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Mundo Interior da Espanha vende igrejas, conventos e cidades inteiras para não desaparecer do mapa

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Movimento conhecido como despovoamento está na raiz de um curioso fenômeno imobiliário no país. (Foto: Cecilia Rodríguez/Unsplash)

A perda de população em amplas zonas do interior da Espanha, um movimento conhecido aqui como despovoamento, está na raiz de um curioso fenômeno imobiliário. Antigas igrejas, capelas, conventos e mosteiros ou, em alguns casos, povoados inteiros têm sido postos à venda. Frequentemente, essas negociações ganham ares de liquidação, com preços bem abaixo do mercado e uma destinação certa: o uso em empreendimentos de turismo rural.

A grande maioria desses bens pertence a particulares, mas a própria Igreja Católica também vem se desfazendo de imóveis há alguns anos, seja pela perda de fiéis em zonas despovoadas, seja por outras razões.

Na Galícia, a região com mais núcleos populacionais sem habitantes — 3.954, ou 37% dos “vilarejos vazios” de todo o país —, chama a atenção uma oferta ativa no principal site de negociação de imóveis de Espanha e Portugal, o Idealista.com. Uma capela de 70 metros quadrados, num terreno três vezes maior, é anunciada por € 70 mil, coisa de R$ 370 mil pelo câmbio atual. É menos da metade do preço do metro quadrado em Vigo, maior cidade daquela região, e um quarto da cifra média de Madri. Construída no século XVIII, a capelinha está há gerações com a família de Inma Sanmartín.

“Decidimos nos desfazer, mas está sendo complicado encontrar quem queira comprar, apesar do valor baixo. Havíamos pensado em oferecê-la a quem quisesse recuperá-la e transformá-la em moradia, mas a legislação daqui não permite”, lamenta ela.

Relíquia do século XVI

Onde as leis locais são menos rígidas, reconversões assim têm se multiplicado. No País Basco, uma antiga igreja do período românico (séculos XI a XIII) em Sopuerta, a 25 quilômetros de Bilbao, foi transformada em moradia de alto padrão. Vitrais, arcos, colunas e até altares se integraram ao moderno projeto de arquitetos da região, que preparou o conjunto antes da oferta por € 1,6 milhão na mesma plataforma imobiliária online. O negócio foi fechado mês passado, por um valor não revelado. Trata-se, porém, de um caso raro.

“A maioria dos imóveis é negociada entre pessoas de perfil econômico médio ou médio-baixo para a transformação em pequenos hotéis ou pousadas. A pandemia potencializou as escapadas curtas para curtir a natureza no interior, e há muito investimento nisso”, explica Leon Guy Tamborero, agente imobiliário da província de Ávila, em Castela-Leão, região que mais perdeu população no último ano, segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE): saldo negativo de 13 mil habitantes.

Guy tem à venda em sua imobiliária um convento dominicano do século XVI com 433 metros quadrados, uma sólida construção de pedra dotada de claustros, pátios, jardins e mais de 2 mil metros quadrados de terreno. Dessacralizado no século XIX, o conjunto pertence a uma família que pede € 160 mil por ele, valor considerado baixo. Mesmo assim, está à venda há quatro anos.

Mais recentemente, entrou no mercado a igreja do século XVIII que integrou a monumental — e hoje em ruínas — Real Fábrica de Armas de Orbaitzeta, na região de Navarra, quase na fronteira com a França. Oferecida na Milanuncios.com, uma plataforma de negociações que tem mais de 10 templos e monastérios históricos listados, a igreja abriga atualmente um estábulo. O preço anunciado, € 1, é curiosíssimo. Mas é só um chamariz, admite Daniel Anchorena, neto do proprietário.

Povoados sem almas

Em Orbaitzeta, o município onde está a igreja-estábulo, vivem pouco mais de 200 almas, segundo o INE, contra os 523 habitantes de 1900. Desde os anos 1940, o lugar sofre um processo de encolhimento que, apesar de constante, ainda não foi suficiente para extingui-lo. Mesma sorte não tiveram milhares de antigas aldeias de toda a Espanha, como Bárcena de Bureba (Burgos) e Matandrino (Segóvia), ambas na mesma Castela-Leão onde o convento dominicano da Serra de Gredos aguarda compradores.

O que distingue esses dois povoados-fantasma de tantos outros é que estão inteiramente à venda. Maior, com igreja e construções espalhadas por um núcleo urbano de cerca de três quilômetros quadrados, Bárcena vale € 350 mil. Matandrino, com um punhado de casas construídas em menos de um quilômetro quadrado, sai por € 100 mil.

Se a negociação de igrejas, mosteiros e capelas se destina a pequenos empreendedores que apostam num turismo rural e de natureza em crescente expansão, a negociação de cidadezinhas inteiras poderia, talvez, derivar em megaprojetos que não trariam só vantagens.

De todas as maneiras, essas negociações são 1% do total. A imensa maioria de pequenos empreendimentos se insere na realidade local e estimula uma cadeia de serviços, trazendo prosperidade e esperança a zonas que não recebem imigrantes e que veem a população envelhecer. O turismo rural é muito desejável e pode evitar a sentença de morte de imóveis, cidades e regiões inteiras.

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https://www.osul.com.br/interior-da-espanha-vende-igrejas-conventos-e-cidades-inteiras-para-nao-desaparecer-do-mapa/ Interior da Espanha vende igrejas, conventos e cidades inteiras para não desaparecer do mapa 2022-07-31
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