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Nike diz que falha no sistema permitiu “Jesus” e barrou “Exu” em customização da camisa da Seleção Brasileira

A empresa contou que “não permite customizações com palavras que possam conter qualquer cunho religioso, político, racista ou mesmo palavrões”. (Foto: Divulgação)

Há alguns dias, quando a nova camisa da Seleção Brasileira foi lançada, chamou atenção que a customização da camisa não poderia conter nomes de políticos. A empresa contou que “não permite customizações com palavras que possam conter qualquer cunho religioso, político, racista ou mesmo palavrões”.

Dias depois, o tema voltou à tona. Dessa vez, por permitir que palavras como “Jesus” e “Cristo” possam ilustras as camisas, mas outra como “Exu” e “Ogum”, duas entidades cultuadas em religiões afro-brasileiras, não.

Procurada, a Nike informou que aconteceu um erro no sistema. E que “a falha que permitiu a customização de algumas palavras de cunho religioso está sendo corrigida”.

A empresa voltou a frisar que “não permite customizações com palavras que possam conter qualquer cunho religioso, político, racista ou mesmo palavrões” e que o “sistema é atualizado periodicamente visando cobrir o maior número de palavras possíveis que se encaixem nesta regra”.

Conotação política

Se para alguns chega a soar óbvio chamar a amarelinha de símbolo nacional, outros não conseguem vê-la assim atualmente. Utilizada com frequência por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro – e pelo próprio – em eventos com mensagens antidemocráticas, a vestimenta ganhou conotação política. A menos de 100 dias do início da Copa, a CBF e seus parceiros deram início a um movimento de ressignificação para tentar fazê-la voltar a ser vista como de todos. Resta saber se haverá tempo hábil.

Uma das iniciativas foi o próprio lançamento dos novos modelos. Ao se referir à camisa da seleção, o texto de apresentação diz que ela “representa mais de 210 milhões de brasileiros”. O vídeo de divulgação conta não só com jogadores que vêm sendo convocados por Tite utilizando as peças como outros atletas e personalidades. Entre elas, o rapper Djonga, que se posiciona publicamente como de esquerda, já declarou voto em Lula e, como fã de futebol, já vinha defendendo a pauta do resgate da amarelinha.

“Com essa camisa aqui é mais gostoso ouvir vocês gritando (‘Fora, Bolsonaro’). Porque os caras acham que tudo é deles”, declarou o rapper durante uma apresentação em abril.

O lançamento da camisa também contou com nomes que não se posicionam publicamente e com quem já se manifestou contrário aos petistas em eleições passadas. É o caso do ex-jogador Ronaldo Fenômeno e do corredor e ex-BBB Paulo André. Ou seja: houve um cuidado na escolha dos personagens para que a peça não ficasse associada a um único espectro.

“Do ponto de vista mercadológico, a associação não interessa à fabricante. Por razões óbvias. Fazer isso significa limitar o número de compras possíveis. Se alguém tem uma ideologia contrária (a de quem se apropriou) não vai querer comprá-la”, diz Ivan Martinho, professor de marketing esportivo da ESPM.

Já a Ambev, uma das principais patrocinadoras da CBF, foi ainda menos sútil ao abordar o tema. Através da marca de cerveja Brahma, a ação funciona como uma espécie de manifesto pela despolitização. Em vídeo, o texto lido por Galvão Bueno diz que “independentemente das nossas diferenças fora de campo, chegou a hora de lembrar o significado original dessa camisa”.

“A Brahma sempre acreditou muito que existem mais coisas que nos unem do que nos separam”, afirma Daniel Wakswaser, vice-presidente de marketing da Ambev. “Nossa missão sempre foi unir os brasileiros através das paixões nacionais: o carnaval, o churrasco, a música, o futebol. Agora, faltando quase 100 dias para a Copa, o sentimento que a gente ouviu é que, independentemente das diferenças fora de campo, as pessoas querem torcer pela seleção, gritar gol com a amarelinha, sentir o maravilhoso clima de uma Copa.”

As iniciativas nascem com atraso. A apropriação da camisa da seleção por movimentos de direita e extrema-direita começou nas manifestações de junho de 2013 e foi se consolidando nos anos seguintes. A CBF passou a ter interesse nesta despolitização a partir da gestão atual, eleita este ano. Sob a presidência de Rogério Caboclo, afastado do comando em 2021, a entidade nunca procurou tratar desta questão.

A CBF tem feito manifestações sutis para tentar não se associar com correntes políticas. Há um ano no poder (somados o tempo como interino e efetivo), o atual presidente, Ednaldo Rodrigues, por exemplo, ainda não se encontrou com Bolsonaro – e não pretende fazê-lo.

A CBF deve fazer ações para tentar despolitizar o uso da camisa da seleção, mas só após a eleição. De acordo com um entendimento interno, fazer isso antes do pleito seria um erro porque poderia politizar ainda mais a questão, o que é justamente o oposto do desejado.

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