Segunda-feira, 23 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 5 de agosto de 2020
O primeiro lote de 15 milhões de vacinas contra o novo coronavírus produzido pela farmacêutica britânica AstraZeneca e com previsão de chegar ao Brasil em dezembro será liberado a partir de janeiro de 2021. Mas isso não quer dizer necessariamente que a vacina, desenvolvida em parceria com a Universidade de Oxford (Reino Unido), começará a ser aplicada nos postos de saúde imediatamente.
As informações foram dadas por integrantes da Fiocruz e do ministério em audiência realizada nesta quarta-feira (5) pela comissão da Câmara dos Deputados que acompanha as ações de combate à pandemia.
Os prazos ainda são incertos porque dependem de outros fatores, como por exemplo logística e a obtenção de registro na Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa). Já o processo de transferência de tecnologia para o Instituto Bio-Manguinhos, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), ligada ao Ministério da Saúde, deve ser concluído, de acordo com as mesmas fontes, no primeiro trimestre de 2021.
Questionado, o secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Arnaldo Correia de Medeiros, não quis se comprometer com datas específicas. Mas afirmou que, uma vez liberada a vacina, o governo federal consegue levar as doses aos postos de saúde dos municípios mais afastados num prazo de 15 a 20 dias.
“Na data de hoje, nos parece muito precoce falarmos exatamente da data em que haverá essa vacinação. Mas a capilaridade de distribuição do nosso SUS [Sistema Único de Saúde] é histórica no nosso País”, disse o secretário.
O diretor do Instituto Bio-Manguinhos, Maurício Zuma, afirmou na mesma audiência que 30 milhões de doses devem ficar prontas até fevereiro, caso a vacina da AstraZeneca esteja registrada:
“Levando em consideração que a gente vai começar a produção de 15 milhões (de doses) em dezembro, e considerando o tempo de controle de qualidade, a gente acredita que comece a liberar estas primeiras doses a partir de janeiro. E os outros 15 milhões que serão produzidos em janeiro, a partir de fevereiro. Obviamente que vai depender de a vacina estar registrada para que ela possa ser usada.”
Acordo
Para aplicar o quanto antes possível a vacina, o governo federal fechou um acordo com a fabricante para a obtenção de 100 milhões de doses, dos quais 15 milhões chegarão em dezembro e mais 15 milhões em janeiro. A vacina ainda está na última fase de testes.
Caso ela tenha aval da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), ainda falta definir detalhes os critérios de distribuição para saber exatamente quantas doses cada estado vai receber. O que é certo até agora é que grupos de risco, como idosos, pessoas com outras doenças e profissionais de saúde, terão prioridade.
O vice-presidente de Produção e Inovação em Saúde da Fiocruz, Marco Krieger, afirmou que o processo de transferência de tecnologia da AstraZeneca deve ser concluído no começo do ano que vem.
“Nós estamos recebendo também a tecnologia para a total nacionalização da produção que pretendemos efetivar em menos de um ano. E a gente pretende no primeiro trimestre do ano que vem já estar com a tecnologia toda incorporada”, afirmou.
A expectativa de uma vacinação rápida, com o anúncio prévio de que as doses chegarão em dezembro, gerou algumas críticas, como a do deputado Alexandre Padilha (PT-SP), que já foi ministro da Saúde. O parlamentar chamou atenção para “não começar vendendo terreno na lua”. Segundo ele, isso pode desestimular outras ações importantes, como o uso de máscaras e medidas de distanciamento social, e até mesmo prejudicar a credibilidade da Fiocruz, caso a vacina não dê certo.
“A vacina gera muita esperança e temos que tomar muito cuidado com a esperança do povo brasileiro. É uma irresponsabilidade falar em datas que a gente não venha a sustentar (depois). A credibilidade que a Fiocruz tem foi construída ao logo de anos. Anunciar vacinação no réveillon é irresponsabilidade”, considerou Padilha.
Arnaldo Medeiros voltou a dizer que vacina só será distribuída se sua eficácia ficar comprovada:
“Todo o processo da distribuição da vacina, a disponibilização da vacina, a vacinação dos indivíduos propriamente ditos, vai depender efetivamente se tivermos uma vacina eficaz. Ninguém vai pôr em risco a saúde da população brasileira.”