Quarta-feira, 26 de fevereiro de 2025
Por Redação O Sul | 30 de setembro de 2023
O astronauta Frank Rubio consagrou-se como o americano que ficou mais tempo no espaço após completar 371 dias a bordo da Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês) junto com os cosmonautas russos Sergey Prokopyev e Dmitri Petelin na mais longa missão da ISS. Apesar do marco histórico — apenas dois meses atrás do recorde mundial alcançado pelo russo Valeri Polyakov, que passou 437 dias em órbita nos anos 1990 —, a viagem pode deixar mudanças significativas no corpo humano, que vão dos músculos ao DNA.
“Não estamos andando, não estamos suportando nosso próprio peso [no espaço] e, portanto, levará de dois a seis meses para que eu essencialmente diga que me sinto normal”, disse Rubio, de origem latina, em entrevista quando ainda estava em órbita.
Assim que a espaçonave Soyuz MS-23 aterrissou na cidade de Zhezkazgan, no Cazaquistão, Rubio, Prokopyev e Petelin precisaram ser retirados da cápsula por uma equipe devido aos efeitos do tempo prolongado em baixa gravidade.
À princípio, a missão duraria apenas seis meses, mas acabou sendo prolongada em março depois que a espaçonave apresentou um vazamento líquido. A agência espacial russa (Roscosmos) decidiu, então, trocar a nave por precaução e enviou outra para a ISS, sem tripulação a bordo, para resgatá-los. O setor espacial é um dos poucos em que ainda existe cooperação entre a Rússia e os Estados Unidos em meio às tensões com a guerra na Ucrânia.
Além do trabalho na missão, a expectativa é que a viagem forneça informações valiosas sobre como humanos são afetados pelos voos espaciais a partir de um estudo, no qual o americano é o primeiro astronauta a participar, que examina a influência dos exercícios com equipamentos próprios para condições espaciais no corpo humano.
Os resultados da pesquisa podem ser vitais para o avanço da exploração do homem no Sistema Solar. Uma viagem tripulada a Marte, por exemplo, pode durar cerca de 1.100 dias (pouco mais de três anos), segundo as previsões atuais, e deverá ser realizada em uma espaçonave ainda mais estreita que as disponíveis na ISS, o que demandará equipamentos diferenciados.
Músculos e ossos
Sem a força constante da gravidade sob os membros, a massa muscular e óssea diminui rapidamente no espaço. Os mais afetados são os músculos das costas, pescoço, panturrilhas e quadríceps, responsáveis pela postura, uma vez que não são mais tão exigidos e, por isso, correm o risco de atrofiar. Dentro de duas semanas, a massa muscular pode cair até 20%, chegando a 30% em missões mais longas, de três a seis meses.
O mesmo ocorre com os ossos, já que não há mais tanta tensão mecânica sob o esqueleto, o que pode fazer com que percam a força. Em seis meses, até 10% da massa óssea pode ser perdida, com a diminuição de 1 a 2% por mês, aumentando o risco de fraturas e o tempo de recuperação. Na Terra, podem ser necessários até quatro anos para que o esqueleto do astronauta volta ao normal.
Como alternativa, os cosmonautas precisam fazer 2,5 horas de exercícios por dia quando estão em órbita, que incluem uma série de agachamentos, remadas e supinos, além de atividades aeróbicas em esteiras e bicicletas ergométricas adaptadas ao ambiente. Suplementos alimentares também são usados na dieta. No entanto, um estudo recente apontou que a rotina não foi suficiente para evitar a perda da massa muscular.
Perda de peso
Manter um peso saudável pode ser um enorme desafio quando se está em órbita, mesmo com uma dieta balanceada e exercícios. De acordo com um estudo feito com o astronauta Scott Kelly, que voou por 340 dias na ISS enquanto seu irmão gêmeo estava na Terra, a sua massa corporal diminuiu 7% durante a missão no espaço. Após seu retorno, pesquisadores descobriram que mesmo as bactérias e fungos que viviam em seu intestino haviam sofrido alterações em comparação com o período anterior à viagem.
Visão
No espaço, há a tendência de que o sangue se acumule na cabeça de forma anormal, podendo se concentrar na parte posterior do olho e ao redor do nervo óptico, provocando edema. Isso pode levar a alterações na vista, como diminuição da nitidez e mudanças na estrutura do olho dentro de até duas semanas no espaço — com maiores riscos em períodos prolongados. Embora muitas delas cessem depois de um ano que os astronautas estão de volta à Terra, há relatos de alterações permanentes.
Confusão neural
Ainda de acordo com o estudo feito no astronauta Scott Kelly, pesquisadores notaram que a velocidade e a precisão do seu desempenho cognitivo diminuíram nos seis meses que seguiram o seu retorno — provavelmente devido a uma readaptação do cérebro à gravidade.
Um outro estudo, realizado com um cosmonauta russo que passou 169 dias na ISS, revelou que o cérebro também pode mudar em órbita. Segundo a pesquisa, foram constatadas mudanças nos níveis de conectividade neural em partes responsáveis pela função motora, orientação e equilíbrio.
Bactérias
A pesquisa feita com Kelly também mostrou que bactérias e fungos que viviam no seu intestino sofreram mudanças significativas em comparação ao período anterior à missão. A alteração pode ter sido provocada por diversos fatores, como o consumo de alimentos incomuns, novas pessoas na rotina e exposição à radiação.