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Saúde Varíola dos macacos: “Estamos vendo a ponta do iceberg”, diz infectologista sobre a primeira morte no Brasil

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Amostra contendo vírus da varíola dos macacos.

Foto: Reprodução
Amostra contendo vírus da varíola dos macacos. (Foto: Reprodução)

A primeira morte por varíola dos macacos (monkeypox) no Brasil, confirmada nesta sexta-feira (29), mobilizou a comunidade científica que alerta para a subnotificação e riscos da doença.

Para Alexandre Naime Barbosa, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia e professor da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp), a situação exige ações mais firmes do governo.

“No Brasil já tem mil casos, uma morte, e estamos vendo só a ponta do iceberg, mas não há uma política assertiva. As pessoas que estão mais em risco são os homens que fazem sexo com homens, há uma transmissão sustentada nesse grupo, por isso a orientação de diminuir número de parceiros e evitar sexo com desconhecidos, mas é preciso lembrar que é uma doença global, já temos casos de grávida, crianças, ou seja, vai se democratizar e para não acontecer com mais óbitos precisamos de mais planejamento”, diz.

Para o infectologista, essa morte mostra que a doença oferece risco – embora esse tenha sido o sexto caso de óbito neste surto atual e o primeiro fora do continente africano.

“Isso aumenta a preocupação da comunidade científica em relação à possível gravidade dessa doença, principalmente em imunossuprimidos, que podem desenvolver casos mais graves. Aqui, a população imunossuprimida chega a 1%, o que representa, 2 a 3 milhões de pessoas. O potencial de complicações é grande e o custo da monkeypox pode ser muito alto”.

O infectologista afirma que, segundo um estudo publicado nos últimos dias, de 30% a 50% das infecções estão acontecendo em pessoas que vivem com HIV/Aids:

“Informações extraoficiais apontam que é altamente provável que essa morte no Brasil seja um caso assim. Os óbitos da África têm esse perfil e essa é nossa maior preocupação. Temos um milhão vivendo com HIV/Aids no Brasil. A grande maioria está sob tratamento e indetectável, entre 60% e 70%, mas temos um número muito grande, que pode chegar a 300 mil pessoas que não sabem, não têm diagnostico ou não está com carga indetectável”.

Em nota, a Sociedade Brasileira de Infectologia e a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) reforçam a preocupação que existam mais casos de pessoas que tenham o vírus sem saber:

“Como o quadro clínico pode se assemelhar ao de outras afecções, como ISTs e outras condições e dermatoses, é bem provável que a doença seja subdiagnosticada e, portanto, subnotificada”.

Diante disso, as sociedades alertam a população, a classe médica e os demais agentes de saúde sobre o aparecimento de lesões cutâneas na região anogenital, “especialmente vesículas, pústulas e crostas […] ainda mais quando antecedidas ou acompanhadas por febre, gânglios aumentados e dolorosos (“ínguas”) e lesões em outras partes do corpo”.

A presença de lesões nessa região se tornou um sintoma comum do surto atual da infecção. Diante da suspeita de monkeypox, a Vigilância Epidemiológica da região deve ser acionada para orientações quanto à coleta de amostra e análise laboratorial. Também é recomendado que o paciente seja tratado com base no seu quadro clínico e seja colocado colado em isolamento e aconselhado a evitar contato com outras pessoas enquanto tiver lesões de pele, incluindo as com crostas, que também são infectantes.

No Grupo Fleury, um dos primeiros do País a oferecer teste para diagnóstico da doença na rede privada, houve aumento da positividade dos resultados dos testes de varíola dos macacos realizados nas últimas três semanas. Entre os dias 1 e 9 de julho, a positividade foi de 18%. O número subiu para 36% na semana seguinte e chegou a 47% no período de 17 a 23 de julho. O que representa um aumento de 161%. O exame é realizado mediante pedido médico e o resultado é obtido em até três dias úteis.

Como se proteger

As medidas de prevenção recomendas pela SBU e pela SBI são:

  • Higiene frequente das mãos com álcool 70% ou com água e sabão;
  • Evitar contato próximo com pessoas que possam apresentar quadro clínico;
  • Evitar compartilhamento de objetos, incluindo roupas de cama e toalhas;
  • Reduzir o número de parceiros sexuais;
  • Pessoas com quadro clínico suspeito devem manter isolamento e evitar compartilhamento de objetos de uso pessoal até exclusão do diagnóstico ou completo desaparecimento das lesões;
  • Indivíduos que tiveram contato com pessoas infectadas devem permanecer em alerta e vigilância próxima.

Emergência pública internacional

No último sábado, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou a situação do vírus monkeypox como emergência pública internacional. Informações do último relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre o assunto, publicado na segunda-feira, mostram que entre 1º de janeiro e 22 de julho, cinco mortes pela doença foram confirmadas no mundo. Todas no continente africano. Todas as regiões da OMS já registram casos da doença. São mais de 16 mil diagnósticos positivos em ao menos 75 países.

No Brasil, de acordo com informações do Ministério da Saúde, são 1.066 pessoas contaminadas pela doença, sendo 823 apenas no Estado de São Paulo. Há ainda 124 diagnósticos no Rio de Janeiro; 44 em Minas Gerais; 21 no Paraná; 15 no Distrito Federal; 13 em Goiás; 5 na Bahia e Rio Grande do Sul; 4 em Santa Catarina e Ceará; 3 em Pernambuco; 2 no Espírito Santo e no Rio Grande do Norte; e 1 no Acre e em Tocantins. Foram registradas também 513 suspeitas que estão em monitoramento.

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