Quarta-feira, 27 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 31 de agosto de 2020
Alguns dos principais assessores do presidente americano, Donald Trump, e do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, pousaram nesta segunda-feira (31) nos Emirados Árabes Unidos às 15h39min locais (8h39min em Brasília), para dar os toques finais no acordo para normalizar relações entre a potência do Golfo Pérsico e Israel.
Antes mesmo que as negociações comecem em Abu Dhabi, os delegados fizeram História ao embarcar no primeiro voo comercial israelense direto de Tel Aviv para a capital dos Emirados, sobrevoando a Arábia Saudita, um fato também inédito. O Boeing 737 da El Al teve a palavra “paz” pintada em árabe, inglês e hebraico na fuselagem.
“Essa é a aparência da paz”, tuitou Netanyahu, saudando o que classificou como um voo histórico e mencionando que o acordo para estabelecer relações formais com um país árabe não envolve a devolução de territórios tomados por Israel na guerra de 1967.
Anunciado no dia 13 de agosto, o acordo de normalização é o primeiro desse tipo entre um país árabe e Israel em mais de 20 anos, e foi cimentado em grande parte pelo temor em relação ao Irã. Desta forma, os Emirados se tornaram o primeiro da região do Golfo a estabelecer relações com Israel e o terceiro do mundo árabe, após os acordos assinados pelo Egito, em 1979, e Jordânia, em 1994.
Desde que o acordo foi anunciado, com mediação dos Estados Unidos, ministros de Israel e dos Emirados multiplicaram os contatos por telefone e as autoridades de Abu Dhabi revogaram no fim de semana passado uma lei sobre o boicote a Israel, em vigor há 48 anos.
A atitude dos Emirados Árabes Unidos decepcionou os palestinos, preocupados que ela enfraqueça a tradicional posição pan-árabe de exigir que Israel se retire dos territórios ocupados e reconheça um Estado palestino como condição para normalização de relações.
Em um comunicado, o Hamas, movimento islâmico que controla a Faixa de Gaza, disse que o voo representa uma “facada nas costas do povo palestino, um prolongamento da ocupação e a traição da resistência do povo [palestino]”. Tom similar foi adotado pelo político Saeb Erekat, que tuitou:
O genro e assessor de Trump, Jared Kushner, chefe da missão americana, por sua vez, disse que os palestinos não devem “ficar presos no passado”: “Eles devem vir à mesa. A paz estará pronta para eles, e uma oportunidade estará disponível assim que estejam prontos para abraçá-la.”
Kushner lidera a missão americana ao lado do assessor de segurança nacional, Robert O’Brien. A equipe israelense, por sua vez, é comandada por Meir Ben-Shabbat, assessor de Netanyahu. Os negociadores vão explorar áreas de cooperação bilateral como comércio e turismo. Autoridades militares israelenses vão fazer uma visita em separado aos Emirados.
“É um voo histórico e esperamos que seja o início de uma viagem ainda mais histórico para o Oriente Médio”, afirmou Kushner antes da decolagem, em uma pista repleta de bandeiras de Israel e dos Estados Unidos.
Israel e Emirados são geograficamente separados pela Arábia Saudita, país com o qual Israel não mantém relações oficiais, mas houve permissão de sobrevoo. Como todos os 737s da El Al, a aeronave estava equipada com sistemas antimísseis. A bordo do avião lotado, os passageiros foram recepcionados em árabe, inglês e hebraico.
“Desejamos a todos salaam, peace e shalom. Tenham um bom voo”, disse o piloto, o capitão Tal Becker.
Os israelenses esperam que a viagem de dois dias crie a oportunidade para uma cerimônia de assinatura do acordo em Washington, possivelmente em setembro, entre Netanyahu e o príncipe herdeiro Sheikh Mohammed bin Zayed al-Nahyan. Isso daria a Donald Trump um impulso na política externa com vistas às eleições de novembro. No domingo, em Jerusalém, Kushner disse que o acordo era “um gigantesco passo à frente”. As informações são da agência de notícias Reuters.