Terça-feira, 26 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 12 de outubro de 2020
É intrínseca ao esporte essa mania de provar que nenhuma narrativa é a final. O corpo se aprimora, a tecnologia evolui, o dinheiro amplifica distorções. E, claro, sempre haverá o talento, tão simples quanto arrebatador.
Ainda assim, vez ou outra nos empolgamos por testemunhar o maior de alguma modalidade — apenas para sermos atropelados dali a alguns jogos ou décadas. No domingo (11), fomos duplamente atingidos em um intervalo de poucas horas.
Em Nürburgring, na Alemanha, Lewis Hamilton cruzou a linha de chegada antes de seus rivais pela 91ª vez na carreira, algo que apenas Michael Schumacher fora capaz de fazer. A cerca de 370 km de lá, em Paris, Rafael Nadal aproveitou o match point na final de Roland Garros pela 13ª vez, elevando para 20 sua coleção de títulos de Grand Slams, mesmo número da de Roger Federer.
Nadal
No saibro francês, o touro espanhol é ainda mais indomável que nas arenas. Desde que debutou na Philippe-Chatrier, há 16 edições, Nadal foi superado em apenas duas oportunidades: pelo sueco Robin Söderling, em 2009, e pelo sérvio Novak Djokovic, seu adversário do fim de semana, em 2015 — houve ainda uma desistência, em 2016, por lesão no pulso.
Apenas um retrospecto dessa magnitude poderia fazer com que o número 1 do mundo, justamente o sérvio, entrasse em quadra na condição de azarão.
Quem imaginava um desfecho similar ao de cinco anos atrás teve más notícias logo cedo. Nadal abriu os trabalhos com um pneu, apesar do esforço do rival. O cenário pouco se alterou no segundo set, e apenas no terceiro houve a sensação de que Djokovic despertara. Tarde demais: 6/0, 6/2 e 7/5, em 2h41.
A centésima vitória de Nadal em Roland Garros representou, ao mesmo tempo, seu 13º troféu no saibro de Paris — mais do que qualquer tenista em todos os outros torneios — e sua 20ª conquista de Grand Slam. Ele é agora o maior vencedor de simples entre os homens, empatado com o suíço Roger Federer, seu contemporâneo de genialidade. No feminino, três atletas têm mais conquistas individuais: a australiana Margareth Court (24), a americana Serena Williams (23) e a alemã Steffi Graf (22).
Questionado sobre o feito, Nadal alegou que não estava pensando “em igualar Federer nesse grande número”:
“Roland Garros significa tudo para mim. Vivi a maioria dos momentos importantes da minha carreira aqui. A história de amor que tenho com essa cidade e essa quadra é inesquecível.”
A postura aparentemente blasé do espanhol contrastou com a reação imediata de Federer. O suíço correu para as redes sociais, onde demonstrou que sua classe não se limita às quadras.
“Sempre tive o maior respeito pelo meu amigo Rafa, como pessoa e como campeão. Como meu maior rival por muitos anos, acredito que impulsionamos um ao outro a nos tornamos jogadores melhores. Por isso, é uma honra parabenizá-lo por sua 20ª vitória em Grand Slams (…). Espero que a 20ª seja apenas mais um passo nessa jornada para nós dois. Parabéns, Rafa, você merece”, escreveu Federer.
Hamilton
O gênio igualado por Hamilton não frequenta mais o circuito. E por uma tragédia, das quais nem os imortais escapam, não pôde repetir a cortesia de Federer. Quem o fez foi o filho de Michael Schumacher, Mick, reserva da Alfa Romeo e líder na Fórmula 2. Ele presenteou o inglês com uma réplica do capacete usado pelo pai em sua última temporada na F1, em 2012.
“Todos sabem que ele (Schumacher) é um ícone e uma lenda do esporte. O que ele conquistou em tantas áreas, forçando o limite em termos físicos… Ele foi realmente o pioneiro ao ser o mais preparado na época”, elogiou Hamilton.
O feito do inglês, que já se aguardava há algumas semanas, veio com tranquilidade. Ele aproveitou um erro do companheiro de Mercedes, Valtteri Bottas, para assumir a liderança na 13ª volta. Como o finlandês teve problemas no motor e precisou abandonar a prova, bastou que Hamilton controlasse a distância para Max Verstappen, da RBR.