Quarta-feira, 25 de dezembro de 2024
Por Carlos Roberto Schwartsmann | 10 de setembro de 2020
A medicina mudou muito pouco com os fantásticos exames de ressonância magnética, tomografias, cintilografias, ecografia, etc.
Foto: Maurício Rocha/Prefeitura do RioEsta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
Apesar de estarmos vivendo o momento de maior evolução tecnológica da história da humanidade com a previsão mirabolante de que a robótica vai substituir o médico, ainda, os dois maiores inventos da história da medicina são a cadeira e a maca.
A CADEIRA serve para descontrair, relaxar e diminuir a tensão do paciente.
Ele conta sua história clínica para o médico ouvir atento após registro da queixa principal.
O paciente deve responder a clássica tríade: QUANDO começou? ONDE começou? COMO começou? O relato dos antecedentes pessoais é tão importante quanto o interrogatório sobre os diversos aparelhos e sistemas. O médico tenta desvendar o paciente e questiona: como poderei ajudá-lo?!
Esta conversa deve estabelecer em poucos minutos um elo de confiança que é a base do relacionamento médico-paciente.
Na MACA será realizado o exame físico. É realizada a inspeção, a palpação, a ausculta e a percussão. Serão avaliados sinais, mobilidade, tônus, pulsos, reflexos, sons, ruídos, etc.
Quantas vezes o diagnóstico está em olhar as mãos do paciente? (gota, artrite reumatoide, artrose, etc.).
A anemia no exame da mucosa ocular!
Debaixo do estetoscópio quantas doenças cardíacas são descobertas?
O oftalmoscópio detecta a hipertensão intracraniana primeiro que a ressonância!
A esplenomegalia (aumento do baço) é detectada primeiro pela mão do médico e não pela tomografia!
O aneurisma abdominal pode ser flagrado pelo sopro ou frêmito na ausculta do abdome!
Ignorar ou abreviar a anamnese e o exame físico enfraquece o vínculo médico-paciente ou impede a sua formação.
A história clínica é responsável por mais de 40% do diagnóstico. A associação com exame físico pode elevar este acerto em 70%. Os exames laboratoriais ou complementares contribuem com menos de 30%.
Ao contrário que os pacientes pensam e a mídia proclama, a medicina mudou muito pouco com os fantásticos exames de ressonância magnética, tomografias, cintilografias, ecografia, etc.
Ainda hoje constatamos, com extrema surpresa, que nada mudou desde a gripe espanhola de 1918!
Na inesperada e inimaginável COVID preconizamos: distanciamento social, lavar as mãos e usar máscaras!!!
O diagnóstico da virose se baseia na clínica: história de contagio, febre, tosse, falta de ar, etc.
A comprovação por exames e testes é lerda, confusa, falha e imprecisa.
Mas então, a tecnologia não ajudou a medicina?!
Claro que sim! Ajudou na certeza do diagnóstico e principalmente na transmissão e no armazenamento de dados.
Mas é claro também que um computador entre o médico e o paciente, rouba e prejudica a atenção dos dois.
Pior ainda quando o paciente diz “o meu médico passou o tempo todo olhando o computador e não sabe a cor dos meus olhos”.
Ouvir, tocar, examinar geram afeto e confiança. Ainda são as bases primordiais do tratamento médico!
Quantas vezes escutamos após uma consulta com humanismo o paciente dizer: “Dr. o Sr. não vai acreditar, mas já estou me sentindo melhor”
Viva a clínica!
Ela será eternamente soberana!
Prof. Dr.
Professor Titular Ortopedia e Traumatologia da Universidade Federal de Ciências Saúde Porto Alegre/RS – Chefe do Serviço de Ortopedia e Traumatologia da Santa Casa de Porto Alegre/RS – Chefe do Grupo de Quadril do Serviço de Ortopedia e Traumatologia da Santa Casa de Porto Alegre/RS
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
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