Sábado, 21 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 28 de julho de 2022
Após retrocesso devido à pandemia, o Dia da Sobrecarga da Terra chegou mais cedo do que nunca em 2022. Com a capacidade de renovação de recursos esgotada, no resto do ano a humanidade tem que tomar emprestado do futuro. Nesta quinta (28), a humanidade terá consumido todos os recursos naturais que o planeta é capaz de regenerar de modo sustentável. No resto do ano, a espécie humana estará infligindo uma carga insustentável ao meio ambiente, segundo os cálculos para o Dia da Sobrecarga da Terra.
“É como se você gastasse todo o seu dinheiro em 28 de julho e passasse o resto do ano vivendo no débito. Na realidade, é ainda mais sério, porque se pode imprimir dinheiro ou tomar emprestado – também podemos emprestar recursos do futuro, mas não podemos reimprimi-los”, comentou Mathis Wackernagel, fundador e presidente da organização Global Footprint Network.
O Dia da Sobrecarga para o planeta em 2022 chegou bem mais cedo para diversos países isolados. O Catar já havia empregado todos seus recursos renováveis em 10 de fevereiro, sendo seguido pelo também abastado Luxemburgo, apenas alguns dias mais tarde. Outros países como Canadá, Emirados Árabes Unidos e Estados Unidos igualmente atingiram cedo o perigoso marco. Para a Alemanha, ele chegou em 4 de maio. No Brasil, ele chega em 12 de agosto.
Paralelamente, diversas nações, sobretudo do Sul Global, não chegam a extrapolar seus recursos. Lara Louisa Siever, da Inkota, crê que isso evidencia como os países industrializados estão vivendo à custa dos de baixa renda: Jamaica, Equador, Indonésia, Cuba e Iraque, por exemplo, usam bem menos recursos e não atingirão seu Dia da Sobrecarga antes do fim do ano.
Hiperconsumo
A Global Footprint Network calcula o Dia da Sobrecarga com base em quanto é consumido, a eficiência na fabricação dos produtos, o tamanho das populações e até que ponto a natureza é capaz de se recuperar. Na atual velocidade de gasto de recursos, a humanidade necessitaria de um segundo planeta com três quartos do tamanho da Terra.
Wackernagel vê nesse hiperconsumo a causa fundamental de muitos dos atuais apuros globais: “Observamos todos os problemas separadamente – mudança climática ou perda de biodiversidade ou escassez alimentar –, como se ocorressem independentemente. Mas eles são todos sintomas do mesmo tema subjacente: que o nosso metabolismo, a quantidade de coisas que a humanidade usa, se tornou grande demais em relação ao que a Terra pode renovar.”
Segundo o ambientalista suíço, há dezenas de opções para fazer retroceder o relógio da sobrecarga: financiar a descarbonização a atrasaria em 22 dias; implementar projetos urbanos inteligentes faria ganhar 29 dias; cobrar 100 dólares por tonelada de dióxido de carbono compraria 63 dias; enquanto a adoção global de uma estrutura como o Novo Acordo Verde da União Europeia renderia 42 dias.
Porém pequenas mudanças – como baixar os limites de velocidade, secar a roupa no ar, substituir a iluminação doméstica por LEDs, mudar os hábitos de vestuário ou cortar a carne apenas um dia por semana – já contribuiriam para frear em alguns dias o consumo de recursos.