Segunda-feira, 18 de novembro de 2024
Por Fabiana Guntovitch | 18 de maio de 2024
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
No dia 18 de maio, voltamos nossa atenção para a campanha nacional de Combate ao Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes. De acordo com o boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, entre 2015 e 2021 foram registrados 202.948 casos de violência sexual contra crianças e adolescentes no Brasil, sendo 83.571 contra crianças e 119.377 contra adolescentes.
Os números, já alarmantes, são ainda subnotificados devido à complexidade da situação, ao medo, à vergonha e ao pacto de silêncio que envolve as vítimas e suas famílias. Por acontecerem repetidas vezes e, na maioria dos casos, em ambientes onde as crianças deveriam se sentir mais acolhidas e protegidas, como em casa ou com a família, esse tipo de violência provoca na vítima uma sensação de impotência, insegurança e desvalor.
Atualmente, menos de 10% dos casos chegam às instâncias da saúde e da Justiça, especialmente os que envolvem meninos, quando o preconceito é ainda maior. Quanto aos possíveis traumas deixados pelo abuso, há consequências profundas da falta de tratamento e amparo às vítimas.
O abuso sexual transforma a criança em objeto, desconsiderando sua existência como ser humano com sentimentos, direitos e a necessidade de uma infância segura. Esse trauma deixa marcas profundas, levando a vítima a acreditar que não merece ser protegida e que sua voz não é ouvida. As consequências incluem dificuldades de relacionamento, problemas de confiança, ansiedade extrema, episódios de depressão e transtornos de personalidade.
Em estudos levantados sobre o tema, como “Abuso sexual infantil e consequências na vida adulta: uma revisão sistemática” (OLIVEIRA, A. J. de.; SILVA, C. G. da.; FERRO, L. R. M.; REZENDE, M. M.), também é possível dizer que as vítimas de abuso podem enfrentar dificuldades para dormir, mudanças alimentares, pensamentos e tentativas de suicídio, autoflagelação, hiperatividade, depressão, baixa autoestima, ansiedade, isolamento, masturbação compulsiva, problemas de identidade sexual, uso de álcool e drogas e dificuldades em desenvolver vínculos saudáveis.
É responsabilidade de toda a sociedade proteger nossa crianças e adolescentes. Precisamos criar coragem para olhar esse problema de frente, ainda que isso seja desconfortável. Seguir fazendo de conta que não acontece é omissão, é compartilhar e replicar o pacto de silêncio promovido pelo abusador. As vítimas precisam poder falar abertamente sobre a violência que sofrem, sem se sentirem julgadas ou envergonhadas. A sociedade precisa acolher, escutar com amor e se conscientizar sobre a gravidade deste problema para, assim, salvar vidas.
(Fabiana Guntovitch, psicanalista, especialista em comportamento feminino)
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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