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Política PSDB expõe divisão em prévias neste domingo para escolha do candidato do partido a presidente

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Em modelo inédito, Arthur Virgílio, Eduardo Leite e João Doria disputam votos de filiados.

Foto: Reprodução
Arthur Virgílio, Eduardo Leite e João Doria disputam votos de filiados. (Foto: Reprodução)

O PSDB realiza neste domingo (21) as prévias do partido para definir quem será o candidato tucano na eleição para presidente da República em 2022.

A disputa se dá em meio a divergências internas. Segundo os organizadores, as prévias foram a solução encontrada para viabilizar a “unidade” partidária.

Ao todo, quase 45 mil filiados, entre militantes e detentores de mandato, devem votar em um dos três candidatos:

  • Arthur Virgílio, 76 anos, ex-prefeito de Manaus e ex-senador
  • Eduardo Leite, 36 anos, governador do Rio Grande do Sul
  • João Doria, 63 anos, governador de São Paulo

O senador Tasso Jereissati (CE) chegou a registrar o nome na disputa, mas acabou desistindo de concorrer.

Esta será a primeira vez que o partido recorrerá à realização de prévias para escolher o candidato ao Palácio do Planalto.

O presidente nacional do PSDB, Bruno Araújo, afirmou que o modelo é um procedimento “sem volta” e deve passar a ser incorporado como rotina partidária.

“As pessoas se acostumam com a incorporação de poder. O PSDB transferiu um poder concentrado, desde a sua fundação – em poucos – e pulverizou esse modelo de decisão para todo o conjunto do partido. Isso não terá mais volta”, disse.

A adoção das prévias foi necessária porque o PSDB enfrenta uma divisão interna sobre quem deve ser o candidato e, apesar das tentativas de acordo, não houve consenso.

Tucanos afirmam que historicamente a legenda costuma ter mais de um postulante – como em 2010, com Aécio Neves e José Serra. No entanto, em nenhuma das ocasiões anteriores a escolha teve de ser definida no voto.

“As pessoas falam muito em divisão, em disputa, como se eleição fosse distribuição de beijos e abraços. Eleição é disputa. É assim com os democratas e os republicanos na maior democracia do Ocidente [os Estados Unidos], não vai deixar de ser assim conosco”, afirmou Bruno Araújo.

Entre os tucanos, a avaliação é que a disputa está concentrada entre Doria e Leite, e o resultado será imprevisível.

“Acho que hoje não tem favorito. O Arthur, claramente, teve uma presença nas prévias para afirmar certas questões, como a da Amazônia e da sustentabilidade. De outro lado, o Leite e o Doria estão numa disputa mais acentuada. Acho difícil, neste momento, prever o resultado – o que dá ainda mais motivação às tropas, aos filiados, de se posicionarem, tentar ganhar voto. Por isso venho dizendo que as prévias serão quentes – no bom sentido e para o debate”, afirmou o senador José Anibal (PSDB-SP), coordenador da Comissão de Prévias.

Divergências

Nos últimos meses, os candidatos a candidato viajaram para diversos Estados em busca de apoio entre os tucanos. Também participaram de debates para apresentar propostas.

Nesse período, houve uma série de desentendimentos sobre a forma de contabilidade dos votos, com acusações de tentativa de fraude sobre o sistema eletrônico de votação.

Na reta final da campanha, em revelação que tensionou o debate, veio a público a informação de que Eduardo Leite telefonou para Doria a fim de repassar um pedido de um ministro do governo Bolsonaro para que o início da vacinação contra a Covid, em janeiro deste ano, fosse adiado.

Em reação, o governador gaúcho negou ter feito qualquer tipo de pedido para Doria atrasar a vacinação, e chamou a divulgação do episódio de “tentativa de factoide” nas prévias.

O PSDB quer lançar um pré-candidato justamente para se opor, desde já, ao presidente Jair Bolsonaro.

Em 2018, após a derrota de Geraldo Alckmin (quarto colocado no primeiro turno), tanto Doria quanto Leite apoiaram Bolsonaro no segundo turno.

No início da gestão, os tucanos adotaram posição de independência em relação ao governo. Após os atos com ameaças golpistas em 7 de Setembro, o partido anunciou que migraria para a oposição. Na prática, porém, ainda há parlamentares da legenda alinhados ao Planalto.

“As divergências existem. Tem gente que acha que deve jogar para debaixo do tapete. Aí parece que está tudo calmo, aquela anestesia geral. É uma falsa solução. Democracia é vida, é uma forma de tratar divergência. As diferenças existem, as divergências existem, mas você pode ou jogar para debaixo do tapete e fingir que não existe ou explicitar, botar à luz do dia e debater – como foi feito”, afirmou Marcus Pestana, coordenador das prévias.

O governador Eduardo Leite, que tem protagonizado embates com Doria, ressaltou a sua baixa rejeição no eleitorado.

“Não é feio olhar e ressaltar que existem candidatos com mais rejeição do que outros, o que, na minha visão, deve ser observado agora. Essa rejeição pode ser injusta, mas ela existe, e, se o PSDB quer voltar a protagonizar o processo político, não pode apresentar um candidato rejeitado”, disse.

Pesquisa Datafolha divulgada em setembro mostrou que dentre os postulantes à vaga tucana ao Palácio do Planalto, Doria é o mais rejeitado: 37% dos entrevistados disseram que não votariam nele de jeito nenhum; em relação a Eduardo Leite, a rejeição foi de 18%, segundo a pesquisa. Arthur Virgílio não foi testado no levantamento.

Sobre ter apoiado Bolsonaro em 2018, Leite disse que, embora tenha se alinhado ao então candidato, não estava de acordo com o que ele defendia.

“Bolsonaro é, sem dúvida nenhuma, além de um problema para a democracia, um problema para a economia. Está aí. É um problema na vida das pessoas”, afirmou.

Já João Doria usou a estratégia de se colocar como o candidato alternativo a Bolsonaro e Lula. “Nós temos que ter um caminho diferente para o Brasil, com desenvolvimento econômico, com paz social, com proteção aos mais pobres, oportunidade de emprego e com honestidade”, afirmou.

Na tentativa de transmitir uma imagem popular, Doria afirmou que foi eleito governador não só por ricos, mas por toda a população.

Ele disse ter começado a vida como office boy e ganhando um salário mínimo e também disse que frequentou escola pública por não ter dinheiro para estudar em uma particular. “Não nasci engomado. Nasci trabalhando”, contou.

Arthur Virgílio pediu que o partido se posicione, de forma clara, contra o governo do presidente Jair Bolsonaro. Ele criticou parlamentares que votaram a favor da PEC dos Precatórios, aposta do governo para abrir espaço fiscal e bancar um novo auxílio social para a população em ano de eleições.

O pré-candidato nas prévias tucanas também destacou que, se escolhido presidenciável da sigla, vai dar ênfase à proteção da Amazônia e defenderá o chamado “tripé macroeconômico”, além da retomada do ambiente de reformas para auxiliar na saída da crise.

“Se a gente quer falar sério sobre a saída da crise, temos que dizer que o PSDB vai reinserir, no contexto da economia, logo de cara, o tripé macroeconômico, que é a responsabilidade fiscal, a meta de inflação e o câmbio flutuante, com a vigilância clara do Banco Central”, propôs Virgílio.

Como vai ser

A votação está prevista para acontecer entre 8h e 15h deste domingo. A expectativa é que o resultado seja divulgado no fim da tarde.

Se não houver maioria dos votos para um candidato, está previsto um segundo turno no próximo domingo (28).

Há duas maneiras de votação: presencial, por meio de urna eletrônica, e de forma remota, por aplicativo.

Podem votar em Brasília detentores de mandatos (governadores, deputados federais e estaduais, senadores e prefeitos), além do presidente e dos ex-presidentes do PSDB.

O aplicativo será utilizado por vereadores e filiados de todo o País. Ao todo, 44,7 mil tucanos estão cadastrados para votar.

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