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Variedades “15 minutos de fama” em clipe e “demitida por Piqué”: babá dos filhos de Shakira ilustra luta de domésticas imigrantes

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Trajetória de Liliana Melgar reflete a de milhões de trabalhadoras cujas condições pioraram após a pandemia de covid. (Foto: Reprodução de vídeo)

A história de Liliana Melgar, uma migrante boliviana que partiu para Espanha há 15 anos, reflete a trajetória de milhões de trabalhadoras domésticas como ela, que limpam, lavam, cozinham e cuidam de crianças em lares em todo o mundo. Só que Liliana trabalha na casa de Shakira, a estrela colombiana.

O último videoclipe da artista, “El Jefe” (“The Boss”), com a participação da banda mexicana Fuerza Regida, retrata a vida de imigrantes pobres com grandes sonhos, que trabalham para maus empregadores, que ganham muito dinheiro, que nunca chega a eles.

Perto do final do clipe de três minutos, Liliana faz uma aparição enquanto Shakira canta: “Lili Melgar, essa música é para você porque você nunca recebeu indenização”.

A funcionária teria sido demitida pelo ex-parceiro da cantora Gerard Piqué, jogador de futebol espanhol, antes de ser recontratada por Shakira. Segundo o “La Vanguardia”, Piqué demitiu babá ao descobrir que ela havia dado a ex informações que teriam permitido que a artista descobrisse sua infidelidade com Clara Chía.

Liliana foi colocada sob um holofote inesperado e trouxe à tona o contexto dos cerca de 76 milhões de trabalhadores domésticos em todo o mundo.

Os trabalhadores domésticos desempenham um papel particularmente crucial nos agregados familiares em toda a América Latina e no Caribe, onde cerca de 1 em cada 5 mulheres empregadas são trabalhadoras domésticas, de acordo com a Organização Internacional do Trabalho, a segunda taxa mais elevada do mundo depois do Oriente Médio.

A participação especial de Liliana no vídeo, que foi transmitido mais de 57 milhões de vezes no YouTube, é uma espécie de justificativa após a perda de seu emprego – exaltada por uma chefe famosa e rica. Mas o caso dela é uma exceção ao das trabalhadoras domésticas nos últimos anos.

Antes do início da pandemia do coronavírus, em 2020, os trabalhadores domésticos na maioria dos países da América Latina e do Caribe tinham adquirido novos direitos que estabeleciam limites às horas de trabalho semanais, estabeleciam salários mínimos, criavam incentivos para os empregadores assinarem contratos de trabalho e impunham limites de idade.

Mas a pandemia, que destruiu as economias de toda a região, atingiu os trabalhadores domésticos, fazendo com que muitos deles perdessem os seus empregos. A indústria não se recuperou totalmente.

“Para nós, parece que ainda estamos vivendo a covid”, disse Ernestina Ochoa, de 53 anos, trabalhadora doméstica em Lima (Peru), que ajudou a fundar o Sindicato Nacional de Trabalhadores Domésticos. “Se você teve seu salário reduzido, nunca mais foi aumentado.”

Muitos dos direitos que os trabalhadores domésticos conquistaram antes da pandemia estavam enraizados numa onda inicial de novas leis na Bolívia, no Peru, no Uruguai e na Colômbia, liderada por trabalhadores que organizaram sindicatos.

“Fundamentalmente, o trabalho doméstico remunerado é um trabalho que existe em sociedades com elevada desigualdade econômica”, disse Merike Blofield, professora de ciências políticas na Universidade de Hamburgo, na Alemanha, e especialista em trabalhadores domésticos na América Latina.

O acesso ao trabalho doméstico é um dado adquirido “se você nasceu em uma classe rica”, acrescentou ela.

Embora a maioria dos governos da região tenha ratificado acordos internacionais que garantem os direitos laborais dos trabalhadores domésticos, os defensores da classe dizem que a pandemia enfraqueceu a responsabilização dos empregadores que violaram as leis. Em alguns casos, as empregadas domésticas foram impedidas de sair das casas onde trabalhavam por receio de contraírem a covid e transmiti-la às famílias dos seus empregadores.

As taxas de empregados que trabalham sob um contrato assinado e são elegíveis para benefícios e proteção governamentais — um processo conhecido como formalização — são desiguais em toda a região. Um estudo de 2020 da Organização Internacional do Trabalho concluiu que, embora o Uruguai tivesse uma taxa de formalização de 70% entre os trabalhadores domésticos, a taxa em muitos países da América Central e do Caribe era inferior a 10%.

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