Quinta-feira, 20 de fevereiro de 2025
Por Carlos Roberto Schwartsmann | 19 de fevereiro de 2025
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
“Querido Doutor, desculpa o desabafo, volto a procurar um médico igual ao Senhor sem encontrar. O senhor, meu doutor querido, me atendia de avental branco com o símbolo da medicina no braço.
Estava sempre limpo, perfumado e de sapato engraxado. Fiquei muito triste quando se aposentou e deixou de clinicar.
Agora procuro um novo médico.
Que difícil! Será que ele vai entender a minha angustia? Lembro que até com o senhor nosso primeiro encontro foi estressante e apreensivo! Não queria ouvir uma noticia ruim! (É normal né?)
Será que ele vai gostar de mim? Será que ele será atencioso? Será que vai pedir muitos exames? Será que vai doer?
Recentemente conheci um novo médico.
Confesso que gostei dele. Parece um doutor de verdade, dos antigos. Gosto das pessoas que olham nos olhos e não daqueles que ficam escondidos atrás do computador. Os olhos estavam bem abertos e me ouvia com atenção.
Falei dos motivos que me levaram a consultar, mas ele quis saber mais. Onde morava e com quem! (Tem importância?!!)
Se os meus pais ainda estavam vivos? Do que faleceu meu pai? E até meu avô.
Quis saber todas minhas doenças prévias (será que é importante?) Quis saber até quais remédios que tomo diariamente.
Quis saber minhas cirurgias prévias e até como eu durmo? E quantas horas? Se urino e evacuo bem? (Claro que sim!)
Antes de me examinar percebi que seguia, igual ao senhor, os conselhos de Hipócrates que mesmo vivendo antes de Cristo proferiu: “ O segredo desta arte é ouvir e tocar”
Em poucos minutos fiquei mais calma e menos ansiosa.
Fiquei tranquila.
Também fiquei surpresa quando verificou minha pulsação. Provavelmente acelerada mas prevísivel pela nova situação. Até auscultou meu tórax, pediu para puxar o ar pelo nariz e expelir pela boca. Pediu até para dizer a palavra 33: (isso ainda existe?!) Será que estava sonhando? Verificou com o esfigmomanômetro minha pressão.
Pediu para levantar os braços. Mobilizou minhas pernas, testou minha força muscular. Verificou meus reflexos dos braços e pernas. Palpou minha barriga!
Quando me examinou de perto senti seu perfume, seu calor.
Foi ai que constatei que aquele médico também era de carne e osso.
Também era humano!
Querido doutor, acho que agora encontrei um novo médico que possa substitui-lo na sua altura e grandeza.
Muito obrigada doutor.
(Carlos Roberto Schwartsmann – Médico e Professor universitário – schwartsmann@gmail.com)
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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