Quinta-feira, 21 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 4 de maio de 2021
A pandemia agravou outra pandemia que a sociedade já enfrenta há 30 anos, mas que vinha sendo silenciada por conta da estigmatização: a da saúde mental. “A gente tem a oportunidade de agora realmente escutar”, afirma Leandro Pereira Garcia, gerente sênior de gestão de saúde populacional na Amil/UHG. O médico participou de uma Live do jornal Valor Econômico sobre o tema no último dia 29.
Uma pesquisa recente feita pela Fundação Dom Cabral (FDC) e o Talenses Group indica que a pandemia prejudicou a saúde mental de 73,8% dos 573 profissionais entrevistados. Do total, 40% ocupam posições gerenciais e 20,5% são diretores, VPs, C-Level ou conselheiro.
Entre as mulheres (que são 45% dos entrevistados), a pandemia prejudicou mentalmente 80,92% delas. O indicador também foi alto entre os mais jovens. Na geração Z (nascidos a partir de 1991), 80,65% disseram ter sido afetados. “Uma primeira explicação é que as gerações mais novas têm pouca autonomia, recebem as atividades para fazer e há pouco espaço para colocar intencionalidade, seu próprio ponto de vista”, afirma o coordenador da pesquisa Paul Ferreira, professor de gestão estratégica e diretor do Centro de Liderança da Fundação Dom Cabral.
Isso vai contra o que boa parte dessa geração espera da carreira. “Os mais jovens aceitam o trabalho por algo além do salário, tem a questão do propósito, de ter a oportunidade de fazer ‘o que eu faço melhor’, de influenciar a sociedade. Essas questões estão afetadas pela pandemia, por não haver interações sociais”, disse. As mulheres, por sua vez, têm a sobrecarga das tarefas domésticas e do cuidado com os filhos, que ainda hoje recaem sobre o sexo feminino. “Percebemos que a produtividade das mulheres cai em relação à dos homens quando se tem uma ou duas crianças em casa”, afirma Luiz Valente, CEO do Talenses Group.
“Em paralelo, notamos que, mesmo com uma percepção semelhante sobre a mudança no nível de cobrança por parte dos gestores entre homens e mulheres, uma parcela maior delas se sente pressionada a trabalhar mais para mostrar sua produtividade aos respectivos gestores. Aspectos como esses podem influenciar e afetar de diversas maneiras a vida das mulheres de forma negativa.”
É um ambiente que parece piorar algo que já não estava bom. Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) obtidos em um levantamento do ano passado mostram que o Brasil é o país mais ansioso do mundo e o quinto mais depressivo. “Com esse cenário, é urgente discutirmos o papel das organizações sobre o tema e as ações necessárias em prol da saúde mental dos colaboradores”, afirma Carlo Pereira, diretor-executivo da Rede Brasil do Pacto Global da ONU. As informações são do jornal Valor Econômico.