Nove em cada dez mães que moram em favelas brasileiras têm receio de não ter o que comer por terem perdido renda — 72% delas são responsáveis pelos alimentos e proventos da casa. Isso é o que aponta um levantamento do Data Favela feito em parceria com o Instituto Locomotiva.
O Data Favela ouviu cerca de 2 mil mulheres, moradoras de 351 favelas em todo o Brasil, e 95% disseram que, neste domingo (9), dia das mães, elas estão aflitas por não terem o que comer.
Outras 84% afirmaram que a renda hoje está menor do que a que elas tinham antes da pandemia de Covid-19.
Para ajudar a amenizar os danos intensificados pela pandemia, a CUFA (Central Única das Favelas), que também participou do estudo, intensifica a campanha “Mães da Favela” para doar cestas básicas e cestas digitais.
A ação prevê ainda a doação de kits de higiene, beleza e também flores. Em Heliópolis, na manhã deste domingo (9), caminhões se preparavam para distribuir as doações, a partir das 9h30, a cerca de 1 mil mulheres da zona sul de São Paulo.
A campanha vai ocorrer em diversos estados do Brasil, como Acre, Piauí, Minas Gerais e Goiás. A expectativa é que 500 mil mulheres seja beneficiadas.
Insegurança alimentar
O Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, realizado pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan), indicou em abril que nos últimos meses do ano passado 19 milhões de brasileiros passaram fome e mais da metade dos domicílios no País enfrentou algum grau de insegurança alimentar.
A sondagem inédita estima que 55,2% dos lares brasileiros, ou o correspondente a 116,8 milhões de pessoas, conviveram com algum grau de insegurança alimentar no final de 2020 e 9% deles vivenciaram insegurança alimentar grave, isto é, passaram fome, nos três meses anteriores ao período de coleta, feita em dezembro de 2020, em 2.180 domicílios. De acordo com os pesquisadores, o número encontrado de 19 milhões de brasileiros que passaram fome na pandemia do novo coronavírus é o dobro do que foi registrado em 2009, com o retorno ao nível observado em 2004.
O inquérito foi feito em parceria com a Action Aid Brasil, Friedrich Ebert Stiftung Brasil (FES Brasil) e Oxfam Brasil, com apoio do Instituto Ibirapitanga. A coleta de dados ocorreu entre os dias 5 e 24 de dezembro de 2020 nas cinco regiões brasileiras, abrangendo tanto áreas rurais como urbanas, no período em que o auxílio emergencial concedido pelo governo federal a 68 milhões de brasileiros, no valor inicial de R$ 600 mensais, havia sido reduzido para R$ 300 ao mês.