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Por Redação O Sul | 10 de julho de 2022
A biópsia líquida usa principalmente sangue (embora também possa utilizar urina ou outros fluidos do corpo), para analisar se há a presença de células de um tumor maligno ou de fragmentos do DNA das células tumorais.
“O exame recebe esse nome para se diferenciar da biópsia sólida, na qual você tira um fragmento do tumor e analisa no microscópio, uma técnica mais invasiva”, explica Héber Salvador, cirurgião oncológico e presidente da SBCO (Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica).
Atualmente, o teste é usado em alguns países, o Brasil entre eles, apesar de a técnica ainda ser pouco difundida aqui, principalmente para acompanhar pacientes que já são diagnosticados com câncer.
É possível avaliar, por exemplo, a eficácia de um tratamento (como a quimioterapia), e a possibilidade de recidiva (volta do câncer) em um paciente já em remissão pela análise de presença de celular tumorais após o fim de um tratamento. Apesar de já ser utilizada para outros tipos de câncer, seu maior uso é em pacientes com câncer colorretal e câncer de pulmão, já que são essas as doenças com mais pesquisas que reforçam benefícios da técnica.
Mas de acordo com os especialistas, a técnica pode oferecer muito mais no futuro.
Por meio da biópsia líquida, o mesmo sangue que tiramos para checar doses de glicemia e colesterol, de acordo com os médicos, deve nos indicar, nos próximos anos, se estamos com células cancerosas muito antes de um tumor aparecer — além de oferecer informações bem específicas sobre o tipo do câncer.
Isso possibilitaria uma intervenção precoce, o que para muitos cânceres é o principal fator determinante no sucesso do tratamento.
Com a ajuda de especialistas no tema, listamos abaixo os principais pontos negativos da biópsia líquida, o que o exame já oferece em termos de vantagens para os pacientes e o que podemos esperar do futuro.
Pontos negativos
— Falta de confiabilidade: Pelo exame ser relativamente novo e ainda não ter atingido todo o seu potencial tecnológico, ele acaba sendo usado como uma forma de rastreio complementar.
“Não há ainda uma segurança completa de que a interpretação da biópsia líquida corresponde exatamente ao que está acontecendo nos tumores e no organismo da pessoa”, explica Héber Salvador.
“Já temos boas evidências e as pesquisas estão crescendo, mas eu diria que, no momento, a biópsia líquida não nos dá a palavra final de se um tumor existe ou não, ou que aquele paciente tem mais chance de metástase. Outros exames precisam ser solicitados.”
— Preço e falta de acessibilidade: A depender da indicação do exame, o custo nos poucos laboratórios onde o exame está disponível no Brasil varia de seis a quinze mil reais, de acordo com a biomédica Gabriela Félix, geneticista molecular e gerente do Laboratório de Oncologia de Precisão da Igenomix Brasil. Os convênios não cobrem o teste.
“Comparado há dez ou até cinco anos atrás, o preço já diminuiu, embora ainda seja alto. É um impeditivo para muitos, mas com passar do tempo, a tendência é que a técnica se torne melhor e mais barata”, completa Thiago Bueno de Oliveira, oncologista clínico, presidente do GBCP (Grupo Brasileiro de Câncer de Cabeça e Pescoço) e titular do A.C.Camargo Cancer Center.
Pontos positivos
— Simplificação do rastreamento: Em vez de precisar submeter um paciente oncológico – que muitas vezes já apresenta imunidade prejudicada – à biópsia sólida, um procedimento cirúrgico que retira uma amostra do tumor, o acompanhamento para avaliar se a doença está regredindo ou não pode ser feito por meio da biópsia líquida.
A técnica é muito menos invasiva e traz benefícios em situações como a pandemia da covid-19, já que o paciente não precisa ser exposto ao ambiente hospitalar.
— Tempo de resultado: A depender da região do paciente, dos serviços laboratoriais utilizados, assim como do tipo do tumor, o resultado de uma biópsia sólida, explica a geneticista Gabriela Félix, pode demorar até três meses. “Já a biópsia líquida fica pronta de dez dias, o que facilita o início do tratamento rápido, especialmente para tumores agressivos.”
— Direcionamento de escolha para tratamento: “Quando queremos identificar uma mutação específica [que sabemos que responde melhor a determinados tratamentos], algumas delas aparecem na corrente sanguínea, e o exame permite essa identificação, evitando procedimentos cirúrgicos”, aponta o oncologista clínico Thiago Bueno de Oliveira.