Quarta-feira, 27 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 20 de novembro de 2020
Decidir onde se sentar no avião sempre foi um exercício de estratégia e habilidade: onde ter mais espaço para as pernas, onde é melhor para dormir, a poltrona com saída mais rápida. E, sem dúvida, agora isso conta mais ainda. Qual é o lugar mais seguro, o onde há menos risco de sentar ao lado de outro passageiro?
Antes de começarmos, aqui vão alguns números tranquilizadores: no terceiro trimestre, a taxa de ocupação da Delta — ou a porcentagem de assentos disponíveis utilizados — caiu de 88% em 2019 para 41%, de acordo com o relatório mais recente aos investidores da aérea, ou seja, o que não falta são voos meio vazios. Novos dados também sugerem que, quando todo mundo está de máscara e outros protocolos são cumpridos, o avião — com seus filtros de ar altamente eficientes — é menos perigoso que a ida ao supermercado. Mas vou deixar os detalhes mais específicos sobre a dispersão viral para os cientistas e tentar destacar algumas coisas que o passageiro pode fazer para evitar ter de compartilhar o descanso de braço com um estranho.
Antes da pandemia, um Boeing 767, por exemplo, acomodava 165 passageiros na classe econômica. Atualmente, a Delta tem um limite de capacidade de 70% em diversas cabines, incluindo a econômica, resultando assim em um número limite de 115. Mesmo no voo em que a ocupação chegar a tanto, é certo que aproximadamente 50 poltronas ficarão vazias.
A empresa, ao contrário de várias outras do ramo, continuará a não usar os assentos do meio até pelo menos o dia 6 de janeiro, na tentativa de manter grupos pequenos, com uma ou duas pessoas. Os de três ou mais pessoas podem pegar as poltronas adjacentes, incluindo as do meio. Nas aeronaves com seções sem assentos do meio — como a configuração 2-3-2 da classe econômica do 767, por exemplo —, outras poltronas serão bloqueadas conforme as passagens forem sendo compradas e os assentos forem escolhidos. Quanto mais as pessoas se sentarem juntas, maiores as chances do passageiro se sentar sozinho quando o avião estiver 70%, mas não há como prever quantos vão viajar sozinhos, em duplas ou em grupos.
Há também algumas formas de ser proativo; o viajante pode usar o aplicativo Fly Delta para mudar de lugar até uma hora antes do embarque. Da mesma forma que tem quem fique atualizando os resultados do Fantasy Football ou a contagem das eleições, o passageiro pode ser “aquele cara” no portão de olho no mapa de assentos. Também pode continuar a fazer mudanças com o agente de embarque e a bordo (talvez extraoficialmente).
“Além disso, se o passageiro não se sentir bem no lugar escolhido ou designado, pode remarcar outro voo sem a multa de mudança ou sem diferença de preço”, escreveu o porta-voz da aérea por e-mail.
Perguntei a Sandra Albrecht, professora assistente de Epidemiologia da Faculdade de Saúde Pública Mailman de Columbia e principal epidemiologista responsável por “Dear Pandemic”, iniciativa de comunicação científica nas redes sociais, se cancelaria o voo se alguém se sentasse ao seu lado.
“Em absoluto. Como tudo relacionado com a Covid-19, o espectro de risco é uma escala variável. Você pode até pensar na proximidade como algo perigoso, mas há outros detalhes que são muito mais relevantes”, diz ela.
A tolerância ao perigo e a saúde variam, é claro. Se o objetivo é ficar o mais longe possível de estranhos, a ideia de que a janela pode ser o lugar mais seguro está correto, pelo menos na teoria.
“Se você estiver no assento da janela e o do corredor estiver vazio, o passageiro mais próximo será o da seção do meio ou lá na outra ponta do avião. Isso já é uma distância de vários metros. Se todos estiverem de máscara, a situação é ótima”, explica Arnold Barnett, professor de Estatística da Faculdade de Administração Sloan, do MIT, que estuda os efeitos de manter os bancos do meio vagos na probabilidade de contágio.
Mesmo assim, nem sempre dá para garantir. Digamos que você tenha escolhido o assento de janela perfeito, mas pá! um bebê chorão força outro passageiro a procurar um lugar mais calmo… a seu lado. Ou é a poltrona que não reclina, forçando alguém a se mudar. Ou o avião está com ocupação de 70% e por alguma razão a matemática força vários passageiros solitários a se sentar juntos.
Se você é do tipo que não tolera esse tipo de incerteza, fique na ponta, na seção do meio — porque aí você terá o corredor de um lado e o assento vazio do meio do outro.
“A vantagem é que ninguém vai se sentar ao seu lado, de modo que você estará distante das pessoas por períodos longos. Porém a movimentação no corredor é maior, o que significa que você pode ter interações breves com muito mais gente”, observa Albrecht.
“A sorte é que a passagem de alguém (para ir ao banheiro, por exemplo) é muito rápida, e se ambos estiverem de máscara não há problema”, comenta Barnett.
Nosso controle e poder de previsão são limitados, por isso os especialistas recomendam exatamente isso: concentrar-se no que se pode prever e controlar.
“Não podemos deixar que a questão de distribuição de assentos faça com que nos esqueçamos da importância de garantir a segurança ao longo de toda a viagem”, alerta Albrecht.
Isso significa permanecer de máscara o tempo todo, comer em casa ou no aeroporto, e esperar o furor inicial para desembarcar. E também manter certa perspectiva: estamos no meio de uma pandemia que arrasou com o setor de viagens aéreas.
Voltar Todas de Viagem e Turismo