Quarta-feira, 25 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 10 de agosto de 2022
Saída constante de jogadores para mercados mais atraentes da Europa e das Américas, como os de México e Brasil, e dificuldade na atração de estrangeiros não são exatamente novidades para o futebol argentino nos últimos anos. Porém, uma medida recente do governo da Argentina pode piorar ainda mais a situação a longo prazo na disputa dos clubes locais por jogadores com as outras ligas do continente. Nomes como Arturo Vidal e Luis Suárez, por exemplo, cortejados por grandes do país, foram parar no Brasil e no Uruguai.
Com uma escassez grande de divisas – o estoque de dólares de livre disponibilidade é próximo a US$ 2 bilhões, equivalente a apenas 25% das exportações mensais do país –, o governo e o Banco Central da República Argentina (BCRA) limitaram a compra de dólares por pessoa e por empresas e restringiram as importações, e elevaram a quantidade de controles e requisitos para importar bens e serviços.
“Essas regulamentações ou as chamadas ‘ações cambiais’ significam que hoje existe um dólar oficial (132 pesos por dólar) e um dólar paralelo (dólar livre de regulamentação estatal, perto de 290 pesos por dólar)”, diz o economista argentino Amilcar Collante, do Centro de Estudos Econômicos do Sul.
O impacto é importante no futebol porque muitos contratos no país são firmados em dólares.
“Os contratos de jogadores efetuados em dólares devem ter acesso a um dólar mais caro, que é medido em pesos argentinos. Se os contratos forem feitos pelo dólar oficial, isso significa que para cada dólar assinado em contrato, o jogador receberá 65% a menos. Algumas instituições terão de utilizar o dólar MEP, que consiste na compra de um título em pesos, para posterior venda em dólares para pagar seus atletas”, explica Collante.
As situações já foram sentidas em alguns clubes. O Boca Juniors, por exemplo, teve algumas de suas estrelas partindo para o exterior, como o atacante Eduardo Salvio, que se transferiu para o Pumas, do México, e outros problemas em renovações de contrato, como o goleiro Agustín Rossi, de 26 anos, que também não deve permanecer no clube xeneize.
A compra de atletas do exterior fica mais complicada. O River Plate pagou US$ 6,5 milhões ao Junior de Barranquilla, da Colômbia, e Palmeiras para contratar o atacante Miguel Borja – cada clube possuía 50% dos direitos. A transação foi difícil e quase cancelada. Em uma negociação internacional, os clubes argentinos pagam o valor em pesos ao Banco Central, que aí autoriza a operação e enviar as remessas ao outro clube, ou outros clubes, da negociação.
Há problemas também para vender jogadores ao exterior, negociações costumeiramente feitas em dólares ou euros. Neste caso, boa parte do valor da transação será liquidado entre impostos e pagamentos à Associação de Futebol Argentino (AFA) e os 15% devidos ao jogador. Isso significa que entre impostos ao governo e taxas à AFA, o clube ficará com apenas cerca de 50% da transferência em questão. O mesmo deve acontecer com patrocínios e premiações em dólares vindas da Conmebol para clubes argentinos.
O fato acaba por ser um problema a qualquer negociação, uma vez que antes das mudanças, toda tratativa era livre e as divisas poderiam ser geradas com maior facilidade. Agora, o governo é uma espécie de intermediário para quaisquer negociações, que se mostram cada vez mais difíceis pela seca de dólares. As informações são do jornal O Globo.