Sábado, 23 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 18 de maio de 2015
“Amy”, o novo documentário sobre a trajetória da cantora Amy Winehouse, que morreu em 2011 aos 27 anos, chegou a Cannes embrulhado em polêmica. No final de abril, um porta-voz da família dela emitiu um comunicado afirmando que o filme contém “alegações contra a família e agentes que são infundadas e tendenciosas”. Exibido no sábado (16) no festival, o documentário não pega pesado com a família inteira – apenas com o pai de Amy, Mitch Winehouse, ausente durante toda a infância, e que volta a se aproximar dela com o sucesso. A afirmação mais contundente do filme é a de que, quando Amy teve sua primeira crise de overdose aos 23, Mitch insistiu que sua filha não precisava ser internada numa clínica de reabilitaçãoo (a “Rehab” de sua música mais famosa) para que fizesse sua primeira turnê pelos EUA.
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Sua melhor amiga conta que pediu ao pai que confiscasse o seu passaporte, já que Amy não tinha condições de viajar, mas ele se negou (mesmo contra a vontade de Mitch, os shows tiveram de ser cancelados). Seu primeiro agente e produtor, Nick Shymansky, diz uma das frases mais pungentes do filme: “Acho que ali se perdeu a grande chance de Amy se reabilitar antes da fama. OK, poderíamos ter posto a perder o álbum ´Back to Black´. Mas Amy talvez tivesse uma chance antes que mundo quisesse um pedaço dela.”
A cena mais forte de Mitch (mas não inédita) mostra uma viagem de férias com a família para a praia quando Amy já está afundada em drogas. Deveria ser uma viagem íntima de descanso, mas o pai leva com ele uma equipe para filmá-la o tempo todo. Ela tira a contragosto uma foto com um casal de turistas. Quando termina, o pai lhe dá uma bronca porque ela não atende aos pedidos dos fãs.
O diretor britânico Asif Kapadia (o mesmo do documentário sobre Ayrton Senna) fez mais de cem entrevistas para o longa. “Amy”, o filme, não traz nenhuma grande informação sobre a vida ou o abuso de drogas da cantora que já não tenha sido explorada pela mídia. Seu forte são as imagens de arquivo de amigos e colegas músicos que só agora resolveram divulgá-las para o mundo.
O documentário abre, por exemplo, com uma imagem caseira de Amy em casa com uns 14 anos, cantando um simples “parabéns a você” para uma amiga, já mostrando todo o seu talento vocal. Outro momento saboroso para os fãs: em 2008, logo após começar uma rehab, Amy assiste de Londres à transmissão do Grammy em Los Angeles.
Ouve perplexa os apresentadores anunciarem o prêmio de melhor gravação do ano, derrotando Rihanna, Beyoncé e Justin Timberlake. Os colegas comemoram com ela. De repente, a câmera a flagra desabafando para uma amiga: “isso tudo é tão chato sem drogas”. Em outra cena, pede para repetir várias vezes um dueto em estúdio com Tony Bennett porque acha que está cantando muito mal.
A meia hora final faz um apanhado doloroso do massacre que Amy sofreu da mídia e dos paparazzi. Para a última turnê internacional, um dos colegas revela que ela foi levada ao aeroporto dormindo e embarcada assim num jato particular. As cenas do show na Sérvia, um mês antes da morte, mostram Amy no palco totalmente drogada e recebendo fortes vaias – o dinheiro do ingresso foi devolvido depois.
Ao fim, “Amy” não deixa de ser sensacionalista, mas dá bem conta dessa história trágica: uma jovem de muito talento, comparada a Sarah Vaughan e Ella Fitzgerald, mas incapaz de escapar do vício e dos seus problemas emocionais e devorada pela mídia.