Segunda-feira, 23 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 26 de julho de 2022
O policial civil Marcos André de Oliveira dos Santos, de 50 anos, que era lotado na Delegacia Especial de Proteção à Mulher (Deam) de Jacarepaguá, onde exercia o cargo de chefe de investigação, está sendo acusado de lesão corporal, injúria, ameaça e violência psicológica contra uma ex-companheira. A vítima, uma advogada de 29, gravou conversas com o agente, e esteve na Corregedoria-Geral de Polícia Civil para fazer o registro da ocorrência.
“Vou te matar, e me matar depois” é uma das frases ditas pelo acusado, no réveillon de 2021 para 2022. Os dois se conheceram na Deam, unidade especializada em casos em que a mulher é vítima de violência, onde a advogada foi pegar a cópia de um inquérito, em fevereiro de 2021, e se relacionaram por cerca de um ano. O agente foi morar na casa dela aproximadamente dois meses depois do início do relacionamento.
“No início, ele era um doce, era muito presente. Mas já começou mentindo a idade. Primeiro, disse que tinha 35 anos, depois 38. Só descobri a idade verdadeira dele quando foi tomar a vacina contra a covid”, conta ela.
“Após alguns meses de relacionamento com a vítima, o acusado passou a controlar as roupas que ela vestia, a proibir que ela tivesse amigos, que frequentasse academia com profissionais do sexo masculino. Passou também a controlar suas conversas telefônicas e comunicações em redes sociais, tendo ainda a afastado de seus familiares”, afirma a denúncia.
Por e-mail, a Polícia Civil informou que a corregedoria do órgão indiciou o inspetor ao Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) por violência doméstica. Após apuração dos fatos em sindicância, foi aberto um Processo Administrativo Disciplinar, que está em andamento. O órgão disse ainda que o servidor foi afastado do serviço na Deam de Jacarepaguá, “assim como não está exercendo a função em nenhuma unidade especializada neste tipo de atendimento”.
Conforme a denúncia, a prática dos crimes começou em outubro do ano passado, quando a advogada propôs terminar o relacionamento, por não aguentar mais o “ciúme doentio” do inspetor, que é divorciado e tem um filho de 16 anos.
“Com o tempo, o acusado ficou mais agressivo, passando a xingar, humilhar e desferir tapas no rosto e na cabeça da vítima durante as discussões, que em sua maioria eram motivadas por ciúmes. Em duas tentativas de pôr fim ao relacionamento, as discussões foram gravadas e posteriormente enviadas para perícia e nelas, fica evidente o comportamento agressivo, humilhante e controlador do acusado”, diz outro trecho da denúncia, assinada pela promotora Isabela Jourdan da Cruz Moura.
“Ele falou para mim algumas vezes que não precisava fazer, mandava fazer”
A advogada está com medida protetiva, e o policial tem que se manter afastado dela por pelo menos cem metros. Depois de ficar 45 dias na casa de um irmão, a vítima voltou para seu apartamento. Mas preferiu fechar o escritório. Só recentemente alugou outra sala para trabalhar. Ela está fazendo tratamento com psicóloga.
“Tive perda financeira, perdi o meu trabalho no bairro onde eu gostava de trabalhar. Fui humilhada de todas as formas. Eu perdi minha vida. Hoje, eu tenho medo de sair. Ele falou para mim algumas vezes que não precisava fazer, mandava fazer. Tenho medo de ir à uma festa e alguém passar a faca em minha barriga”, diz ela.
O advogado Márcio Alexandre dos Santos, que representa o acusado, disse que o caso corre em segredo de Justiça e que “aguarda intimação da suposta denuncia para esclarecer os fatos alegados em juízo”.