Domingo, 22 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 9 de novembro de 2015
“Eu não quero morrer. Para morrer, eu prefiro morrer em casa.” O desabafo, feito no WhatsApp, é da técnica em enfermagem do Hospital Estadual Adão Pereira Nunes, em Duque de Caxias, no Rio, Elizangela Medeiros, 35 anos. Ela morreu três dias depois da gravação. Segundo funcionários e amigos com quem ela trabalhava na unidade hospitalar, Elizangela gravou o áudio minutos após deixar o trabalho, onde foi atendida e mandada para casa, apesar das dores no peito e da falta de ar.
Denúncia de negligência.
Ela morreu na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) de Edson Passos, onde chegou com os mesmo sintomas. Com um tom de voz aparentando muito cansaço, Elizangela contou na gravação o drama que viveu no hospital. No áudio, com quase 2 minutos, ela reclama do atendimento. “Quando eu cheguei pela manhã, o doutor Sebastião me fez [aplicou] um Diazepam e disse que eu estava com uma crise nervosa e eu estava dispneica, cansada, pálida, sem conseguir falar… Foi como se eu não tivesse nada, fosse frescura… E pra ficar internada para esses médicos fazerem pouco caso, me tratar como um lixo… eu trato os pacientes como prioridade”, denunciou.
Protesto.
Revoltados, os funcionários fizeram um protesto em frente ao hospital. Segundo eles, ela foi atendida pelo clínico de plantão, identificado apenas como Sebastião. “Ela estava passando muito mal, mas o médico disse que ela estava tendo um ‘piti’, que ela não tinha nada, a mandou para casa e ela morreu sentada numa cadeira da UPA esperando atendimento. Isso é um absurdo. Queremos uma resposta, caso contrário vamos parar de trabalhar”, disse um funcionário, que não quis se identificar temendo represálias. “Trabalhei com ela por anos, era uma grande amiga, profissional dedicada”, contou.
Resposta oficial.
A assessoria de imprensa da Secretaria Estadual de Saúde informou que Elizangela recebeu atendimento. Segundo a nota oficial do órgão, exames constataram pressão arterial levemente alta e taquicardia discreta. De acordo com assessoria, ela ficou em observação até apresentar quadro estável e receber alta médica.
Porém, a direção do Hospital Estadual Adão Pereira Nunes está apurando se houve algum desvio de conduta por partes dos profissionais que a atenderam. Ainda de acordo com a assessoria, caso as denúncias sejam comprovadas, serão aplicadas as punições cabíveis. Sobre o atendimento na UPA, a assessoria informou que Elizangela já chegou à unidade em parada cardíaca e que foram feitas manobras de ressuscitação, mas ela não resistiu. (AD)