Segunda-feira, 23 de dezembro de 2024
Por Dad Squarisi | 19 de dezembro de 2021
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
É clima de Natal: estresse de compras, presentinhos, corre-corre sem fim. É hora de distribuir sorrisos, telefonar aos amigos, desejar feliz Natal aos conhecidos e desconhecidos. Sobretudo, é hora de estar atento aos requintes da língua. Nada de deslizes. O menino Jesus é bonzinho. Mas é filho de Deus. Perfeição é seu vício. Valem dicas pra manter o espírito da data.
Dica 1
Natal é nome próprio. Escreve-se com a inicial grandona. Mas os adjetivos que o acompanham não têm nada com isso. Vira-latas, grafam-se com a letrinha pequena: Desejo-lhe feliz Natal. Meus votos de alegre Natal e um 2022 pra lá de generoso.
Dica 2
Papai Noel é o bom velhinho. O nome vem do francês Père Noël. Significa Pai Natal. Generoso, o gordinho de barbas brancas e roupas vermelhas distribui brinquedos pra garotada e presentes pra todos. Ele tem um filhote. É papai-noel. Assim, com hífen e letra minúscula. Quer dizer presente de Natal: O que você quer de papai-noel? Ainda não comprei seu papai-noel. Para completar minha lista, preciso de mais três papais-noéis.
Dica 3
Presentear e cear pertencem ao vocabulário natalino. Ambos jogam no mesmo time. Cuidado com eles! Como passear, armam ciladas no presente do indicativo e do subjuntivo. O nós e o vós, orgulhosamente, esnobam o i. As outras pessoas carregam a vogalzinha com a resignação cristã: eu passeio (presenteio, ceio), ele passeia (presenteia, ceia), nós passeamos (presenteamos, ceamos), vós passeais (presenteais, ceais), eles passeiam (presenteiam, ceiam); que eu passeie (presenteie, ceie), ele passeie (presenteie, ceie), nós passeemos (presenteemos, ceemos), vós passeeis (presenteeis, ceeis), eles passeiem (presenteiem, ceiem).
Dica 4
A invenção foi de São Chiquinho de Assis. A missa começava à meia-noite de 24 de dezembro. Durava um tempão. Só terminava na madrugada do dia seguinte. Quando os fiéis saíam da igreja, os galos estavam cantando. Daí o nome missa do galo.
Dica 5
Cristo não foi pouca coisa. O nascimento do garotinho mudou a referência do tempo. Os acontecimentos anteriores à vinda dele receberam a marca antes de Cristo. Depois dele, depois de Cristo. A abreviatura é assim: a.C. e d.C. Desse jeitinho — o a e o d minúsculos. O C, majestoso, maiúsculo.
Dica 6
Os reis magos souberam do nascimento de Cristo. Presentearam-no com ouro, incenso e mirra. Os dois primeiros são velhos conhecidos. O último nem tanto. Vale a curiosidade. Mirra, planta medicinal, encontra-se aqui e ali sem dificuldade. Era usada para embalsamar cadáveres. Daí, por extensão, ganhou o significado de secar, ressequir, diminuir, reduzir-se, minguar-se: O salário mirra, o mês cresce.
Dica 7
Na época do Natal, o coração fica molinho, molinho. Creches, asilos, instituições de caridade fazem a festa. Ao usá-lo, lembre-se da mudança. O hiato o/o exibia vistoso chapeuzinho. A reforma ortográfica o cassou. A duplinha ficou assim, sem lenço e sem documento: voo, perdoo, abençoo, coroo.
Leitor pergunta
“Prefiro morrer do que perder a liberdade”, disse o presidente Bolsonaro. Tropeçou na regência, não? — Carlos Emmanuel, Brasília.
Tropeçou. Prefere-se uma coisa a outra, não “do que” outra: Prefiro cinema a teatro. Prefiramos peixe a carne. Prefiro a morte a perder a liberdade.
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.