Sexta-feira, 29 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 17 de julho de 2023
A aviação brasileira mudou depois de 17.07.2007
Foto: ReproduçãoEsta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
Eu nunca imaginei que o dia 17 de julho de 2007 pudesse mudar radicalmente a minha vida, tanto profissional como no modo de encarar as coisas. Depois dessa data, a minha vida ingressou para outro mundo! O mundo dos familiares das 199 famílias, que perderam seus entes queridos no voo TAM JJ 3094, que partiu na tarde de uma terça-feira chuvosa, por volta de das 17h40, com destino ao aeroporto de Congonhas/SP.
Devido a fatores climáticos, pista sem grooving (ranhuras que fazem o avião aderir mais na pista) e uma manobra imperfeita, o Airbus 320 acabou atravessando a pista e colidiu com o prédio de cargas da própria Cia. Após o choque, o avião explodiu e ardeu em chamas, matando 199 pessoas, sendo 12 em terra.
Durante dois anos e meio, participei de reuniões dos familiares das vítimas, que fundaram a AFAVITAM (Associação de Familiares e Amigos das Vítimas do Voo TAM JJ 3054), que ocorriam no auditório de um hotel, bem próximo ao aeroporto de Congonhas.
Nessas reuniões, que tinha a frequência de dois fins de semanas por mês, os familiares usavam camisetas brancas, com o rosto e nome de seu ente querido falecido na parte da frente da blusa. Eram quase 200 pessoas!
Sempre me emocionava com os depoimentos dos familiares, os relatos de filhos que perderam seus pais, de esposas que perderam seus maridos, e assim por diante.
Percebi que os meus problemas eram insignificantes perto daquelas pessoas. Mas, sem dúvida, o que mais marcou foi a união dessas famílias, o modo como dividiram seu luto e enfrentaram a perda, mostrando que o ser humano unido pode se reinventar, e a fundamental importância da resiliência para sobreviver.
A aviação brasileira mudou depois de 17.07.2007, com a colocação de maior aderência nas pistas de todos os grandes aeroportos do país, com a junção de um sistema de redução da velocidade das aeronaves na hora do pouso. O próprio comprimento da pista, do aeroporto de Congonhas, foi alterado, permitindo um espaço para um possível escape, dentre outras alterações.
A própria cia aérea TAM foi vendida ao grupo chileno e passou a se chamar Latam. O fabricante da aeronave, Airbus, alterou o sistema de frenagem de suas aeronaves depois do acidente.
No entanto, o maior acidente aéreo da aviação brasileira (livro que escrevi) jamais será esquecido, pois, além do Memorial em Congonhas, com o nome das vítimas, a união das famílias para vencerem o luto e se reinventarem, será eterna para quem, como eu, teve essa experiência de convivência.
Eduardo Lemos Barbosa
Presidente da Comissão Nacional de Responsabilidade Civil do CFOAB
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.