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Por Redação O Sul | 24 de julho de 2022
A Ucrânia prossegue com esforços para retomar as exportações de grãos de seus portos do Mar Negro sob um acordo destinado a aliviar a escassez global de alimentos, mas alertou que as entregas pode ser prejudicadas, caso mísseis russos atinjam Odessa.
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskiy, denunciou o ataque de sábado (23) como uma “barbárie” que mostrou que não se pode confiar em Moscou para implementar um acordo selado apenas um dia antes com mediação da Turquia e da Organização das Nações Unidas (ONU).
Militares ucranianos, citados pela emissora pública Suspilne, disseram que os mísseis russos não atingiram a área de armazenamento de grãos do porto nem causaram danos significativos. Kiev disse que os preparativos para retomar os embarques de grãos estão em andamento.
“Continuamos os preparativos técnicos para o lançamento das exportações de produtos agrícolas de nossos portos”, disse o ministro da Infraestrutura, Oleksandr Kubrakov, em um post no Facebook.
Segundo os militares ucranianos, dois mísseis Kalibr disparados de navios de guerra russos atingiram a área de uma estação de bombeamento no porto e outros dois foram abatidos pelas forças de defesa aérea.
A Rússia disse neste domingo que suas forças atingiram um navio de guerra ucraniano e um armazém de armamentos em Odessa com mísseis de alta precisão.
O acordo assinado por Moscou e Kiev na sexta-feira foi saudado como um avanço diplomático que ajudaria a conter a disparada global dos preços dos alimentos, restaurando os embarques de grãos ucranianos para 5 milhões de toneladas por mês, nível anterior à guerra.
Mas o assessor econômico de Zelenskiy alertou hoje que o ataque a Odessa sinalizava que isso poderia estar fora de alcance.
Oleh Ustenko disse que a Ucrânia pode exportar 60 milhões de toneladas de grãos nos próximos nove meses, mas caso as operações de seus portos sejam afetadas, isso levaria até 24 meses.
Escassez de grãos
A Ucrânia é o quarto maior exportador de grãos do mundo. Produz 42% do óleo de girassol do mundo, 16% do milho e 9% do trigo. Além disso, as remessas de trigo da Rússia – o maior exportador mundial – tiveram queda.
As sanções impostas por potências ocidentais não têm a agricultura russa especificamente como alvo – navios russos que transportam produtos agrícolas não estão impedidos de entrar nos portos da União Europeia.
Mas o Kremlin argumenta que elas prejudicaram as exportações com a elevação das taxas de seguro e barreiras para os pagamentos.
A Ucrânia e a Rússia fornecem mais de 40% do trigo da África, diz o Banco Africano de Desenvolvimento.
Mas a guerra foi responsável por uma escassez de 30 milhões de toneladas de alimentos no continente. Isso contribuiu para um reajuste de 40% nos preços de comida.
Na Nigéria, o aumento de produtos como marcarrão e pão chegou a 50%.
O Iêmen, um país que enfrenta uma crise humanitária, normalmente importa mais de 1 milhão de toneladas de trigo por ano da Ucrânia. A queda na oferta da matéria-prima entre janeiro e maio fez o preço da farinha no Iêmen subir 42% e o pão, 25%, diz a ONU.
Na Síria, outro grande importador de trigo ucraniano, o preço do pão dobrou. Os preços internacionais do trigo caíram após a notícia do acordo.
No entanto, Laura Wellesley diz que as remessas de grãos liberadas dos portos da Ucrânia precisam ser significativas para aliviar a situação de muitos países do Oriente Médio e da África.
“Isso aumentaria ainda mais o preço do pão nesses países, o que causaria uma grande agitação social”, diz ela.