Quarta-feira, 23 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 24 de agosto de 2020
O hospital alemão onde o líder opositor russo Alexei Navalny está internado desde sábado afirmou, nesta segunda-feira (24), ter encontrado “sinais de envenenamento” em seu corpo, confirmando as suspeitas de seus aliados. Logo após a divulgação do resultado, o governo alemão demandou uma investigação “detalhada e transparente” sobre o incidente.
O crítico do Kremlin foi transferido de um hospital em Omsk, na Sibéria, para Berlim, após idas e vindas sobre a autorização para que a viagem acontecesse. Segundo o hospital Charité, considerado um dos melhores da Europa, o estado do paciente é grave, mas estável, e ele permanece em coma induzido. O prognóstico ainda é incerto, especialmente no que diz respeito a danos ao sistema nervoso.
“A equipe médica examinou o paciente detalhadamente após sua chegada. As descobertas clínicas indicam envenenamento por um elemento do grupo de substâncias ativas chamadas inibidores de colinesterase”, disse o hospital, em nota.
Os médicos encontraram evidências de envenenamento causado por uma substância ainda sob testes, mas que pertence à classe dos inibidores de colinesterase. A colinesterase é uma enzima fundamental para o funcionamento do sistema nervoso, transmitindo mensagens dos nervos para os músculos. Quando bloqueada, ela pode causar espasmos musculares, algo potencialmente letal.
Inibidores deste tipo são usados em remédios para doença de Alzheimer, inseticidas e, em maiores quantidades, em armas químicas. Segundo o Charité, Navalny está sendo tratado com o antídoto atropina, tratamento comum para pacientes expostos a agentes nervosos.
Aliados acreditam que o chá do ativista tenha sido envenenado no aeroporto de Tomsk, na Sibéria, enquanto esperava seu voo para Moscou, na última quinta-feira. Navalny – que havia ido à Sibéria para participar da campanha para as eleições locais e regionais de 13 de setembro – passou mal no avião, que fez um pouso de emergência em Omsk para que ele recebesse atendimento médico.
Em um comunicado conjunto, a chanceler alemã Angela Merkel e seu ministro de Relações Exteriores, Heiko Maas, fizeram um apelo para que todos os culpados sejam identificados e responsabilizados. Horas antes, um porta-voz de Merkel havia dito que, diante do quadro de Navalny e dos vários casos suspeitos de envenenamento de figuras opositoras na Rússia, uma escolta foi posta na porta de seu quarto.
“Frente ao papel proeminente que o senhor Navalny ocupa na oposição política da Rússia, [fazemos] um apelo urgente para que as autoridades de lá investiguem este crime até o último detalhe – e com transparência total”, diz o comunicado do governo alemão.
O líder opositor ficou no hospital siberiano até sexta-feira, em meio a tentativas de sua família para transferi-lo para Berlim – traslado que foi autorizado na noite de quinta e cancelado em seguida. Sua mulher, Yulia, chegou a escrever uma carta de apelo ao presidente Vladimir Putin para que a viagem fosse autorizada. De acordo com seus aliados, a demora seria uma tentativa de esconder os traços do veneno, para que não pudesse ser detectado no organismo.
Respondendo à nota do Charité, a equipe médica siberiana disse que Navalny testou negativo para inibidores de colinesterase enquanto estava sob seu tratamento. De acordo com os médicos de Omsk, que diagnosticaram Navalny com um transtorno metabólico, os exames por eles realizados não constataram nenhum traço de envenenamento.
“Nós falamos desde o início que Alexei havia sido envenenado, apesar das declarações dos médicos de Omsk e dos propagandistas do Estado”, disse Kira Yarmysh, porta-voz do líder opositor. “Agora nossas palavras foram confirmadas por análises de laboratórios independentes. O envenenamento de Navalny não é mais uma hipótese, mas um fato.”
O suposto envenenamento de opositores do regime de Putin não é algo incomum: em 2006, por exemplo, Alexander Litvinenko, ex-agente da KGB e crítico de Putin, morreu em Londres após beber chá envenenado com polônio-210. Em 2014, Sergei Skripal, um russo que trabalhava como agente duplo para as inteligências russa e britânica, foi envenenado com um agente nervoso em Salisbury, no Reino Unido. As informações são do jornal O Globo e de agências internacionais de notícias.