Segundo partido com mais prefeituras conquistadas neste ano, o MDB já trava uma queda de braço interna, após as eleições municipais, sobre qual será seu posicionamento na disputa presidencial de 2026. Uma ala mais próxima ao ex-presidente Jair Bolsonaro, que tem entre seus representantes os prefeitos reeleitos de São Paulo, Ricardo Nunes, e de Porto Alegre, Sebastião Melo, defende que o partido não apoie uma eventual candidatura à reeleição do presidente Lula. Caciques do partido na região Nordeste, por outro lado, querem marchar com o PT e já sugerem até eventuais substitutos, caso Lula não concorra a um novo mandato.
Reeleito em São Paulo, maior colégio eleitoral do País, e onde o MDB não vencia uma eleição desde a redemocratização, Nunes defendeu, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, que seu partido fique fora do palanque de Lula em 2026. O MDB ocupa três ministérios no governo federal, inclusive com a ex-senadora Simone Tebet, presidenciável do partido em 2022, e que assumiu a pasta do Planejamento após apoiar o candidato do PT no segundo turno.
A posição de Nunes encontra eco em Sebastião Melo, reeleito em Porto Alegre, a cidade mais populosa vencida pelo MDB depois da capital paulista. Ao jornal O Globo, Melo disse que “seria incoerente” dar seu apoio ao PT em 2026, depois de um segundo turno em que mostrou uma série de divergências programáticas com a petista Maria do Rosário na capital gaúcha.
Ele defendeu ainda que o partido tem “vários bons quadros” e que discuta lançar novamente candidatura própria, mas afirmou que Tebet “perdeu capital” ao embarcar no governo petista:
“Tenho muito respeito pela Simone, mas acho que o partido não deveria ter ido para a campanha (de Lula). Depois participaram do governo, não a meu gosto. Em 2026, entendo que o MDB não deve estar com o PT. Se isso acontecer, vai nos dividir de novo, e essa decisão não será seguida por mim. Estarei em um campo da centro-direita, e mesmo se o MDB não estiver na liderança desse projeto, não apoiarei o PT.”
Divergência
Melo e Nunes, que conversaram sobre o assunto após suas vitórias, divergem sobre o caminho a ser seguido na oposição ao PT. O prefeito de Porto Alegre, ao listar as vitórias do partido e a possibilidade de candidatura própria, enalteceu a força do MDB no Pará, onde a sigla venceu na capital, Belém. O resultado fortaleceu o governador Helder Barbalho (MDB), cujo irmão, Jader, é ministro das Cidades do governo Lula. Aliado do petista, Helder oscilou entre as candidaturas de Lula e de Tebet em 2022.
Nunes, por sua vez, afirmou que pretende apoiar uma candidatura presidencial do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), ou de Bolsonaro daqui a dois anos. Há entraves, porém, aos dois projetos: enquanto Bolsonaro está inelegível, Tarcísio avalia tentar a reeleição no Estado.
Já em Estados como Bahia, Ceará e Rio Grande do Norte, lideranças do MDB defendem o alinhamento com o PT em 2026. Nos três casos, o MDB compôs chapas alinhadas a governadores do PT, e mira composições daqui a dois anos com espaços em candidaturas majoritárias a nível estadual.
Na Bahia, por exemplo, o partido tem o vice-governador Geraldo Jr. (MDB), que concorreu à prefeitura de Salvador coligado ao PT. Apesar de amargar um terceiro lugar na capital baiana, o partido elegeu 31 prefeitos no estado, o dobro do que havia conseguido em 2020, antes da aliança petista, e trabalha para manter Geraldo na chapa à reeleição de Jerônimo Rodrigues (PT).
“É natural que Ricardo (Nunes) fale em apoiar Tarcísio. É um gesto de lealdade com quem o apoiou. Também defendo que sejamos leais a quem nos corresponde, e por isso apoiarei Lula em 2026 e trabalharei por sua reeleição”, afirmou o ex-ministro Geddel Vieira Lima, influente no MDB baiano.
Situação similar ocorre no Rio Grande do Norte, onde o MDB compôs em 2022 a chapa da governadora petista Fátima Bezerra, reeleita tendo Walter Alves como vice. Ele é filho do ex-senador Garibaldi Alves (MDB), que dividiu palanque com Lula em uma visita recente do presidente a Natal, para declarar apoio à candidata do PT à prefeitura, Natália Bonavides. Walter se articula para concorrer ao governo estadual em 2026, junto do PT.
No Ceará, o deputado federal Eunício Oliveira (MDB) não só reafirmou apoio a Lula em 2026, como também declarou em entrevista ao jornal O Povo, que o ministro da Educação e ex-governador Camilo Santana (PT) seria a melhor opção para sucedê-lo na Presidência.
“O MDB sempre foi um partido de centro para a esquerda, nunca de direita. Lula querendo ser candidato à Presidência, terá integralmente nosso apoio. Se não for candidato, naturalmente o substituto é o Camilo Santana. (…) Vou trabalhar muito para que essa aliança se consolide, de Camilo com alguém do MDB, do PT com o MDB (em 2026)”, afirmou Eunício.