Quarta-feira, 27 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 13 de dezembro de 2020
Presidente nacional do PTB, o ex-deputado Roberto Jefferson prepara seu partido para ser uma alternativa ao Aliança pelo Brasil, sigla lançada ano passado para abrigar o presidente Jair Bolsonaro e que enfrenta dificuldade para sair do papel. Concluída a ‘bolsonarização’ do partido, o PTB teria chance de abrigar o projeto de reeleição de Bolsonaro em 2022. Esse movimento gerou um racha e a desfiliação de quadros históricos da legenda.
Na semana passada, o deputado federal e filho do presidente, Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), admitiu que o Aliança pode não ser autorizado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) até 2022 e que, caso isso aconteça, um dos planos é ingressar um outra sigla.
Essa tese também é defendida pelo entorno do presidente, que, reservadamente, sugeriu que Bolsonaro busque um partido estruturado para disputar a reeleição em vez de insistir no projeto do Aliança. Segundo esses aliados, o PTB é um dos cotados para receber o presidente. Jefferson, que se tornou um defensor estridente das pautas de Bolsonaro nas redes sociais, já convidou o chefe do Executivo a disputar a reeleição pelo PTB.
Para provar lealdade ao presidente, Jefferson promoveu uma intervenção nos diretórios municipais e anulou as convenções partidárias durante as eleições nas cidades onde a sigla apoiaria candidatos de outros partidos que fazem oposição ao Palácio do Planalto. Foram registrados casos em São Bernardo do Campo, Osasco e Presidente Prudente, em São Paulo, Salvador (BA) e Fortaleza (CE). Em áudio obtido pelo Estadão na época, Jefferson diz: ‘Não vamos apoiar partido que é inimigo do Bolsonaro”.
A ação agressiva do dirigente levou o ex-deputado Benito Gama (BA), o ex-senador Armando Monteiro (PE) e o deputado estadual Campos Machado (SP) a se afastarem do partido. “Deixei os cargos do diretório nacional, do diretório da Bahia e estou me desfiliando (do PTB)”, afirmou o ex-deputado Benito Gama, que era vice-presidente nacional do partido e presidente estadual. “Houve a dissidência de alguns Estados com a nacional e alguns Estados se afastaram”, disse, citando também os casos de São Paulo e Pernambuco.
Gama afirmou que, inicialmente, Jefferson havia concordado em manter a decisão do diretório de Salvador em apoiar a candidatura do prefeito eleito da cidade, Bruno Reis (DEM), mas recuou depois. “Foi uma mudança radical. A gente já tinha feito as convenções”, disse o ex-parlamentar sobre a realização da reunião do PTB municipal que oficializou o apoio a Reis. “Aí não dava para ficar.”
Após determinar a anulação das convenções, Jefferson chegou a dissolver o diretório estadual da sigla na Bahia, mas os dirigentes locais conseguiram manter o PTB na aliança que elegeu Reis por meio de um mandado de segurança obtido na Justiça. O presidente nacional preferia apoiar o vereador bolsonarista Cezar Leite (PRTB), que obteve menos de 5% dos votos válidos.
Neste ano, Jefferson fez uma série de movimentos para se aproximar de Bolsonaro. No início da campanha municipal, convidou os deputados estaduais bolsonaristas Douglas Garcia e Gil Diniz, o Carteiro Reaça, ambos expulsos do PSL, a ingressarem no PTB. Garcia assumiu um cargo na executiva paulista da legenda e passou a dividir o diretório com Campos Machado, que teve que desfazer alianças eleitorais.
Candidato a vice de Celso Russomanno (Republicanos) na disputa pela prefeitura de São Paulo, o ex-presidente da OAB paulista, Marcos da Costa, também deixou o PTB. “Não tenho mais razão para ficar no partido”, disse. Ele afirmou que vai se filiar ao Avante. O mesmo partido deve ser o destino de Campos Machado, que está no 8° mandato consecutivo e comandava o partido em São Paulo até sofrer uma intervenção de Jefferson. Ele anunciou a decisão anteontem.
O empresário Luís Felipe Belmonte, vice-presidente do Aliança, disse que continuará com seu projeto mesmo se Bolsonaro optar por outra sigla. “Seremos um partido da base de sustentação”, afirmou. Segundo ele, um mutirão de coleta de assinaturas será feito em dezembro para que o Aliança consiga o número de endossos exigidos pelo TSE, 492 mil. De acordo com Belmonte, grupos de direita ajudarão na coleta.