A Fundação Bienal do Mercosul promove, entre os dias 16 e 18 de outubro, mais um seminário preparatório da 11ª Bienal do Mercosul, agendada para o primeiro semestre de 2018, na Capital. Os encontros oportunizarão a todos organizadores e evolvidos o aprofundamento e discussão sobre os desdobramentos culturais e artísticos do “Triângulo do Atlântico”. O colóquio será coordenado pela diretora Maria Lúcia Kern, Professora de História da Arte na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, onde ocorrerá o evento.
Abaixo, resumo os conteúdos a serem discutidos no Colóquio intitulado “O Triângulo do Atlântico e as Artes Visuais”:
16 de outubro:
19.00h. Abertura com o filme de Alain Resnais “As estátuas também morrem”, relativo às esculturas africanas e às suas perdas de funções com a colonização e apropriação das mesmas por artistas modernos europeus e a constituição de acervos museológicos. (O filme foi reduzido a 20 minutos)
19,30h. Palestra da Profa. Dra. Ana Lúcia Araújo da University Howard (Washington)
O novo atlântico negro: história e memória do comércio de escravizados nas obras de Laura Facey, William Adjeté Wilson e Romuald Hazoumé
Durante as últimas duas décadas, os trabalhos de artistas contemporâneos europeus, africanos e americanos revelam um interesse cada vez maior pelo tema da escravidão e do comércio de escravos. Se esse interesse se desenvolveu de maneira paralela a um fenômeno mais abrangente de patrimonialização da escravidão nas antigas sociedades envolvidas no comércio atlântico de escravos, as instituições artísticas internacionais tais como a Bienal de Veneza e a Documenta de Kassel cada vez mais têm incluído trabalhos de artistas africanos e afrodescendentes em suas edições.
Tendo como horizonte esse fenômeno internacional que tem colocado atrocidades humanas como a escravidão em evidência na esfera pública, essa palestra examina os trabalhos de Laura Facey, William Adjeté Wilson e Romuald Hazoumè. Estabelecidos respectivamente na Jamaica, na França e na República do Benim, os três artistas exploram em seus trabalhos a tragédia e o trauma gerados pelo comércio atlântico de escravos e seus legados atuais, ao mesmo tempo ressaltando problemas importantes do diálogo entre história e memória.
20.45 h. Palestra do Prof. Dr. Roberto Conduru da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).
Fluxos da arte em marés da modernidade entre África, Brasil e além.
A apresentação focará em duas séries fotográficas: Les Demoiselles de Porto Novo, produzida pelo artista beninense Leonce Raphael Agbodjélou em 2010, e a documentação da arquitetura agudá feita pelo antropólogo brasileiro Milton Guran, em 2009 e 2010. A partir delas serão mobilizadas referências artísticas inerentes aos processos de modernização nos fluxos socioculturais entre África, América e Europa.
A análise incorporará um objeto comum às duas séries: a arquitetura construída no Golfo do Benin, entre o início do século 19 e meados do século 20, pelos agudás, grupo de africanos e descendentes de africanos assim chamados na África Ocidental por possuírem sobrenomes de origem portuguesa. Também lidará como as referências primeiras desta arquitetura: as casas senhoriais e as moradias urbanas constitutivas da cultura gerada pela economia do açúcar no Brasil a partir do século 16. O que implica refletir sobre os intercâmbios artísticos e culturais promovidos a partir das ações do império português desde a dita primeira modernidade.
Incluindo ainda a tela Les Demoiselles d’Avignon, criada por Pablo Picasso, em 1907, a série de documentação da arquitetura agudá pelo francês fotógrafo e antropólogo Pierre Verger, na década de 1950, e obras recentes de outros artistas (Ayrson Heráclito, Caetano Dias, Cildo Meireles, Romuald Hazoumé, e Rosana Paulino, entre outros) que repensam o tráfico negreiro e a escravização de africanos entre os séculos 16 e 19, a apresentação discutirá fluxos artísticos nas interfaces de variados campos – fotografia e arquitetura, religião e política, história e antropologia – em meio às marés da (pré- e pós-)modernidade. Após, haverá um debate.
17 de outubro:
19.00h. Palestra do Prof. Dr. Dominique Berthet da Université des Antilles – Martinique, Guadaloupe, intitulada “La place de la mémoire dans l’art contemporain des Antilles françaises”.
La prise en compte de l’histoire des Antilles est déterminante pour comprendre la réalité présente ainsi que les productions artistiques actuelles. Il s’agira d’observer au travers de la pratique artistique de quelques artistes de Martinique et de Guadeloupe que les notions de mémoire, d’héritage, de trace, d’identité pour ne citer qu’elles traversent les préoccupations de ces artistes. L’objectif sera de mettre en relation les œuvres avec ce qui les détermine, avec l’histoire et le contexte qui leur donne sens, car non seulement l’art n’est pas coupé du réel, mais dans ce cas, il n’est pas coupé d’une histoire collective liée à l’esclavage.
Dans les pratiques artistiques des artistes de Martinique et de Guadeloupe comme Serge Hélénon, Louis Laouchez, Ernest Breleur, Christian Bertin, Michel Rovelas, Rico Roberto, Richard-Viktor Sainsily Cayol, etc., s’élaborent des esthétiques. Cette intervention permettra de prendre la mesure de la diversité des réponses, de la singularité des réalisations, de l’intérêt des positionnements et de l’engagement de chacun de ces plasticiens. Les artistes travaillés par cet héritage de la traite et de l’esclavage, combinent, associent, relient, assemblent, mettent en dialogue des fragments de lieu, d’histoire, de cultures, revisitent le passé morcelé dans l’élaboration d’un art singulier.
20.30 h. Palestra de Marçal Paredes – PUCRS, intutlada “Moçambique em tela: arte e política em Malangatana Valente”.
Esta comunicação tem duplo objetivo: apresentar a obra pictórica e a trajetória sócio-política do pintor Moçambicano Malangatana Valente Mgwenya (1936-2011). Tendo especial atenção ao contexto político e cultural de sua produção, busca, através deste, explorar os significados da relação entre arte e política no âmbito de luta contra o colonialismo português e, posteriormente, da construção da nação em Moçambique. Nomeado Artista da Paz pelo UNESCO em 1997,
Malangatana é um dos nomes de maior representatividade da produção artística e cultural de seu país. Artista múltiplo, frequentou diversas linguagens – da gravura à escultura, passando pela cerâmica e tapeçaria, indo de experimentações com conchas e raízes até a expressividade própria do muralismo –, sempre para dar manifestação às preocupações de ordem social, característica incontestável em suas telas, mas também das demais frentes às quais se dedicou. Foi um pouco de tudo: pastor, aprendiz de curandeiro, poeta, dançarino, filantropo, deputado, agitador cultural. Sua obra articula preocupações de ordem política e social à uma sentimentalidade vibrante em manifestações que remetem à esfera do fantástico e do fabulário aliados à vocação de crítico social. Após, haverá um debate.
18 de outubro:
Arte indígena
19.00h. Palestra do Prof. Fernando Cury de Tacca (UNICAMP), intitulada “O índio brasileiro através da fotografia. Sobre a permanência de um exotismo inicial ao imaginário moderno e contemporâneo”.
Pretende-se traçar uma trajetória histórica da imagem do índio brasileiro através da representação fotográfica desde os primeiros momentos do meio até os tempos atuais para debater como a sociedade brasileira constrói o lugar imagético de um sujeito de nossa formação sociocultural. Desde um primeiro território do exótico, articulado por uma mise-en-scène, passando pela identidade nacional através da ação do Estado, em simultaneidade com a circulação impressa do fotojornalismo moderno no Brasil, e de uma primeira investidura etnográfica, até o deslocamento recente para uma nova etnografia em diálogo com a arte contemporânea.
20.30 h. Palestra da Profa. Regina Müller (UNICAMP), Campinas, intitulada “As Artes Indígenas e a Arte Contemporânea”.
A palestra propõe aproximações entre linguagens e conceitos da produção da arte contemporânea e das artes indígenas, a partir de alguns exemplos, com ênfase na arte gráfica e nos rituais dos Asuriní do Xingu, povo tupi-guarani da Amazônia. Aborda-se a pintura corporal, a arte gráfica e o ritual entre os Asuriní do Xingu, cotejando-os à arte conceitual e à arte da performance.
Para isso, demonstra-se noções do pensamento Asuriní presentes nestas manifestações e a contextualização e processos que ocorrem na sua produção.
Apresenta-se também exemplos de outros povos indígenas como os Kaxinawa, os Xavante e os Kayapó-Xikrin, ao se relacionar as manifestações a princípios filosóficos e valores éticos e morais e se analisar os rituais como performances cênicas. Após, haverá um debate.
Como os senhores e senhoras podem depreender do programa deste Colóquio, teremos uma excelente oportunidade de aprendizado e de fazermos uma reflexão profunda sobre o significado de nossa 11ª Bienal do Mercosul.