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Por Redação O Sul | 15 de fevereiro de 2022
Morreu, na madrugada dessa terça-feira (15), o cineasta, cronista e jornalista Arnaldo Jabor, aos 81 anos. Ele estava internado no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, desde o dia 17 de dezembro, depois de sofrer um acidente vascular cerebral. A família informou que a causa da morte foram complicações do AVC.
Ex-mulher de Jabor e mãe de um de seus filhos, João Pedro, a produtora de cinema Suzana Villas Boas escreveu, numa rede social: “Jabor virou estrela, meu filho perdeu o pai, e o Brasil perdeu um grande brasileiro”. O cineasta deixa três filhos, João Pedro, Carolina e Juliana.
Trajetória frutífera
Nascido em 12 de dezembro de 1940 no Rocha, bairro da Zona Norte carioca, Arnaldo Jabor era filho de um oficial da Aeronáutica e de uma dona de casa. Em uma crônica, descreveu o pai como “exemplo de resistência espartana, de chorar sem lágrimas”. “Claro que virei artista, claro que enquanto ele me deu um livro nunca aberto sobre mineração de carvão eu ia ler Rimbaud e escrever poesia”.
Em mais de 50 anos de carreira, Jabor, que foi colunista do jornal O Globo de 1995 a 2016, viveu entre o cinema, o jornal, a TV e o rádio, ora tratando de política, ora contando uma história da juventude — ou unindo os dois como um malabarista. Em seus filmes e textos, procurava observar a sociedade brasileira, compreender suas contradições e criticar suas hipocrisias.
Diretor do Cinema Novo, o cineasta inaugurou a linha do “cinema verdade” de Jean Rouch, aproximando a câmera das pessoas nas ruas e dando destaque às contradições da classe média, da qual o próprio fazia parte.
Seu primeiro longa-metragem “A opinião pública” (1967) foi um marco no documentário brasileiro moderno. Através de depoimentos de personagens como estudantes, donas de casa e aposentados, o filme traça um painel da classe média carioca após o golpe militar de 1964, evidenciando seus comportamentos, suas inclinações e, sobre tudo, sua ignorância a respeito da realidade brasileira. A obra faz uma referência ao próprio diretor, que sempre se apresentou como uma voz crítica diante da opiniao pública.
“Há uma semelhança do tempo em que fiz “A opinião pública” para hoje. Naquela época, o Brasil também estava dividido em dois e ninguém falava da classe média. Fiz o filme para mostrar a perplexidade de um grupo que não tinha a menor ideia do caminho que deveria seguir. É uma sensação que continua hoje”, declarou o jornalista em entrevista em 2014, ao lançar a coletânea “O malabarista — Os melhores textos de Arnaldo Jabor”.
Nos anos 1970, Jabor tornou-se um dos mais bem-sucedidos diretores do país com filmes como “Toda nudez será castigada” (1973), que conquistou o Urso de Prata no Festival de Berlim e foi o primeiro vencedor do Festival de Cinema de Gramado. Adaptado da obra teatral homônima de seu amigo Nelson Rodrigues, o drama acompanha um conturbado triângulo amoroso (às escondidas) entre um viúvo, sua amante e seu próprio filho.
Baseado novamente em textos de Rodrigues, Jabor lança “O casamento” (1975), um espelho dos anseios da classe média, repleto de sátiras e ironias, que rendeu o Kikito de Ouro de Melhor Atriz Coadjuvante para Camila Amado. Na mesma linha, mais um estouro: “Tudo bem” (1978), com nomes como Paulo Gracindo, Fernanda Montenegro e Zezé Motta. A obra, aliás, está na lista dos 100 melhores filmes brasileiros de todos os tempos, editada pela Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine).
As crises amorosas e existenciais voltaram a ser objeto do roteirista e diretor em “Eu te amo” (1980), com Paulo César Pereio, Sônia Braga, Tarcísio Meira, Vera Fischer e Regina Casé no elenco. Intimista e sexual, o filme culmina num grande delírio musical em celebração ao amor e à vida. Foi indicado ao pêmio de melhor filme no Festival de Gramado em 1981 e saiu vencedora em três categorias: melhor atriz (Sonia Braga), melhor som e melhor cenografia.
Cronista da política e do afeto
A crise que engoliu o cinema brasileiro durante o governo Collor, no início dos anos 1990, forçou Jabor a buscar outras fontes de renda. Passou a comentar política. O cineasta se transformava em um cronista arguto, performático, feroz com os políticos e interessado no destino do País. Míriam Leitão descreveu-o como um “polemista” que gostava de um bom conflito, aquele que nos faz pensar e enxergar um outro ângulo de um mesmo assunto”.
Jabor, porém, não escrevia só sobre política. Uma crônica de 2002, “O amor atrapalha o sexo”, que relata uma conversa praia com duas moças, inspirou a canção “Amor e sexo”, sucesso de Rita Lee. As crônicas se Jabor não demoraram a encontrar o caminho dos livros. Ao todo, foram oito coletâneas de crônicas.