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42% das brasileiras relatam ter sofrido assédio sexual, aponta a pesquisa Datafolha

Para especialistas e representantes de grupos feministas, o número não surpreende. (Foto: Reprodução)

Ao menos quatro em cada dez brasileiras já relataram ter sofrido assédio sexual, segundo pesquisa Datafolha divulgada neste sábado (23). O instituto mostrou que o índice de mulheres que já vivenciaram o problema é de 42%.A pesquisa entrevistou 1.427 brasileiras com 16 anos ou mais em novembro. A margem de erro é de dois pontos percentuais.

O índice de mulheres que relatam ter sofrido assédio sexual sobe para 45% se consideradas apenas as mulheres de 16 a 24 anos. Em relação ao nível de escolaridade, o percentual é maior entre as mulheres com nível superior – 44%, contra 13% das mulheres que têm até o ensino fundamental. Segundo o levantamento, o assédio acontece com maior frequência na rua e no transporte público.

A pesquisa revelou também que os relatos de assédio são maiores conforme o tamanho da cidade. Nos municípios com até 50 mil habitantes, 30% dizem ter sido vítimas, enquanto nos que têm mais de 500 mil habitantes, a taxa sobe para 57%.

Para especialistas e representantes de grupos feministas, o número não surpreende. Elas dizem, inclusive, que a quantidade real de vítimas deve ser maior, mas que há receio delas de contar e também falta de percepção do que é assédio ou não.

“O assédio sexual tem um problema que é a falta de entendimento de que ele é uma violência. As mulheres vivenciam isso, mas entendem que é algo que faz parte de ser mulher. Essa identificação precisa ser trabalhada”, afirma Juliana de Faria, fundadora da ONG Think Olga.

Os dados ligados ao tema costumam variar em diferentes pesquisas. Um estudo feito em 2016 pela organização ActionAid, por exemplo, mostrou um índice ainda maior: 86% das 503 brasileiras entrevistadas já haviam sofrido assédio em público.

O levantamento do Datafolha mostra que um terço das mulheres (29%) conta ter sido assediada na rua, e um quinto (22%), no transporte público. O trabalho é citado por 15%, a escola ou faculdade, por 10%, e a violência em casa, por 6%. Uma mesma entrevistada pode ter relatado mais de um tipo de assédio.

Além das mais novas, quem sente mais o problema são as mais escolarizadas e as que têm maior renda familiar. Segundo a promotora Maria Gabriela Manssur, isso pode ser explicado principalmente pelo acesso à informação.

“A falta de campanhas educativas, de acesso à Justiça e de coragem para denunciar entre as mais pobres influencia. Elas podem perder o emprego, além de sofrer um julgamento social ainda maior.”

A delegada Sandra Gomes Melo, chefe da Delegacia Especial de Atendimento à Mulher do Distrito Federal, ressalta que, apesar de haver uma diferença nos tipos e locais de violência, todos os estratos de mulheres sofrem assédio.

“A violência não escolhe só a pobre, só quem tem escolaridade, só a mais nova. Talvez a mulher rica não vá sofrer tanto nos meios de transporte, porque não usa, mas vai sofrer no trabalho, por exemplo.”

A cor da pele, porém, é um fator influente. Entre as pretas e pardas, aproximadamente 45% dizem já ter sido assediadas, ante um índice de 40% entre as brancas.

“A mulher negra, como é hipersexualizada, sofre um assédio mais incisivo. O local dela não é o da beleza, é o de suprir necessidades carnais. Há uma dupla discriminação”, diz a advogada Thayna Yaredy, que é negra e representante do coletivo Rede Feminista de Juristas.

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