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Por Redação O Sul | 19 de julho de 2022
“Doutora, pelo amor de Deus, me tira daqui”. O pedido foi feito por uma paciente — que estaria internada em cárcere privado no Hospital Santa Branca, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense — à delegada Fernanda Fernandes, titular da Delegacia de Atendimento à Mulher (Deam) de Duque de Caxias. De acordo com a Polícia Civil, a vítima está na unidade há cerca de dois meses após ser operada pelo dono e médico do local. O equatoriano Bolivar Guerrero Silva, de 63 anos, foi preso em flagrante quando fazia uma abdominoplastia na unidade.
A delegada afirma que esse apelo da vítima fez com que a gente se preocupasse. ‘Além disso, o que chamou a atenção foi a negativa da unidade em fornecer o prontuário médico. A situação que encontramos a vítima também nos preocupou muito, e por isso deliberamos pela prisão”, disse ela.
— Agora, ela não mais está em cárcere. Mas há indícios de que esteve. Nós pedimos a documentação, eles negaram. Tentamos entrar e eles impediriam. Quando entramos, ela não tinha condições de sair. Por isso, existem indícios de cárcere — disse a delegada.
No Plantão Judiciário, a justiça determinou que o especialista fique preso por 10 dias. Mas, por conta do aparecimento de mais quatro mulheres que se dizem vítimas, a delegada pediu a prorrogação por mais cinco dias.
— Com o CRM suspenso ele está impedido de operar. Até agora, quatro mulheres já ligaram para a delegacia — contou a delegada.
O Cremerj se pronunciou sobre o caso: “Tendo conhecimento do caso pela imprensa, o Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Cremerj) abriu sindicância para apurar os fatos. Todo procedimento segue em sigilo de acordo com os ritos do Código de Processo Ético-Profissional”.
Em depoimento, Bolívar negou que mantinha a mulher em cárcere privado. Ele disse que a mulher estava recebendo todo o cuidado necessário e que ela não poderia receber alta médica. Ele lembrou ainda que a mulher estava com uma acompanhante, e por isso não pode se configurar cárcere privado.
Por isso, a delegada vai solicitar um pedido do Instituto de Criminalística Carlos Eboli (ICCE). A polícia apura se a mulher passou por oito cirurgias e quer saber onde essas operações aconteceram.
Antes da prisão de Bolívar, os parentes da mulheres conseguiram uma liminar na justiça para a transferência dele. Entretanto, a medida não foi cumprida. Agora, com uma nova determinação da justiça, eles aguardam o local para onde ela será transferida.
Nota do Hospital
A Secretaria estadual de Saúde (SES) afirmou, na terça (19) que o Hospital Santa Branca, que teve um dos sócios foi preso, está apto para funcionamento. O órgão lembrou que a Subsecretaria de Vigilância e Atenção Primária à Saúde (SVAPS) já havia fechado a parcialmente o espaço em 2016, que só reabriu no ano passado.
Em nota, a pasta lembrou que “o Estabelecimento Assistencial de Saúde Hospital Santa Branca teve as atividades da central de material esterilizado suspensas no ano de 2016 por descumprimento das normativas. A unidade também foi inspecionada em 2018, quando foi constatada a reestruturação da central, entretanto, a Superintendência de Vigilância Sanitária manteve a interdição do estabelecimento por não cumprir os processos de trabalho em acordo com as normas de boas práticas”, diz trecho do documento.
Ainda segundo a SES, em junho de 2021, foi realizada nova inspeção para monitoramento do estabelecimento “e ficaram pendentes exigências dos setores de centro cirúrgico e enfermarias”. Por fim, o órgão informou que “a unidade de saúde segue sendo monitorada, conforme rotina da Vigilância estadual”.