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Por Redação O Sul | 18 de agosto de 2022
Dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) apontam que as candidatas mulheres a cargos do legislativo estadual e federal têm metade do patrimônio os candidatos homens. Pretos e pardos também registraram menos bens que os brancos.
O prazo para registrar candidatura acabou na segunda-feira, mas a Justiça Eleitoral ainda não finalizou a consolidação das estatísticas. Os próprios candidatos informam ao TSE sobre o patrimônio que possuem e podem alterar o valor de seu patrimônio mesmo após o registro.
Segundo pesquisadores, o sistema político brasileiro atual privilegia candidatos ricos, e um patrimônio menor pode interferir negativamente no desempenho de alguém que concorre a um cargo público.
O portal de notícias g1 analisou os dados de candidatos a deputado federal e estadual e, para evitar distorções, retirou do cálculo da média os 405 candidatos com patrimônio acima de R$ 5 milhões. Ao todo, são mais de 26 mil candidatos. Também foram analisadas as medianas das candidaturas e foi feito um agrupamento dos dados por valor de patrimônio.
A média de patrimônio de candidatas mulheres é 50% da dos homens, no caso de candidaturas a deputado estadual, e 49% no caso de candidaturas a deputado federal.
Mais da metade (52%) das postulantes à deputada estadual tem até R$ 1 mil de patrimônio, enquanto nos homens esse grupo representa 36% do total. O mesmo ocorre em âmbito federal: candidatos com até R$ 1 mil de patrimônio são 48% do total entre mulheres e 33% entre homens.
A diferença também aparece na outra ponta da tabela: 25% dos candidatos do sexo masculino declaram ter mais de R$ 500 mil. Esse número cai para 17% entre candidatas ao mesmo cargo do sexo feminino. Nesta comparação foram considerados os candidatos com patrimônio acima de R$ 5 milhões.
Pretos
Os dados do TSE também apontam que o patrimônio de candidatos pretos e pardos é menor que o de candidatos brancos. Nas candidaturas a deputado estadual, por exemplo, o patrimônio médio de pretos equivale a um terço do dos brancos e o dos pardos a 59% do dos brancos.
Pesquisador do Centro de Estudos em Política e Economia do Setor Público (Cepesp) da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Arthur Fisch diz que não é surpreendente que homens brancos tenham patrimônio maior que outros recortes, uma vez que a estrutural social do Brasil privilegia esse grupo.
“É o que eu imaginaria: homens e brancos sejam mais ricos na média que negros e mulheres, isso é esperado pelo que a gente conhece do Brasil”, afirma.
Fisch acredita que, apesar de ser esperada, essa característica torna as candidaturas de minorias menos competitivas por dois motivos:
— O candidato com patrimônio pode se autofinanciar, dependendo menos de verba partidária ou de financiamento externo, como crowdfunding;
— O candidato com verbas próprias precisa se preocupar menos com outros gastos não relacionados com a eleição, como pagar um aluguel do imóvel onde mora.
Além disso, uma campanha exige uma dedicação de tempo, e muitos candidatos não podem abandonar completamente o emprego, mesmo que temporariamente, para disputar uma vaga.
Professor da Universidade Federal do Paraná, Emerson Cervi diz que sistema de financiamento atual, que não permite arrecadação de verbas de empresas, torna o autofinanciamento “muito importante”.
Nesse contexto, a verba que um candidato dispõe pode interferir no seu desempenho eleitoral, afirma Cervi.
Apesar disso, ele defende que a variável não é “uma interferência decisiva para todos os casos”, até porque alguns candidatos tem outros capitais, como capital social ou a atividade profissional que desempenha.
Na mesma linha, a professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e presidente da Associação Brasileira de Pesquisadores Eleitorais (Abrapel), Helcimara Telles, afirma que candidatos com menos verbas têm mais dificuldades para conseguir se eleger.
Ela acredita que a proibição do financiamento de candidaturas por empresas “diminuiu ainda mais a chance dos mais pobres de serem eleitos”. “Embora as pessoas imaginassem que o financiamento público pudesse reduzir a diferença entre os candidatos, só fez aumentar”, afirma.
Por isso, ela defende que sejam criadas reservas de vagas para minorias. “Acredito que a gente deveria ter uma reserva para essas minorias, não retirando as 513 vagas [atuais que existem na Câmara], mas aumentando as cadeiras para compartilhar somente com as minorias”, diz.
Mediana também aponta mulheres, pretos e pardos com menos patrimônio
A mediana, métrica que vê o termo central de um conjunto de dados e é menos afetada por valores extremos, deixa ainda mais clara a diferença entre os patrimônios das mulheres e o dos homens que disputam cargos deputado estadual e federal.
Essa medida é considerada mais adequada por especialistas para casos como esses, em que alguns valores muito altos – como um candidato bilionário ou que tenha centenas de milhões – podem distorcer a média geral.
A mediana de bens dos candidatos homens a deputado federal, por exemplo, é de R$ 120 mil, enquanto a de mulheres é de R$ 6.317. Isso quer dizer que metade das candidaturas femininas tem patrimônio abaixo de R$ 6.317, enquanto a metade das candidaturas masculinas tem patrimônio abaixo de R$ 120 mil.
Para deputado estadual a situação também não é positiva: a mediana dos homens é de R$ 77 mil e a das mulheres é R$ 0. Isso quer dizer que mais que 50% das mulheres candidatas a deputada estadual declararam ao TSE não ter patrimônio.
Quando observada a raça dos candidatos, os brancos aparecem com mais patrimônio que pretos e pardos. Ao analisar somente candidatos homens, os candidatos a deputado federal pretos têm uma mediana de R$ 12 mil, os pardos de R$ 50 mil e os brancos de R$ 263 mil.