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Por Redação O Sul | 18 de maio de 2015
O Holocausto durante da Segunda Guerra Mundial talvez seja um dos temas mais explorados pelo cinema em todos os tempos. Fica difícil imaginar que ainda existe uma maneira original de contar uma história sobre o assunto. Mas o diretor húngaro László Nemes conseguiu o feito com o aterrorizante “Saul Fia” (“Filho de Saul”), seu primeiro longa e já um dos principais candidatos à Palma de Ouro em Cannes – e não será surpresa a sua presença entre os finalistas ao Oscar de filme estrangeiro.
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Passado em algum momento de 1944 em Auschwitz, o filme captura 36 horas de Saul Ausländer (Geza Röhrig), um judeu húngaro que trabalha como membro do Sonderkommando, prisioneiros com tratamento “especial” que cuidavam do dia a dia dos campos de concentração. Uma dessas atribuições é levar seus companheiros para o “tratamento”, que, como descobrimos em uma das aberturas mais agoniantes da história do cinema, é na verdade uma câmara de gás.
Usando o recurso claustrofóbico da projeção em proporção 1:33 (quase um quadrado no centro da telona), Nemes acompanha seu protagonista em dezenas de planos sequência. Durante um deles, Saul descobre no meio da limpeza do chão que seu (suposto) filho está entre as vítimas do gás e passa a desviar suas energias para dar um enterro digno ao menino – mesmo prejudicando uma ação de certos prisioneiros que pretendem fugir do local.
Neste balé do terror, o cineasta sugere o inimaginável e mostra a realidade de um campo de concentração como poucas vezes no cinema. É como acompanhar o dia a dia de uma fábrica da morte, onde operários trabalham como zumbis para matar milhares de pessoas diariamente. O filme, que custou míseros US$ 1,5 milhão, brinca com os sentidos, desfocando o ambiente ou deixando o som incomodar ainda mais o espectador, que, por sua vez, nunca tira o olho de Saul.
O diretor húngaro cria uma espécie game de guerra ultrarrealista, sadista e cruel onde o jogador não tem outra escapatória a não ser seguir a visão daquele personagem algo que Alfonso Cuarón imprimiu em certas cenas de “Filhos da Esperança”. Mas não há nada virtual em “Saul Fia”. O horror é escancarado e faz filmes como “A Lista de Schindler” virar Sessão da Tarde de tão pesado. Talvez Nemes tenha exagerado nos 107 minutos de agonia, tanto que o lado emocional se perde um pouco no meio da técnica e da violência gráfica.
Dificilmente “Saul Fia” sairá de Cannes de mãos vazias e o estreante László Nemes entrou no festival com as duas pernas na porta para fazer um belo estardalhaço. (Rodrigo Salem/Folhapress)