Queixas relacionadas a medicamentos têm crescido nos serviços de saúde. O sistema de notificações pelo site da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) recebeu, desde 2007, quase 83 mil comunicados de eventos adversos e falhas técnicas de remédios.
Em 2007, foram mais de 2 mil reclamações. Já no ano seguinte, foram quase 6 mil, aumento de 163%. A partir daí, o crescimento médio foi de 20% ao ano.
Do total, 44 mil notificações são de queixas técnicas, quando o problema antecede o uso e é ligado ao próprio produto. São os casos em que há suspeitas de falsificações, falta de registro e desvios de qualidade.
A outra parte se refere a eventos adversos: danos não intencionais causados após o uso dos produtos, seja por reações imprevistas, erros de medicação ou prescrições inadequadas, por exemplo. Para especialistas, o número real de problemas deve ser ainda maior, sobretudo nos casos de eventos adversos.
O problema tem levado o setor a buscar novas formas de registro e a incentivar uma mudança de comportamento. “O paciente tem que perder o medo de perguntar. Ele tem todo o direito de saber que remédio está tomando”, diz Walter Mendes, da Fundação Oswaldo Cruz. Para ele, isso pode ajudar a evitar erros com remédios.
O paciente pode ainda se informar sobre contraindicações e a evolução do tratamento, para que as reações não sejam confundidas, diz Charles Schmidt, diretor da Sociedade Brasileira de Medicina Farmacêutica.
Reorganização
O crescimento no número de registros ocorre após uma reorganização do setor, segundo a Anvisa. Schmidt concorda. “Não é que os remédios estão causando mais eventos adversos. O que houve é um empoderamento do paciente e intensificação do treinamento médico para que notificassem. Se as pessoas não notificam, não sabemos o que está acontecendo com os remédios.”
A maior parte das queixas vem de profissionais de saúde e instituições. Pacientes relatam dificuldade de acesso ao sistema. Após as notificações à Anvisa, a agência pode tomar medidas que vão da alteração da bula à suspensão da comercialização e recolhimento do remédio.
Os efeitos adversos mais notificados são casos de hipersensibilidade, mas cujo benefício do medicamento justifica o risco na utilização, conforme o órgão. Em 2014, por exemplo, ao menos 95 remédios tiveram a comercialização ou uso suspensos – a maioria após identificação de falhas na qualidade do produto, como mudanças na aparência, erros na embalagem e até troca de um remédio por outro. (Folhapress)