U$ 21.800 ou cerca de R$ 110 mil). Anualmente, o tráfico sexual movimenta cerca de US$ 99 bilhões (R$ 504 bilhões) ao redor do mundo.

Aliciamento

Tate era o principal responsável por atrair as vítimas através do chamado “loverboy method” (método do amante apaixonado, em tradução livre), afirmam os investigadores. A tática consiste em seduzi-las com falsas promessas de amor, conquistando sua confiança para convencê-las a ir até o local onde serão feitas reféns.

Sem qualquer pudor, Tate explicava como o método era uma das suas principais fontes de renda em seu website, omitindo a parte da violência física e psicológica que, segundo investigadores, era impetrada para forçar as mulheres a participarem dos vídeos.

“Como eu fiquei rico? Webcam… Comando um estúdio de webcam por quase uma década, já tive mais de 75 garotas trabalhando para mim, e meu negócio de modelos é diferente do de 99% dos donos de estúdios de webcam”, afirmava no site, acrescentando que “mais de 50% das minhas funcionárias são minhas namoradas no momento e, (…) nenhuma estava na indústria de entretenimento adulto antes de me conhecer”.

À Reuters, a porta-voz do OnlyFans, Sue Beeby, disse que Tate nunca teve uma conta de criador ou recebeu pagamentos. Segundo ela, a plataforma o monitorava desde o início de 2022 e tomou medidas proativas para impedi-lo de postar ou monetizar conteúdo, sem detalhar como isso foi feito e por quais motivos.

Love bombing

Para Daniele Boggione, ativista e fundadora do canal no YouTube “Sobrevivendo na Turquia”, que apresenta relatos de vítimas reais de tráfico humano, é comum no aliciamento a criação de um laço de confiança com a vítima. Ela explica que, quando isso é feito por meio da abordagem romântica, os aliciadores apelam para o “love bombing” (bombardeio de amor, em tradução livre), cuja manipulação é baseada em “demonstrações de atenção e afeto fora do comum”. De acordo com um relatório da ONU sobre tráfico de mulheres e meninas de 2022, em 13% dos casos o aliciador tem um relacionamento romântico com a aliciada.

O relatório das Nações Unidas também revela o impacto da tecnologia para essas organizações criminosas. Nos EUA, os canais de denúncia de tráfico humano registraram, em 2020, um aumento de 120% de vítimas em potencial que foram abordadas pelas redes sociais e aplicativos de relacionamento. Já para a exploração, o documento afirma que a internet é usada para facilitar a venda de serviços que as vítimas são obrigadas a oferecer.

Relatório

Análises do disque-denúncia americano para tráfico humano também mostram que, em 2019, a pornografia foi a terceira atividade mais comum no tráfico sexual, atrás apenas dos serviços de acompanhante e casas de prostituição.

Em 2020, para cada 10 vítimas de tráfico humano no mundo, cerca de quatro eram mulheres adultas e duas eram menores. O tráfico sexual foi uma das formas mais comuns de exploração registradas e, entre as vítimas aliciadas para esse fim, cerca de dois terços eram mulheres e um quarto era de meninas menores de idade, informou a ONU.

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