Mãe de dois meninos, Tainá (ela prefere preservar a identidade), de 24 anos, sempre sonhou em ter uma filha. A surpresa veio este ano, e a bebê já vai nascer no próximo mês. Mas Tainá chora quando fala da gravidez, e não são exatamente lágrimas de alegria.
É que a barriga de Tainá cresce dentro de uma cela, na Penitenciária de Sant’ana, na Zona Norte de São Paulo. Por lei, a mãe pode ficar pelo menos seis meses com a bebê recém-nascida. Depois, diz Tainá, a pequena será entregue à avó, até ela terminar de cumprir a pena, de mais três anos.
A separação dos filhos é a mais dolorosa pena que enfrentam 80% das 43.562 mulheres presas em todo o País. Elas são mães e correm o risco, caso não tenham com quem deixar as crianças, de serem condenadas também à perda definitiva da guarda. Trata-se de uma realidade cada vez mais recorrente no Brasil.
O encarceramento feminino cresceu em escala geométrica nas últimas duas décadas. Em 2000, menos de seis mil mulheres se encontravam presas. Em apenas 16 anos, este número subiu 656%, enquanto que, no caso dos homens, o crescimento foi de 293%.
Entre as causas apontadas para o fenômeno, está a própria condição feminina. Seis em cada dez mulheres estão presas por tráfico de drogas, e essa relação muitas vezes começa com um namorado traficante. É o caso de Tainá. O marido dela está preso. Foi detido um mês antes, em janeiro.
“Consegui um atendimento com a assistente social e ela localizou meu marido. Foi assim que avisei a ele que estava grávida. Ele mandou uma carta, ficou muito feliz. Ele tinha saído daqui fazia oito meses. Está pagando um castigo porque saiu e não voltou”, contou Tainá.
Atualmente, há 11.646 detentas nas unidades prisionais de São Paulo, 26,7% do total de brasileiras encarceradas. A infração mais comum é “tráfico de drogas e condutas afins”, razão que levou quase 64% delas para trás das grades. São mulheres em sua maioria com grau de instrução baixo e com ensino fundamental incompleto (39%), segundo a Secretaria de Administração Penitenciária do estado. Um perfil que se repete por todo o país.
Abrigo e adoção
Mulheres na faixa etária de Tainá (18-24) representam cerca de 20% da população carcerária feminina do estado de São Paulo. Gisele, de 22, acaba de chegar em Sant’ana. Mas não é novata. Esteve na penitenciária há sete meses, saiu, e foi detida de novo, há três meses, por tráfico no Centro de São Paulo.
Na reincidência, reencontrou amizades na cadeia. A diferença é que, desta vez, Gisele voltou grávida. A barriga de três meses de gestação começa a despontar no corpo mirrado, com algumas cicatrizes e tatuagens. Ela diz que ainda não sabe o sexo do bebê. Nem o paradeiro do pai dele.