Quinta-feira, 23 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 21 de novembro de 2022
Quase metade da bancada feminina que estará no Congresso na próxima Legislatura tem parentes que já ocuparam cargos políticos. O grau de parentesco mais citado pelas deputadas e senadoras é marido: 47% delas são casadas com homens que estão ou já estiveram na vida política. Em seguida os parentescos mais comuns são pai, citado por 25% delas, e irmão (8%).
Os números indicam que, a exemplo dos homens, a política muitas vezes se mostra como uma tradição familiar para as parlamentares. Os dados reforçam que, enquanto há um ainda lento crescimento da representatividade de gênero entre os congressistas brasileiros, muitas mulheres só conseguem chegar ao parlamento nacional pela via do domínio político da família — o que, ressaltam especialistas, é uma tônica também entre os homens.
A senadora Simone Tebet (MDB-MS), filha do ex-governador e ex-presidente do Senado Ramez Tebet, afirma que estar em uma família de políticos acaba sendo um estímulo para se envolver com a área, especialmente entre as mulheres. Ela conta que vive nesse ambiente desde os 5 anos, o que a ajudou a aprender mais rápido e, consequentemente, a ter mais experiência.
Muitas vezes, porém, a participação das mulheres na política é atrelada a uma suposta “facilidade” pelo fato de já terem alguém da família que lhe abra as portas. A cientista política Débora Thomé, do Centro de Estudos de Política e Economia do Setor Público (Cepesp/FGV), ressalta, contudo, que essa não é uma questão de gênero:
“Estão os Barbalho, Sarney, Arraes, ACM, os Bush nos Estados Unidos. A política é um negócio familiar, para mulheres e homens”.
Especialistas observam que, para as mulheres, o desafio maior é distanciar sua atuação política da dos homens da família.
A maioria delas já ocupou cargos nas direções partidárias, o que mostra a evolução no papel das parlamentares na cena política nacional. Segundo o levantamento, 75% já estiveram à frente das instâncias decisórias das legendas em âmbito municipal, estadual ou nacional. E metade ocupa ou já ocupou funções governamentais não eletivas. Esses cargos estão ligados a pastas como Saúde, Educação e Assistência Social.
“Os dados mostram que essas mulheres não caíram de paraquedas e já tiveram mandatos principalmente no Legislativo e no setor público”, analisa Marina Barros, cofundadora e codiretora do Instituto Alziras. Em geral, explica, “elas já ocuparam espaços que estão ligados à essência cuidadora da mulher, que é muito estigmatizante. É preciso desconstruir esse estereótipo em relação às mulheres. Elas devem estar de forma transversal em todas as agendas”.
Marina Barros chama a atenção para o fato de 77% das deputadas e senadoras terem filhos, sendo que, em metade dos casos, eles são maiores de 18 anos:
“As mulheres só conseguem ir para Brasília quando os filhos estão maiores ou quando elas não têm filhos, realidade de 22% delas. Isso mostra a importância de se ter políticas específicas para que as mulheres não sejam sobrecarregadas com o cuidado de suas casas e filhos, fato que tem cerceado a possibilidade de elas fazerem política”.
Pioneirismo
Neste ano, a Câmara elegeu pela primeira vez na história deputadas trans: Erika Hilton (PSOL-SP) e Duda Salabert (PDT-MG).
“Muitas de nós não conseguem ocupar e chegar nesse espaço porque não têm condições. Somos expulsas de casa, enfrentamos a fome, o desemprego, o abuso sexual. Precisamos abandonar a escola para cuidar das nossas irmãs mais novas para que as nossas mães possam trabalhar. Nós nos tornamos arrimo de família muito jovens e isso prejudica a chegada ao Congresso e à vida política”, diz Erika.
Erika também defende mais recursos dos partidos políticos a fim de ampliar a diversidade da bancada.
Segundo o levantamento, 66% das deputadas e senadoras são brancas. E só 16% se declaram pardas e 13% pretas. Indígenas correspondem a um público ainda menor: de 4%.
Em relação à orientação sexual, as deputadas e senadoras que se declaram homossexuais ou bissexuais somam 4% das mulheres que estarão no Congresso. Heterossexuais são 96%.
Também há pouca diversidade religiosa: católicas têm presença majoritária na bancada (49%), seguidas pelas evangélicas, que correspondem a um quarto. Parlamentares de religiões de matrizes africanas são minoria, 4%; e as que não têm religião, 11%.