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Por Redação O Sul | 18 de setembro de 2022
Pelo menos 2,4 milhões de famílias beneficiárias vivem em cidades onde não conseguem comprar a cesta básica com o total do Auxílio Brasil. É o que aponta levantamento feito pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).
Em São Paulo, por exemplo, a cesta básica custava em média R$ 749,78 em agosto – R$ 149,78 mais do que os R$ 600 pago a 710 mil famílias beneficiadas, conforme dados do Ministério da Cidadania de setembro, os mais recentes disponíveis.
A lacuna entre o mínimo necessário para viver e o auxílio também é sentida em outras 11 capitais mapeadas pelo Dieese — somente em cinco o benefício é suficiente para comprar uma cesta básica.
Em Porto Alegre, o custo da cesta básica é de R$ 748,06, ficando abaixo apenas de São Paulo (R$ 749,78). O valor de R$ 600 supre a compra de uma cesta básica apenas em Recife (R$ 598,14), Natal (R$ 580,74), Salvador (R$ 580,74), João Pessoa (R$ 568,21) e Aracaju (R$ 539,57).
O que explica a diferença no poder de compra do Auxílio Brasil é o custo de vida em cada região pesquisada pelo Dieese.
Num estudo publicado no ano passado, Naercio Menezes, coordenador da Cátedra Ruth Cardoso e professor do Insper, deixou evidente como benefícios sociais podem ter impactos distintos nos orçamentos familiares de diferentes regiões.
Realizado com base nos preços de abril de 2021, o levantamento mostrou que um habitante do Ceará precisaria de R$ 134 mensais para comprar alimentos e consumir as calorias necessárias. Em São Paulo, esse valor subia para R$ 180 – ou seja, uma família com 4 pessoas precisaria de R$ 736 para comprar a quantidade de comida necessária.
“Os R$ 600 (do Auxílio Brasil) não são suficientes para a pessoa que mora na região metropolitana de SP comer o suficiente e ter as calorias necessárias, por isso que tem a volta da fome”, diz Naercio. “Eu defendo os valores diferenciados porque o custo de vida é diferente”, afirma.
Juntas, as demais cidades onde o auxílio é insuficiente para comprar uma cesta básica abrigam 1,7 milhão de famílias beneficiárias. Com São Paulo, chegam a 2,4 milhões. Isso quer dizer que uma pessoa que tem somente a renda do Auxílio Brasil nesses municípios não consegue comprar o mínimo.
Debate maior
O superintendente-executivo do Instituto Unibanco, Ricardo Henriques, diz que, antes de discutir valores diferentes por regiões, o país precisa se debruçar sobre dois pontos: modular o programa com base na composição familiar e melhorar o Cadastro Único.
“A composição expõe as famílias a maiores desafios. Quanto mais crianças, mais apoio você deveria ter do estado. Talvez seja a variável mais definidora do programa” afirma Henriques, que foi um dos criadores do programa Bolsa Família.
“Com um bom cadastro, é possível calibrar melhor o valor de transferência de renda e fazer os endereçamentos necessários para aumentar a probabilidade de que uma família saia da pobreza porque será possível articular melhor as políticas sociais”, diz.