O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), afirmou que o pacote de corte de gastos do governo está finalizado, dependendo apenas de ajustes com o Ministério da Defesa. Segundo Haddad, o conjunto de medidas, aprovado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, está em conformidade com o planejado pela equipe econômica.
As declarações foram dadas em entrevista ao canal CNBC Brasil, exibida na noite do último domingo (17). O ministro destacou que é natural que titulares de outras pastas pressionem para que os recursos de suas áreas sejam preservados. “Fui ministro da Educação e também já fiz reclamações. Cada ministério defende sua agenda, mas o que estamos fazendo é para que todos possam crescer juntos. O pior cenário seria disputar fatias de um bolo que não cresce.”
A expectativa pelo anúncio do pacote de cortes do governo veio acompanhada de tensões na Esplanada dos Ministérios. Além da Defesa, dois ministros — Luiz Marinho (Trabalho) e Carlos Lupi (Previdência) — chegaram a declarar, em entrevistas, que poderiam deixar os cargos caso os cortes afetassem programas sociais ou direitos.
Na entrevista, Haddad também defendeu a necessidade de ajustar as contas públicas para assegurar a sustentabilidade e a credibilidade do novo arcabouço fiscal.
Jornais divulgaram na semana passada que o pacote de cortes de gastos elaborado pela equipe econômica deve ter um impacto de cerca de R$ 70 bilhões nas contas públicas nos primeiros dois anos. Os números, no entanto, ainda não foram confirmados.
De acordo com informações do Valor Econômico, Haddad adiantou a alguns congressistas que as medidas podem poupar cerca de R$ 70 bilhões em dois anos, sendo R$ 25 bilhões a R$ 30 bilhões em 2025 e R$ 40 bilhões em 2026.
O Bradesco BBI aponta que, para que as expectativas do mercado comecem a se reancorar e abram espaço para futuros cortes de juros, é fundamental que o governo adote um plano de ajuste fiscal potente e estrutural. Entre as medidas mais aguardadas, estão cortes de gastos e reformas estruturais que aprofundem a regra fiscal.
Esse processo, segundo o banco, é visto pelo mercado como um fator decisivo, mas essa perspectiva fiscal permanece envolta em incertezas, com especialistas do BBI destacando que uma decepção nas ações do governo poderia aprofundar a crise de confiança, elevando as taxas de juros, enfraquecendo o real e afastando investidores estrangeiros, que atualmente possuem boas posições no mercado brasileiro.
O relatório indica ainda que os cortes de juros e um desconto antecipado do risco político levando em conta as eleições presidenciais de 2026 são dois dos principais motores de 2025, mas ambos dependem de uma âncora fiscal confiável. O banco atribui uma probabilidade de 70% para um cenário em que o governo adote um ajuste positivo, com cortes de gastos e reforma fiscal.
Essa combinação, dizem os analistas, é considerada fundamental para sustentar uma redução nos juros ao longo do próximo ano. No entanto, há desafios consideráveis: a necessidade de aprovação no Congresso e o risco de atrasos na execução tornam essa uma situação binária — com potencial de sucesso, mas também com alto risco de fracasso.