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Por Redação O Sul | 24 de março de 2022
O real apresenta o melhor desempenho frente ao dólar na comparação com uma cesta de 22 moedas, composta tanto por divisas de economias emergentes quanto de desenvolvidas.
Nesta quinta-feira (24), a moeda americana engatou o sétimo pregão de queda ante o real e fechou cotada a R$4,8319, baixa de 0,25%, após atingir a mínima de R$ 4,7655. É o menor nível de fechamento desde o pregão do dia 13 de março de 2020, quando a divisa terminou cotada a R$ 4,8127. No ano, o dólar já tem queda de 13,33% ante o real.
Levantamento feito pela Economatica a pedido do jornal O Globo mostra que o real foi a moeda que mais se valorizou (alta de 16,1% até o último dia 23) no ano frente ao dólar, considerando o desempenho de uma cesta de moedas de mercados emergentes e alguns desenvolvidos. O rublo, da Rússia, por exemplo teve uma queda de 27,17% frente ao dólar no mesmo período.
O cálculo é baseado na taxa Ptax para venda, do Banco Central, usada como referência para operações em moeda estrangeira.
A baixa do dólar já ocorre desde o início do ano, mas se intensificou nos últimos pregões.
Por que caiu?
O Brasil vem se aproveitando de uma rotação de carteira dos investidores internacionais.
Eles têm procurado papéis de “valor”, como são conhecidas as empresas com histórico mais consolidado, entre elas as de commodities e bancos, setores com forte peso no índice brasileiro.
A rotação ocorre pela perspectiva de elevação dos juros americanos, que prejudica papéis de “crescimento”, como são chamadas as companhias que apostam em teses de crescimento futuro. Essas ações costumam ser as mais afetadas por um ambiente de alta nos juros.
O movimento ajuda a trazer mais dólares para o nosso mercado e, por tabela, contribui na desvalorização da divisa.
Até o pregão do dia 22 de março, o fluxo estrangeiro no segmento secundário da B3, aquele com ações já listadas, estava positivo em R$ 83,593,6 bilhões.
O nosso patamar de juros elevados também impulsiona o real, com o BC brasileiro iniciando seu processo de normalização monetária muito antes do que seus pares externos.
O diferencial entre as taxas praticadas internamente e no mercado externo está elevado e estimula a prática chamada de carry trade, que consiste em tomar o dinheiro em países onde as taxas são baixas e investir em outros que têm juro maior e que trazem, portanto, mais rentabilidade.
“O diferencial de juros é muito importante para o real. O Brasil, com nosso diferencial atual, deve ser o número um do ranking. E por falta de outras oportunidades, os recursos vêm para cá”, destaca o sócio e gestor da Galápagos Capital, Sérgio Zanini.
Além disso, o patamar elevado do preço de commodities, que ficaram ainda mais pressionados com a guerra na Ucrânia, ajuda moedas de países exportadores, como é o caso brasileiro.
E se, por um lado, o conflito tende a pressionar a, já elevada, inflação global, do outro, ele coloca o Brasil como um emergente mais atraente, na comparação relativa, frente a seus pares.
Pode cair mais?
Em relatório divulgado esta semana, o Credit Suisse vê ainda mais espaço para a valorização do real.
Além do diferencial de juros e melhora dos termos de troca devido aos preços altos das commodities, o banco destaca que a moeda local vinha em um processo de desvalorização nos anos anteriores.
Os analistas do Credit destacam que tal valorização dependerá da “redução da incerteza política e fiscal nos próximos meses”.
O que pode atrapalhar?
Os analistas também ressaltam que a incerteza em relação as eleições presidenciais é “significativamente alta”.
“É incerto qual será a política econômica do novo governo, em particular no que diz respeito ao processo de consolidação fiscal, uma vez que os principais candidatos ainda não forneceram orientações claras sobre isso”, destacaram os analistas Solange Srour, Lucas Vilela e Rafael Castilho
Além das incertezas políticas, os analistas do Credit ressaltam que as contas fiscais, que, na avaliação do banco, permanecem frágeis, o adiamento das discussões de reformas fiscais e um aperto monetário mais forte em economias desenvolvidas, como fatores de risco para a apreciação do real.
O Credit Suisse mantém sua avaliação neutra para o real, com leve viés positivo para o curto prazo, com a moeda sendo cotada em R$ 5 em 3 meses e R$ 5,30 em 12 meses.
Para Zanini, da Galápagos, no curto prazo, o real pode se apreciar ainda mais no curto prazo.
“O fiscal de curto prazo é positivo, com a arrecadação muito forte. Por outro lado, o diferencial de juros está muito grande, você teve um choque positivo nos termos de troca no Brasil. A conjuntura nos próximos três meses é bem positiva e ajuda a sustentar e validar este nível de câmbio.” As informações são do jornal O Globo.