Quinta-feira, 26 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 8 de dezembro de 2020
Operação Alcateia foi realizada pelas Polícias Civis gaúcha e paulista
A Polícia Civil gaúcha, com o auxílio de agentes paulistas, deflagrou, na manhã desta terça-feira (08), a Operação Alcateia com o objetivo de desarticular uma organização criminosa especializada em aplicar, principalmente em idosos, o golpe do cartão de crédito clonado.
Foram cumpridos 87 mandados judiciais, sendo 67 de busca e apreensão e 20 de prisão preventiva, no Estado de São Paulo. Durante a ação, 16 criminosos foram presos, entre eles dois líderes da quadrilha. Foram apreendidos diversos objetos relativos aos golpes, inclusive duas centrais telefônicas.
A Operação Alcateia é resultado de investigações realizadas por delegacias de Santa Maria e Pelotas. Estima-se que o prejuízo às vítimas totalize mais de R$ 550 mil. Já foram identificadas 43 pessoas com participação direta e indireta nos crimes, entre as quais “motocas”, responsáveis pela busca dos cartões, “telefonistas”, responsáveis pelo trabalho de instalação da central com o sistema “URA” e também pelo local de onde são feitas as ligações, “fiscais”, responsáveis por fiscalizar as transferências bancárias, e “laranjas”.
No Rio Grande do Sul, foram aplicados golpes em Santa Maria, Cachoeira do Sul, Rio Pardo, Passo Fundo, Pelotas, Rio Grande, Erechim, Caxias do Sul e Soledade. Somente em Santa Maria, foram praticados 67 golpes desse tipo neste ano.
Apurou-se que os dados de 62 mil vítimas, quase todas idosas, foram vendidos para os criminosos por uma empresa. Entre as informações, estão: nome completo, data de nascimento, endereço, telefones fixo e celular, e-mail, escolaridade, profissão, aposentadoria, se a pessoa possui banda larga, renda, banco utilizado e agência bancária. Essa é a forma pela qual os criminosos conseguem dar credibilidade a sua conduta. Dessa maneira, a vítima acredita que está falando com um representante do banco ou central de cartões.
Sobre a atuação dos criminosos:
O golpe começa com a realização de uma ligação para a vítima, geralmente pessoa idosa, onde o interlocutor identifica-se falsamente como funcionário de uma central de monitoramento de cartões, e solicita confirmação de supostas compras, via de regra, realizadas em outros Estados. A vítima relata que não foram autorizadas as supostas compras. Em seguida, o criminoso orienta a vítima a ligar para o seu banco, para o número existente no verso do cartão bancário. Então, a vítima, acreditando que foi alvo de uma clonagem de cartão, liga para o número verdadeiro da central bancária, mas os criminosos desviam a sua ligação por meio de uma central telefônica que tem instalado o sistema “URA” (equipamento para call center).
A partir daí, a vítima passa a falar com outro criminoso, que se identifica como funcionário de uma central de segurança do banco, confirma que o cartão da vítima foi clonado e que estão sendo feitas compras. Então, esse suposto funcionário diz que será necessário realizar um procedimento de bloqueio do cartão e também uma “investigação de clonagem”.
A vítima é orientada a inserir alguns dados pelo teclado do telefone, entre eles a senha do cartão. A todo o momento, o estelionatário está do outro lado da linha dizendo que a ligação é segura e está sendo gravada. A vítima também é orientada a cortar ao meio o seu cartão bancário, sem danificar o chip, escrever uma carta contestando as supostas compras e autorizando uma “investigação junto ao banco e Polícia Civil ou Federal”. Em seguida, é solicitado que a vítima entregue o cartão cortado e a carta, dentro de um envelope lacrado (com cola e grampos), em uma agência de outro Estado, naquele mesmo dia. Quando a vítima diz que não tem condições de fazer isso, o criminoso fala que irá mandar um representante até a casa dela para recolher o envelope com o cartão e a carta. Dessa forma, outro criminoso vai até a casa da vítima e apanha o seu cartão.
Os criminosos comunicam-se o tempo todo, e a senha é repassada para o indivíduo que está em posse do cartão. Assim, são feitos saques e compras via máquinas de cartão débito/crédito, que estão em poder do indivíduo que apanhou o cartão. Nesse mesmo período, o criminoso que está falando com a vítima solicita que o seu aparelho celular seja desligado por algumas horas, para que sejam feitas atualizações de segurança. Isso faz com que a vítima não receba alertas enviados pelo banco a respeito dos saques, compras e transferências efetuados pelos golpistas.
Segundo a polícia, é importante ressaltar que a organização criminosa possui bases em São Paulo e que apenas os indivíduos que recolhem os cartões deslocam-se para as cidades onde moram as vítimas. Esses são os chamados “motocas” ou “retiras” e a todo o momento há comunicação entre eles e sua “base”, em São Paulo. Há fortes indícios de que essa organização criminosa possui ligações com o PCC.