Quinta-feira, 28 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 8 de abril de 2022
Alckmin e Lula durante reunião entre as diretorias do PT e do PSB sobre aliança para as eleições de 2022.
Foto: ReproduçãoO ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSB) se reuniram na manhã desta sexta-feira (8) em hotel na zona sul da capital paulista, para negociar a chapa que irá concorrer à Presidência nas eleições de outubro. No encontro, o diretório nacional do PSB entregou a Lula e à presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, uma carta na qual o partido oficializa o nome de Alckmin como candidato a vice-presidente na chapa presidencial.
O ex-presidente enalteceu a experiência de Alckmin e garantiu que a união será selada com aprovação do PT. “Ô Alckmin, eu tenho certeza que o Partido dos Trabalhadores irá aprovar o seu nome como candidato a vice”, disse Lula, no encontro. “Nós estamos dando uma demonstração muito forte ao Brasil.” Na carta, o PSB afirma que a disputa eleitoral não estará relacionada “aos embates de natureza histórica entre esquerda e direita”, em referência à rivalidade entre as lideranças no passado.
A costura para o lançamento da união entre os dois começou no início do ano passado e se tornou pública em dezembro, quando Lula e Alckmin se encontraram em um jantar organizado pelo grupo de advogados chamado Prerrogativas. Os dois apareceram juntos logo após o ex-governador ter deixado o PSDB depois de 33 anos no partido. De lá para cá, Alckmin se filiou ao PSB, abrindo caminho para uma composição com o PT na disputa nacional, e fez elogios ao ex-presidente.
No discurso desta sexta-feira, Lula enalteceu a experiência de Alckmin e a dele mesmo. “Vocês sabem que isso nós precisamos para consertar o Brasil: a experiência do Alckmin, a minha experiência e os compromissos que vamos assumir”, disse o ex-presidente. Lula garantiu que o PSB participará da elaboração do programa de governo junto ao PT. “Essa chapa aqui, se ela for formalizada, não é só para disputar as eleições. (…) Nós vamos conversar com toda a sociedade brasileira”, disse, aplaudido por Alckmin. “Nós estamos dando uma demonstração muito forte ao Brasil”, disse Lula, apertando a mão do ex-governador.
O diretório nacional do PT deve analisar oficialmente a aceitação do nome do ex-tucano na próxima semana, mas os dirigentes partidários já têm dito publicamente que a maioria apoia a chapa com Alckmin. Em jantar a empresários, a presidente nacional do partido, Gleisi Hoffmann, afirmou que o ex-governador será importante durante a campanha.
Na carta entregue aos petistas, o presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, disse que a inclusão de Alckmin na chapa irá “somar potência e amplitude à resistência contra o autoritarismo que será liderada pelo companheiro Lula”.
“É preciso reconhecer que a disputa que se dará no pleito eleitoral pela Presidência da República não está propriamente relacionada aos embates de natureza histórica, entre esquerda e direita. O que estará em questão nas eleições de 2022 é o confronto decisivo entre democracia e autoritarismo”, escreveu Siqueira.
A carta do PSB também evidencia o quanto Alckmin precisou “mudar”, como disse o ex-presidente Lula, para selar a aliança com os petistas e se filiar ao partido dirigido por Carlos Siqueira. No documento, a legenda critica de maneira implícita, por exemplo, reformas do governo Michel Temer (MDB) que foram apoiadas pelo ex-tucano em meados de 2017, quando implementadas pelo governo federal.
O presidente nacional do PSB introduz a carta falando em “crise política sem precedentes” e uma “crise social promovida pelo ultraliberalismo”. “Este cenário, que se instaurou com o governo Temer e que se agravou no governo de Jair Bolsonaro, compreende ainda um desafio particular e agudo, ou seja, as iniciativas no sentido de impor um termo ou limites ao regime democrático e ao Estado de Direito.”
O revogaço de reformas trabalhista e previdenciária promovidas pelo governo Michel Temer estão entre as principais plataformas de plano de governo debatidas internamente pelos petistas e pela fundação do partido, a Perseu Abramo, que reúne economistas da confiança de Lula. A entidade é presidida pelo ex-ministro Aloizio Mercadante.
Na reunião, pelo PT participaram, além de Lula e Gleisi, o secretário de comunicação do PT, Jilmar Tanto; o secretário-geral do partido, deputado Paulo Teixeira; o presidente da Fundação Perseu Abramo, Aloizio Mercadante; o senador Paulo Rocha e os deputados José Guimarães e Reginaldo Lopes. No lado do PSB estão Alckmin, Siqueira, os ex-governadores Márcio França e Paulo Câmara, o prefeito de Recife, João Campos, os deputados Alessandro Molon e Danilo Cabral, o deputado estadual Caio França e o vice-presidente do PSB-SP, Jonas Donizete.
Histórico
Até meados do ano passado, Alckmin se colocava como pré-candidato ao governo de São Paulo. Foi nesse contexto que o ex-prefeito Fernando Haddad (PT), também um nome da disputa estadual, abriu diálogo com o ex-governador. À época, já era certo que Alckmin deixaria o PSDB – em virtude de desavenças com João Doria, principalmente –, e a intenção de Haddad era convencê-lo a apoiar Lula já no primeiro turno, ainda no palanque estadual.
As conversas entre o ex-prefeito e o então tucano começaram no início de 2021. Em outubro, quando Alckmin ainda cumpria agenda de pré-candidato, Haddad afirmou a repórteres, após um evento em São Paulo, que os partidos políticos não podiam “cometer o mesmo erro” de 2018, ano em que, segundo ele, faltou união entre as legendas para derrotar Jair Bolsonaro. Na ocasião, o petista defendeu a formação de alianças de primeiro turno. Havia sido noticiado na imprensa que, dias antes, ele e o ex-governador haviam se encontrado para um jantar.
No fim do ano passado, rumores sobre Alckmin assumir a vice na chapa de Lula começaram a ganhar corpo. Quando foi questionado sobre o assunto pela primeira vez, o ex-governador não descartou que poderia ocorrer. Disse que ficaria “honrado” pela possibilidade. O ex-presidente Lula, por sua vez, também começou a dar sinais fortes de que a aliança poderia se concretizar. O líder petista chegou a dizer que queria montar uma chapa forte “para vencer no primeiro turno”.
Havia, contudo, um empecilho: Alckmin não tinha partido definido. Após se desfiliar do PSDB – e mesmo antes, quando somente havia manifestado a intenção -, o ex-tucano passou a contar com uma carta de opções para seu futuro político. Foi cortejado pelo PSD, União Brasil, PV e Solidariedade, ao mesmo tempo em que havia um esforço para aproximá-lo do PSB, partido de seu amigo e possível vice de sua chapa para São Paulo, Márcio França.
As negociações com o PSB enfrentaram percalços antes de se concretizar a filiação. Embora nunca tenha negado que apoiaria Lula no plano nacional, a legenda divergiu do PT em palanques estaduais quando ambas tentavam uma federação, o que poderia ter abalado, de alguma forma, o acordo.
Ao mesmo tempo, a aliança encontrava resistência de uma ala do partido dos trabalhadores que rejeitava o passado político de Alckmin. A deputada Natália Bonavides (PT-RN) chegou a chamá-lo de “golpista” e classificou o certame como uma “piada de mau gosto”. Aliado do PT, Guilherme Boulos também desaprovava o casamento.
Em 19 de dezembro, Lula e Alckmin estiveram em um jantar organizado pelo grupo de advogados Prerrogativas, em São Paulo, e posaram juntos para foto.
Por fim, Alckmin se filiou ao PSB no dia 23 de março. Após anos de divergências e críticas públicas, o ex-governador afirmou, em seu evento de filiação, que “Lula é a esperança” do País.