Em coletiva ao lado do premiê britânico Boris Johnson, no domingo (14), Sharma adotou um tom mais contemporizador, dizendo que “diminui-se (o uso de carvão) antes de eliminar-se” e reiterando que é a primeira vez na história que um acordo climático menciona ambições relacionadas à redução do carvão.
Na mesma entrevista, Boris Johnson afirmou que a conferência trouxe um acordo “divisor de águas” que será a “sentença de morte para a energia a carvão”. Mas, apesar das conquistas da conferência, ela tem um “tom de decepção”, agregou o premiê.
“Aqueles para quem as mudanças climáticas já são uma questão de vida ou morte, que só podem assistir enquanto suas ilhas se submergem, suas terras agrícolas se convertem em deserto, que têm suas casas destruídas por tempestades, essas pessoas exigiam um alto nível de ambição da conferência”, declarou.
“Enquanto muitos de nós estávamos dispostos a isso, o mesmo não valeu para todos”, acrescentou o premiê, sem mencionar explicitamente Índia e China. “Infelizmente essa é natureza da diplomacia. Podemos fazer lobby, persuadir, encorajar, mas não podemos forçar nações soberanas a fazerem o que não querem. No fim das contas é decisão delas, e devem bancá-las.”
Ao mesmo tempo, Johnson disse que a difícil meta de manter o aquecimento global abaixo de 1,5°C (acordada na conferência climática anterior, em Paris-2015) “ainda está viva”.
O carvão, grande emissor de gases do efeito estufa, ainda é uma fonte energética substancial em países como Índia e China — este último queima mais carvão do que todo o resto do mundo junto.
O correspondente da BBC na China, Stephen McDonell, confirma que a aliança sino-indiana para a mudança de última hora no texto tem sido vista como um esvaziamento para aqueles que esperavam um resultado mais ambicioso em Glasgow.
Mas ele ressalta que, internamente, o governo chinês já sabe que terá de reduzir sua dependência do carvão como fonte de energia — a questão crucial para Pequim é a velocidade com que isso vai ser feito.
O argumento de Pequim, diz McDonell, é que países desenvolvidos são responsáveis pela maior parcela do aquecimento que hoje recai sobre o mundo inteiro, e se tornaram ricos nesse processo. Portanto, prossegue esse argumento, os países desenvolvidos deveriam ser mais tolerantes com países como a China.
Embora tenha havido decepção por parte de ambientalistas, muitos ressaltam o caráter histórico da conferência encerrada no sábado.
“Esta é a primeira vez que uma decisão na Convenção do Clima reconhece explicitamente a necessidade de transição de combustíveis fósseis para renováveis. Já tínhamos visto propostas nesse sentido em rascunhos de decisões anteriores, como do próprio Acordo de Paris, mas elas não sobreviveram em texto final”, disse Natalie Unsterstell, especialista em política climática e integrante do Grupe de Financiamento Climático para América Latina e Caribe.
“É um reflexo direto de que os combustíveis fósseis estão perdendo sua licença social, isto é, sua licença para existir.”
A diretora-executiva internacional da ONG ambientalista Greenpeace, Jennifer Morgan, disse que o acordo “é tímido, é fraco, e a meta de 1,5°C está no limite da sobrevivência, mas foi emitido o sinal de que a era do carvão está chegando ao fim. E isso importa”.
Acrescentou que “se você é um executivo de uma empresa de carvão, esta COP teve um desfecho ruim para você”.