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Por Redação O Sul | 24 de agosto de 2022
Com a desvalorização da moeda europeia são necessários mais euros para comprar produtos importados em dólares
Foto: DivulgaçãoA moeda europeia caiu abaixo da paridade do dólar pela segunda vez neste verão (hemisfério norte, inverno no Brasil), atingindo seu preço mais baixo em quase 20 anos em US$ 0,9901. Quais são as consequências diretas desta desvalorização do euro? Em primeiro lugar é importante entender como ocorreu esta desvalorização.
Ao contrário do Banco Central Europeu (BCE), a Fed (Federal Reserve, Banco Central dos Estados Unidos) começou rapidamente a aumentar suas taxas de juros para combater a inflação. Essas altas taxas de juros tornam mais lucrativo possuir dólares, o que atrai investidores e valoriza ainda mais a moeda.
Por sua vez, o BCE elevou suas taxas moderadamente, mas sua política de longo prazo é desconhecida e essa incerteza pesa contra o euro.
“O BCE está em uma situação difícil. Não pode aumentar repentinamente suas taxas de juros, pois poderia provocar uma crise de dívida soberana nos países mais endividados da zona do euro”, explica Eric Dor, diretor de Estudos Econômicos da IESEG School of Management. A Fed “não tem esse problema”.
Consequentemente, a diferença de taxas joga “muito a favor do dólar”. Além disso, a guerra na Ucrânia e a dependência da Europa dos hidrocarbonetos russos reforçam a “crescente incerteza” sofrida pela economia da zona do euro, acrescentou.
Efeitos sobre a inflação
Quase metade dos produtos importados na zona do euro é faturada em dólar e menos de 40% em euro, segundo a Eurostat. É o caso do petróleo e gás e de muitas commodities, cujos preços dispararam no contexto da guerra na Ucrânia.
Mas com a desvalorização da moeda europeia são necessários mais euros para comprar produtos importados em dólares, o que contribui para acelerar a inflação. E se esse aumento de preços não for acompanhado de um aumento dos salários, há perda de poder aquisitivo das famílias.
Em segundo lugar, a desvalorização do euro em relação ao dólar vai frear o turismo europeu, especialmente nos Estados Unidos. Por outro lado, os turistas americanos saem na frente em suas viagens à Europa: teoricamente podem consumir mais com a mesma quantia de dólares.
Nas empresas
O efeito da queda do euro varia de acordo com a dependência das empresas do comércio externo e da energia. “As empresas que exportam para fora da zona do euro se beneficiam da desvalorização do euro, pois seus preços são mais competitivos (uma vez convertidos em dólares, nr), enquanto as empresas que importam são penalizadas”, resume Philippe Mutricy, diretor do estudos do banco público Bpifrance.
O grande vencedor da queda do euro é a indústria manufatureira europeia que exporta produtos para o exterior, como os setores aeronáutico, automotivo, de luxo ou químico.
Crescimento e dívida
Teoricamente, a queda do euro beneficia os setores exportadores europeus no exterior, especialmente a Alemanha, cuja economia se baseia em grande parte no comércio e nas vendas ao exterior.
Para o pagamento da dívida dos países europeus, o impacto é menos evidente. Por exemplo, para os Estados que emitiram títulos em dólares, uma desvalorização do euro em relação ao dólar aumenta o custo desse reembolso.