Domingo, 22 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 25 de abril de 2021
Esses municípios são comandados pelo presidente da Câmara Municipal, ou em sua ausência ou renúncia, pelo vice.
Foto: Divulgação“Fui dormir vereador e acordei prefeito.” Foi assim que Márcio Gley, conhecido como Chaveirinho (PT), resumiu a mudança repentina de cargo na cidade que hoje governa interinamente. Barreira (CE), com pouco mais de 20 mil habitantes, esperava começar o ano sob a gestão de Dra. Auxiliadora (PSD), mas as pendências da chapa eleita com a Justiça impediram a diplomação e a posse em 1º de janeiro. O que ninguém esperava era que o primeiro interino a assumir a Prefeitura renunciasse com apenas 30 dias à frente do cargo.
Levantamento no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostra que, assim como Barreira, pelo menos outras 64 cidades do País ainda não sabem quem vai comandar a administração pelos próximos anos. Enquanto os eleitos em 2020 já cumpriram os emblemáticos primeiros 100 dias de gestão, esses municípios são comandados pelo presidente da Câmara Municipal, ou, em sua ausência ou renúncia, pelo vice, como aconteceu com Chaveirinho.
Isso ocorre porque a chapa vencedora foi impugnada, e novas eleições serão realizadas, ou porque o eleito ainda não foi confirmado por pendências com a Justiça.
Ainda que o número de cidades governadas interinamente seja pequeno diante dos 5570 municípios do País, na prática a indefinição é uma enorme pedra no sapato na execução de qualquer programa ou política pública e no planejamento de ações de médio de longo prazo, sobretudo em meio à pandemia de covid.
Acontece que ele pretende disputar o novo pleito, ainda sem data marcada, e está sujeito às restrições típicas de quem disputa a eleição no cargo. “Temos uma dificuldade de contratação de funcionários da Saúde, principalmente médicos. Poderia fazer um concurso público, mas não posso por conta da questão eleitoral. Estaria me beneficiando, e a Justiça pode entender dessa maneira. O mesmo vale para a Educação.”
Hammes assumiu o posto até que a Justiça Eleitoral decida sobre a candidatura de Rubens Bomtempo (PSB), eleito, mas condenado por improbidade administrativa em atos praticados quando dirigiu o município entre 2005 e 2008. “Tenho a mesma autonomia de um prefeito eleito. Mas o que peca muito é o planejamento. Não dá para planejar nada a longo prazo”, afirmou Hammes.
O prefeito interino de Petrópolis optou por mudar praticamente toda a equipe de secretários do antigo titular, Bernardo Rossi (PL). As alterações no primeiro e segundo escalões do governo causam mais tensão quando o interino e o eleito são de grupos políticos diferentes, como ocorre em Petrópolis.
“Pode se ter uma descontinuidade em vários projetos. Além disso, essa troca de secretários faz com que se perca recursos e também tempo, em função de toda a burocracia. E em um momento como o atual, o tempo é importante para salvar vidas e dar assistência à população”, afirmou Ursula Peres, pesquisadora do Centro de Estudos da Metrópole da ECA-USP.
Para Bomtempo, o eleito sub judice, a condição atual é “bastante prejudicial” para a cidade. Ele diz ser inocente e confiar na Justiça. Esse prejuízo é consenso entre o prefeito interino, o eleito e a Câmara. Segundo o vereador Marcelo Lessa (Solidariedade), o que Petrópolis mais precisa, hoje, é de uma “definição política”: “Todo mundo sai perdendo”.
Ao contrário de Petrópolis, o prefeito e o interino de São Caetano do Sul (SP) são aliados, o que contribui para menos mudanças na administração. O interino Tite Campanella (Cidadania) assumiu o plano de governo do prefeito reeleito (mas não empossado, José Auricchio Jr., do PSDB ) e manteve quase toda a equipe.
“Numa posição de interinidade, o mais inteligente é saber que aquele mandato não te pertence”, afirmou. Auricchio Jr. disse aguardar a decisão da Justiça “com serenidade’. Ele foi condenado em 2ª instância pela captação ilícita de recursos de campanha no pleito de 2016 e, por meio de nota, disse ser inocente.
Despreparo
No caso de Barreira, mais do que rivalidades ou alianças, o desafio foi o despreparo. O primeiro interino a assumir, João Carlos do Sindicato (PSD), renunciou após um mês. Na despedida, afirmou que “foi eleito para ser vereador”. A jornais locais, ele admitiu ter tido dificuldades para exercer a função.
Chaveirinho, então presidente da Câmara (no lugar de João Carlos), assumiu a cadeira. “Eu não estava preparado para assumir, principalmente na pandemia. Me preparei para ser vereador”, afirmou. Passado o susto, ele tem buscado ajuda de especialista: “A grande dificuldade é gerir os recursos municipais”.
Para ele, a indefinição eleitoral afeta profundamente a cidade. “Hoje está faltando médico. Não consegui contratar porque os profissionais têm receio de vir e ter uma troca de gestão. Tentamos passar confiança para o servidor e a população, mas meu desejo é que a eleita volte para a cadeira dela e eu para o cargo de vereador”, disse Chaveirinho. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.