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Comportamento Otimismo obrigatório nas redes sociais pode ser prejudicial à saúde mental

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Vida digital pode causar mal por impor felicidade mandatória. (Foto: Reprodução)

Pensar que o dia de amanhã será melhor que o de hoje é uma estratégia para enfrentar os dias mais difíceis. Mas ser positivo e otimista ao extremo – ou seja, quando não se abre espaço para perceber e sentir a tristeza após alguma situação ruim – pode ser (muito) prejudicial para a saúde mental. É o que os especialistas chamam de “positividade tóxica”.

O boom das redes sociais veio para reforçar esse cenário. Influencers expõem seus corpos e vidas “perfeitas” e atrelam a conquista ao pensamento positivo diário. A “fórmula mágica”, afirmam, é pensar em felicidade para atrair a felicidade, esquecer os sentimentos negativos para nada de ruim acontecer.

Impor, a nós e aos outros, uma felicidade plena todos os dias, uma atitude mais positiva diante das dificuldades e um otimismo irreal – como se tudo fosse ficar bem só porque você quer que fique bem, sem fazer mais nada – não ajuda em nada, na verdade, só atrapalha, afirmam os especialistas. Mais do que isso: faz mal para saúde.

“Crescemos ouvindo que não podemos ficar com raiva ou nos sentindo tristes. Quando a pessoa tenta ser positiva o tempo todo e se depara com a tristeza, ela acaba se culpando por achar que atraiu aquele sentimento”, afirma Thiago Guimarães, psicoterapeuta analítico e especialista em Neurociência e Comportamento. E isso estimula a ansiedade exacerbada.

Foi o que aconteceu com o professor universitário Maurício Bonatto, de 38 anos. Ele afirma que se sentia culpado por ter sentimentos que ele achava que “não deveria sentir”.

“Nos programamos para acreditar que atraímos tudo o que pensamos, então nos esforçamos para pensar coisas boas. Só que isso em um determinado momento passou a causar uma tremenda frustração, porque o que eu esperava que acontecesse não acontecia e eu me culpava por me sentir frustrado e triste”, conta.

O psicanalista Murillo Campos, de 31 anos, conta que cresceu com a ideia de que era o otimismo que fazia as pessoas serem sempre melhores naquilo que gostariam de ser.

“É muito complicado você transmutar crenças que foram implantadas pela sua família e a sociedade de que o natural é estar bem o tempo todo e que normalizar uma situação negativa é algo ruim, que não te trará nada de bom. Hoje consigo entender as minhas dores e como eu vou lidar com elas, sem negação e privação, apenas aceitando o que eu precisar sentir com naturalidade”, diz.

O excesso de positividade e otimismo pode fazer com que a pessoa desenvolva quadros de ansiedade e depressão, já que há uma negação da importância dos sentimentos ruins.

De acordo com Guimarães, a saída para a positividade tóxica é entender que é impossível ser feliz o tempo todo, que haverá dias felizes e outros tristes e que isto faz parte da vida. A saída é acolher tanto a alegria quanto a tristeza, sabendo sentir cada emoção em seu momento oportuno. Para isto acontecer, é preciso investir em autoconhecimento, olhar para si, perceber como você reage diante de situações ruins e aceitar estes sentimentos, afirmam os especialistas.

Falha de atividade cerebral

Um estudo feito por pesquisadores da University College London e da Berlin of Mind and Brain sugere que o otimismo irreal pode ser resultado da falha da atividade dos lobos frontais, uma das áreas do cérebro responsável por processar informações.

Os pesquisadores pediram que os voluntários estimassem a probabilidade de alguns eventos negativos acontecerem em suas vidas no futuro, como doenças e roubo de seu carro. Enquanto isso, eles tinham sua atividade cerebral monitorada por um scanner de ressonância magnética funcional. Depois de um tempo, eles foram informados da probabilidade média de aquelas situações ruins acontecerem em suas vidas e foram convidados a refazer suas estimativas e também preencher uma pesquisa sobre seu nível de otimismo.

Os participantes mudaram suas estimativas apenas quando os dados apresentados no segundo momento era mais positivo do que eles imaginavam. E o exame de imagem mostrou que estas pessoas ativaram os lobos frontais do cérebro para reprocessar a informação recebida e dar uma nova probabilidade de chance de algo ruim no futuro.

Já os mais otimistas – aqueles que mantiveram suas previsões abaixo do que a estimativa mostrava como chance de algo ruim acontecer – tiveram menos atividade cerebral nesta região.

Na avaliação dos autores, os resultados sugerem que escolhemos as informações que queremos ouvir e alertam que isso pode ser perigoso, já que a crença de que tudo vai dar certo faz com que muitas pessoas não tomem medidas de segurança, como cuidar da saúde ou poupar dinheiro para o futuro.

Esperança é melhor que otimismo

Desejar que coisas boas aconteçam não é necessariamente algo ruim, no entanto. Na verdade, é preciso que haja um equilíbrio. Por isso, o indicado é ter esperança e não otimismo. Mas, qual é a diferença entre os dois?

O otimismo é que tudo vai funcionar bem, sem chance de algo dar errado. Já a esperança é a expectativa de que as coisas vão dar certo, sabendo que podem não dar.

Pessoas esperançosas desejam o bom, mas se preparam para o caso de algo não sair como o planejado. Já os otimistas pensam que não há chance de erro – o que gera uma grande frustração quando algo de ruim acontece, já que não era esperado.

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https://www.osul.com.br/otimismo-obrigatorio-nas-redes-sociais-pode-ser-prejudicial-a-saude-mental/ Otimismo obrigatório nas redes sociais pode ser prejudicial à saúde mental 2021-10-05
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